Leitura de Onda

O surfe é a cura de Fukushima

Tulio Brandão reflete sobre cenário do surfe no Japão e contexto da modalidade nas Olimpíadas.

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Um terremoto, um tsunami e um acidente nuclear na usina de Fukushima não bastaram para desanimar os surfistas locais de Kitaizumi, um dos melhores picos do Japão, na região de Fukushima, que oferece ondas bem consistentes a menos de 30 quilômetros dos reatores da planta nuclear.

Realizar os Jogos Olímpicos na região teria sido a história perfeita da reconstrução.

Embalados por medições de radioatividade dentro dos limites e pela abertura das praias há dois anos atrás, a comunidade local investiu forte na ideia de receber o surfe olímpico e, com isso, começar uma nova história de espiral positiva, deixando para trás a sombra da contaminação radioativa ocorrida em 2011.

A ambição era ser a sede da estreia do esporte nos jogos inspirados por Pierre de Coubertin e, por tabela, tornar-se a principal surf city do Japão.

Não haveria remédio melhor para o trauma nuclear.

Mas, como desgraça pouca é bobagem, surgiu a pandemia de COVID-19, que ampliou significativamente o risco sanitário das Olimpíadas e, por consequência, jogou uma pá de cal na ideia de fazer a prova de surfe perto de uma zona contaminada.

Em cima da hora ainda surgiu um bônus às avessas, na esteira da escolha errada de plantas nucleares: em abril, o Japão anunciou a intenção de lançar mais de 1 milhão de toneladas de resíduo radioativo tratado da planta de Fukushima no mar.

O governo alega que precisa tomar a medida, que chamou de “uma solução realista”. O despejo começará a ser feito em dois anos e deve ser encerrado após 40 anos.

Italo Ferreira faz o reconhecimento da arena escolhida para o surfe nas Olimpíadas.

A prova, que começa neste sábado, será realizada na insossa Praia de Tsurigasaki, perto de Tóquio, com ondas quase sempre pequenas e esfareladas.

Um tufão, mais um entre tantos fenômenos da natureza que assustam japoneses, ironicamente é a grande esperança dos surfistas olímpicos. Se um tsunami trágico tirou as chances de a competição ser realizada no melhor pico do Japão, um tufão pode salvar a experiência do esporte em sua estreia olímpica.

Nessa história toda, onde estão os surfistas de Fukushima? Continuam dentro d’água.

“Fukushima significa ‘ilha feliz’. Eu acredito que seja. Fico contente de ter nascido neste lugar, cheio de natureza e ondas. Em Fukushima, temos as melhores ondas do Japão. Todos nos divertimos por aqui.”, diz o surfista Shigenori Suzuki, em depoimento ao vídeo sobre a região, disponível no site oficial dos jogos.

Eles sabem que o surfe cura.

Nota da redação: Recomendamos a ativação das legendas em português no próprio YouTube.