Chico Science

Músico batiza crustáceo

Chico Science vira inspiração para nova espécie de crustáceo descoberta no litoral pernambucano.

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Chicosciencea pernambucensis é uma espécie e gênero totalmente nova entre os crustáceos.

Um estudo realizado por pesquisadores das Universidades Federais de Pernambuco e do Rio Grande do Sul (UFPE e UFRGS) sobre a diversidade de camarões em duas localidades da costa pernambucana (praia dos Carneiros e Suape) descobriu uma espécie e gênero totalmente novos entre crustáceos. Por ter sido descoberto em Pernambuco, os pesquisadores resolveram prestar uma homenagem ao cantor e compositor Chico Science, um dos idealizadores do movimento Manguebeat, morto em 1997, em um acidente de carro.

Como a descoberta foi feita não apenas de uma nova espécie, mas também de um novo gênero, que é a classificação acima das espécies, tanto o artista quanto o estado foram lembrados. Chicosciencea pernambucensis foi o nome escolhido, tendo Chico Science como inspiração para o novo gênero e Pernambuco para a espécie encontrada.

“Desde o primeiro momento já surgiu a ideia de homenagear de alguma forma o Chico Science, por ser uma espécie encontrada aqui em Pernambuco. E não só isso, a gente sabe que os crustáceos – e em especial os caranguejos, que são parentes dos camarões – influenciaram muito o Manguebeat”, explicou Alexandre Oliveira de Almeida, professor do curso de ciências biológicas e do programa de pós-graduação em biologia animal da UFPE, um dos pesquisadores envolvidos na descoberta. “Essa influência do Chico Science eu já trago há mais de 20 anos. Enquanto estudante de biologia já conhecia Chico em Porto Alegre, quando estudava na UFRGS”, contou o professor.

A pesquisa

O estudo com a biodiversidade de camarões na costa pernambucana teve início no ano de 2017, com o início de um projeto de pesquisa do doutor Gabriel Lucas Bocchini, da UFPE, financiado pela Facepe. Em parceria com os pesquisadores Alexandre Oliveira de Almeida , Andressa Maria Cunha (ambos da UFPE) e da pesquisadora Mariana Terossi, da UFRGS, a pesquisa passou a mapear as espécies em duas localidades. A região de Suape, mais impactada do ponto de vista socioambiental; e a Praia dos Carneiros, local mais ambientalmente preservado.

“Nosso trabalho de pesquisa lá no laboratório de biologia de crustáceos é principalmente focando a biodiversidade de camarões, na costa pernambucana e nordestina. Nós fazemos projetos visando catalogar essa fauna. O projeto era fazer um inventário dos camarões existentes nessas duas áreas e comparar as duas localidades”, explicou Alexandre.

Chico Sciense é um dos precursores do movimento Manguebeat.

Os camarões foram coletados por armadilhas colocadas entre 4 e 5 metros de profundidade, que ficavam armadas de três a quatro meses. Por serem minúsculos, apenas seis exemplares da nova espécie foram coletados ao longo dos três anos de pesquisa. “É um animal bastante raro e é difícil de capturar, inclusive por causa do tamanho pequeno. No momento ele só é conhecido em Pernambuco, provavelmente deve existir em outras localidades do Nordeste, mas até agora só foi encontrado aqui. É um trabalho extremamente minuncioso”, afirmou o pesquisador.

Novo gênero

No primeiro momento, os dados da pesquisa do professor Gabriel indicavam que a pesquisa tinha uma nova espécie na mão. Posteriormente quando foi feita a análise genética no laboratório da UFRGS ficou constatado que eles tinham descoberto não só uma nova espécie, mas um novo gênero, que é uma categoria superior às espécies na classificação biológica

“Quando nós chegamos a conclusão que nós tínhamos um gênero na mão, a ideia foi não batizar apenas a espécie, mas batizar o novo gênero. A gente, então, usou o nome de Chico Science. O nome ficou mais complicado porque tem que seguir algumas normas de nomenclatura na hora de nomear as categorias. E a espécies, que é a segunda parte, ficou Pernambucences, fazendo referência ao fato desse animal ter sido coletado na costa de Pernambuco”, contou Alexandre. Ele disse que a sugestão foi aceita por todos os pesquisadores, sem divergências.

Falta de apoio à pesquisa

Apesar do feito, Alexandre Oliveira aproveitou a oportunidade para pedir mais incentivo em relação à pesquisa. “A gente que faz pesquisa precisa muito do apoio da sociedade. Esse tipo de divulgação é muito bom porque chega ao grande público. É algo muito importante porque é divulgação científica. A gente sofre muitas dificuldades no Brasil para fazer esse tipo de trabalho”, relatou.

“É uma informação importante para que seja feita a aplicação desse conhecimento, que e na biologia aplicada, onde são feitas as normas de preservação, por exemplo. Por isso é super importante essa divulgação. A universidade e a pesquisa precisa muito disso. Infelizmente esse tipo de pesquisa vem sofrendo nos últimos tempos com a redução de verbas. Reduziu muito não só para a pesquisa, mas para a educação de uma forma geral”, frisou.

Fonte Folha de Pernambuco