Museu do Surfe

A trajetória de Almir Salazar

Gabriel Pierin, colunista do Museu do Surfe, fala de Almir Salazar, irmão do meio dos ícones Lequinho e Picuruta, filhos pródigos do Seo Bigode, família lendária de Santos (SP).

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O segundo dos três filhos de Alexandre e Adair, nasceu em Santos, no dia 25 de agosto de 1958. A mãe aproveitava o intervalo dos seus afazeres para levar o pequeno Almir para brincar na praia. A família morava numa casa a duas quadras da praia, na vilinha da rua Particular Alfredo Ximenes, ao lado da linha férrea. Os Salazar eram vizinhos de Silvério e Zé Moréia, outros ícones do surfe santista.

Almir Salazar ficava fascinado pela praia, especialmente pelo canal que cortava a areia até o mar, num tempo em que ainda não existia o Quebra-Mar. Era no Canal 1 que os irmãos Salazar se divertiam pegando suas primeiras ondas. O pai, vendo a empolgação da molecada, decidiu investir.

Em 1968, “seo” Bigode tomou a iniciativa e comprou um longboard Glaspac muito
velho, por 100 cruzeiros. Os irmãos passaram a dividir as ondas com outros surfistas que
frequentavam e eram referências no Canal 1, entre eles, Luiz Zé, Marcos “Tubo”, Homero e
Oracio Cocada.

Os campeonatos que aconteceram em Santos foram marcantes na trajetória de Almir,
especialmente os torneios de 1975, 76 e 77, organizados por Carioca e Zanetti. Ele venceu o Nacional Aberto do Quebra-Mar de 1975, e, no ano seguinte, em 1976 – com a presença dos surfistas cariocas Rico de Souza e Daniel Friedman, e até de um havaiano, Keone Downing – Almir repetiu o feito, garantindo o bicampeonato. Em 1977, terminou na segunda colocação. O santista também mantém o título de único tetracampeão paulista profissional (1980/81/82/83) da história. Ele ainda voltaria a conquistar o topo estadual em 1986 e 1987.

Um dos fatos mais inusitados em competições ocorreu nas águas vizinhas. Em São Vicente,
Almir disputava uma bateria do Circuito Vicentino (1998-99) com outros três atletas.

Naquela altura, quando faltavam cinco minutos para finalizar a bateria, Almir pegou uma onda e a cordinha estourou. O mar estava grande e não ia dar tempo de nadar até o raso para resgatar a prancha e tentar uma última onda. O competidor não teve dúvida: pediu a prancha para um dos surfistas que estava próximo e dropou a derradeira onda que rendeu a conquista da bateria.

Quem estava na areia ficou sem entender nada.

Almir sempre foi muito ligado às pranchas e acompanhar a evolução na mudança de materiais – da madeira para a fibra de vidro – e no encurtamento dos velhos pranchões, foi fascinante. Nos anos 1990, apareceram as máquinas que facilitaram o trabalho. Para Almir, tudo evoluiu no surfe, mas a transformação das pranchas foi marcante, tanto que o surfista empreenderia na fabricação delas o seu próprio negócio. No final dos anos 1970, Almir montou sua primeira fábrica na famosa vilinha. Já nos anos 1980, ele montou a segunda no Morro da Divisa e, finalmente a terceira, em São Vicente, quando surgiu a New Advance Surfboards, em 1987, junto ao Sérgio “Pro-Glass”, parceria que existe até hoje.

Almir conheceu vários picos ao redor do mundo e desbravou outros tantos. Um deles, numa trip inesquecível para o sul de Portugal, na região de Algarves, descobriu Ponta Ruiva, próximo a Portimão, ainda desconhecido pelos brasileiros. Durante os cinco anos em que viveu nas terras lusitanas, onde era shaper da Polen Surfboards, tornou-se o primeiro campeão de surfe profissional português (1992) e vice-campeão europeu (Circuito EPSA). Na categoria Longboard, o santista foi bicampeão português (1992-93).

Toda sua carreira de sucesso no surfe se deve principalmente ao início da sua trajetória, em especial ao apoio do pai, Alexandre Bigode, que arriscou tudo por acreditar no sonho e no potencial dos filhos. A morte do irmão mais velho também foi um divisor de águas, já que Lequinho era um alicerce e uma inspiração para os irmãos Salazar.

Almir é casado com Tenyle Salazar e tem cinco filhos: Thiago, Christian, Fabrício, Mariana e
Almirzinho. Aos 64 anos de idade, segue surfando e fabricando pranchas de alta qualidade.

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Coordenador de pesquisas históricas do surfe @diniziozzi – o Pardhal