Projeto Jaimanitas

Caminhos para Cuba

Projeto Jaimanitas promove ações de incentivo ao esporte em Cuba.

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A história de Cuba mistura muita beleza e pobreza. Ao mesmo tempo que a ilha possui belas praias, com ondas incríveis, a prática do esporte ainda é controversa por lá. Em um passado recente, o governo local temia que seus moradores fugissem pelo mar, já que a Flórida fica a apenas 166 quilômetros de distância. Para se ter uma ideia: atualmente são 11 milhões de moradores cubanos. Destes, 2 milhões migraram para outros países nos últimos 50 anos.

Desde o embargo que o país sofreu dos Estados Unidos, para onde 80% dos fugitivos iam, os esportistas precisam produzir suas próprias pranchas, que, muitas vezes, são simples pedaços de madeira. Fora isso, além de não dar incentivo algum para os surfistas, o regime socialista vê o surfe como algo marginal, o que fez com que grande parte da população absorvesse este preconceito.

Em agosto de 2017, em uma viagem para a ilha, a Oric Surfboards conheceu o surfista Gaston Hernandez Pomares. Vendo o talento do cubano e as condições precárias em que ele surfava, o dono da marca, Guilherme Paz, viu a chance de mudar mais que uma vida e mostrar que é possível um novo caminho por lá. Foi aí que ele se tornou mais um Atleta Oric e entrou para um grupo de amantes do esporte formado por nomes como Paulo Zulu, Pâmella Mel e Gustavo Borges

“A cada dia Gaston se destaca em Havana com sua prancha Oric. Levamos equipamento completo para ele na última vez que estivemos lá. E ele está fazendo acontecer. Inclusive, fizemos uma escolinha de surfe em Cuba e ele vestiu a camiseta. Dá aula para quem quer aprender a surfar e a cada dia descobre jovens que podem se tornar os próximos profissionais. É o esporte como agente de mudança social. Foi daí que nasceu o Projeto Jaimanitas”, avalia Paz.

A praia que leva o nome do projeto e onde Gaston aprendeu a amar o surfe, tem o acesso proibido. Ele entra lá com a ajuda de um vizinho, que tem sua casa em frente ao mar, já que o governo não permite que ninguém pratique esportes no local.

O Projeto Jaimanitas quer transformar o surfe em uma paixão. Despertar nos cubanos tudo de bom que o mar, as ondas e a praia podem proporcionar aos atletas. A missão inicial é mostrar que surfe não é um esporte marginal, tanto é que virou esporte Olímpico. Aprovado pelo COI (Comitê Olímpico Internacional), os jogos de verão de Tóquio serão os primeiros a contar com a modalidade.

Outro ponto forte do documentário será a história de Javier Morales, de 37 anos, com quem Guilherme Paz e toda Oric trabalham diariamente e descobriram tudo o que se passa em Cuba. Responsável pelo acabamento das pranchas na empresa, ele mora em Porto Alegre há quase uma década e não vê sua família desde então. Os papos entre Morales e a equipe sempre esbarram em como a situação por lá é deprimente e como eles possuem tudo para se tornarem uma das referências no surf. Uma das propostas principais do documentário é promover o reencontro entre Javier e sua mãe, que quer conhecer seu neto e nora.

No documentário, quem também estará presente é o surfista carioca e praticante de kiteboarding Léo Chinês, que vai surfar junto com os cubanos. A Oric vai explorar Havana e seus arredores em busca de ondas. A previsão para o lançamento do documentário ainda não foi definida, mas a equipe da Oric volta a todo vapor e com a certeza de que estão propagando bem a prática do surfe. Quem sabe daqui há alguns anos o que era marginal se transforme em uma medalha olímpica, afinal o surfe é, literalmente, para todos!

Relatos dos 15 dias em Cuba

Em Havana, já começaram as dificuldades com as autoridades no aeroporto, que logo suspeitaram da equipe Oric e revistaram com cachorros as parafinas e equipamentos levados, afinal, ainda existe o preconceito com o surfe nas terras caribenhas.

Em Jaimanitas, quando chegaram à casa de Gaston, presenciaram o Cubano fazendo uma prancha a partir de uma espuma de geladeira para as crianças que ensina pudessem surfar.

“Eu fiquei boquiaberto com a situação, nunca havia presenciado alguém shapear com aquelas condições, foi impressionante ver a vontade de surfar deles, a partir de uma espuma de geladeira, ele criou uma prancha, foi incrível e obviamente, registramos o momento com as câmeras”, diz Guilherme.

Todas crianças que aprendem surfe com Gaston, se reúnem em sua casa e só podem surfar, caso estejam indo bem na escola. Gaston sabe a dificuldade de sua cultura e não quer apenas ensinar o surfe, mas também como serem pessoas melhores e responsáveis, o esporte também se trata de disciplina.

“O povo cubano, não tem dificuldades apenas no surfe, mas na vida. Esses quinze dias que passamos por lá, foram difíceis principalmente na parte da alimentação, é muito difícil encontrar comida boa qualidade, geralmente só encontrávamos pão e embutidos, tivemos a oportunidade de comer ovo uma única vez durante toda a viagem e por sorte ainda. Em cuba todos os produtos são extremamente controlados e caros, sem dúvidas, me fez sentir muita falta do Brasil”, desabafa Guilherme.

A equipe também proporcionou às crianças, um campeonato lúdico, para que pudessem distribuir as pranchas entre elas e desfrutar das habilidades dos pequenos surfistas, o que gerou muita felicidade aos pequenos que surfavam em condições precárias.

Apesar de alguns dias terem problemas com a autoridade em algumas praias, Léo Chinês e Gaston praticaram muito surfe e kitesurf em Jaimanitas, Havana, e a mais perigosa, Varadero, era muito difícil por lá, possuíam muitos corais. Toda a equipe ficou impressionado com as praias e mais ainda, com a falta do incentivo do surfe no local. “Cuba é como Fernando de Noronha, mas sem business”, diz Paz.

Outro ponto forte dessa viagem, foi o encontro de Javier com sua família que já não via há dez anos, houve muitos choros e risadas, um momento extremamente emocionante.

Apesar de dificuldades, a viagem foi um sucesso para equipe Oric, conseguiram ótimas imagens e o mais importante, difundir o esporte por Cuba, ganhando a gratificação de muitas crianças e moradores e até um encontro com Hector Vilar, o apresentador de esportes mais conhecido das televisões pelas terras caribenhas. Os tempos estão mudando e a visão de cuba sobre o surfe aos poucos será mudada, esse País tem um potencial estrondoso para o esporte.

“Cuba é uma terra bela e nostálgica, me lembrei muito de minha infância, no início dos anos 90, pessoas fumando dentro de restaurantes, crianças de colo com seus pais no carro sem cinto de segurança, é até estranho lembrar disso (risos)”, diz Guilherme sobre Cuba.