Icaro Cavalheiro

Transgêneros na categoria feminina?

Icaro Cavalheiro traz médico para refletir sobre decisão da WSL de incluir atletas transgêneros na categoria feminina. Qual a sua opinião sobre o assunto?

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Sasha Jane Lowerson foi a primeira mulher trans a participar de uma competição profissional de longboard e venceu o evento.

Há algumas semanas atrás a entidade que rege o surfe profissional em nível mundial tomou a decisão de incluir os atletas transgêneros na categoria feminina, o que gerou muita polêmica e descontentamento em vários atletas ao redor do mundo. Segundo a entidade, a medida foi tomada tendo em vista que o surfe se tornou um esporte olímpico, e para fazer seguir as regras do COI, decidiram incluir os transgêneros na modalidade.

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Atletas como Bethany Hamilton, Barton Lynch, Shane Dorian, dentre outros, se manifestaram nas redes socias com posições contrarias às tomadas pela entidade. As opiniões foram as mais diversas e todas precisam ser respeitadas.

Por isso convidamos para um papo de surfista para surfista no meu canal do YouTube o renomado Doutor Pedro Luiz Guimaraes (Diplomado in Sports Medicine pelo Comitê Olímpico Internacional (COI), pós-graduado em Nutrologia pela USP-Ribeirão Preto, pós-graduado em Medicina do Exercício e do Esporte e Fisiologista do Exercício), para falar sobre o tema de forma que pudéssemos enxergar o assunto de um ponto de vista mais científico.

Então, o que é um atleta transgênero? Atleta transgênero é aquele que não se identifica com o gênero ao qual foi designado(a) no nascimento.

Atletas transgênero podem ter vantagens competitivas sobre atletas cisgênero? Segundo estudos relatados em nossa entrevista, as mulheres transgênero perderão força se sofrerem supressão de testosterona. No entanto, as mulheres trans manterão, em média, vantagens de força mesmo após a terapia hormonal quando comparadas às mulheres cisgênero (cis é a pessoa que se identifica com o gênero com o qual foi designada no nascimento).

De acordo com Miley-Dyer, a liderança da WSL, incluindo ela mesma, e o diretor médico da WSL, dr. Allan MacKillop, tomaram a decisão em conjunto sobre política para transgêneros.

Ou seja, tratamento hormonal irá inibir, mas não eliminará as vantagens que as mulheres trans ganham ao passar pela puberdade masculina, apesar de que é obrigatório, segundo o COI, que o nível de testosterona de atletas trans não ultrapasse 10 nmol/L (nanomol por litro) por no mínimo os 12 meses que antecedem a sua primeira competição, e que assim sejam mantidas pelo restante do tempo pelo qual competirem.

Também ficou decidido, após o último encontro do Comitê Olímpico Internacional, realizado em 21 de novembro de 2021, que todos atletas trans serão monitorados pelo comitê durante toda a carreira.

Algumas propostas buscar criar uma categoria exclusiva para atletas trans, mas ainda não se sabe seus números exatos no surfe, em seus diferentes níveis e categorias. Na verdade os números são baixos e ficaria difícil a realização de um evento ou categoria exclusiva para este grupo. Não somente no surfe, mas nos demais esportes também.

Outro questionamento é se as mulheres trans podem tirar o espaço das mulheres cis nos esportes. Pouco provável, levando em conta de que nos jogos Olímpicos de Verão de Tóquio, menos de 30 atletas trans competiram num total de 11.363 atletas.

Mulheres cisgênero podem ter desvantagem física em relação às competidoras trans.

Após o termino da live com o Dr. Pedro, vários comentários surgiram sobre o assunto. Um ponto colocado foi para imaginarmos, hipoteticamente, se um atleta campeão mundial da categoria masculina resolvesse mudar de gênero, seguir todos os pré-requisitos do COI e, em dois anos por exemplo, retornasse às competições na categoria feminina. Como vocês acreditam que seriam os resultados de um Kelly Slater, Gabriel Medina, John John Florence competindo contra as mulheres? Acredito que as vantagens seriam enormes, mesmo levando em conta todas alterações hormonais, redução da massa muscular e de capacidade aeróbica já comprovadas por estudos científicos.

Estamos em tempos modernos, frente a paradigmas naturais e ideológicos, opiniões e princípios que temos que respeitar. Todavia, com muito cuidado para não ser transfóbico ou preconceituoso. A decisão pode criar um desnivelamento competitivo injusto para as mulheres, uma vez que afeta todo um grupo de surfistas profissionais que, na minha opinião, deveriam ser ouvidos. É necessário que a entidade crie um debate, antes de serem tomadas tais decisões unilateralmente.

Fica aberto este canal para debatermos sobre este assunto tão delicado e polêmico envolvendo o surfe e os atletas transgêneros. Qual a sua opinião sobre o tema?

Agradecimentos especiais ao Dr. Pedro Luiz Guimarães e ao SID (surfinformationdata).