Espêice Fia

Noronha não falha

Como diretor de prova do Hang Loose Pro Contest realizado em Fernando de Noronha, a missão era colocar a galera nas melhores condições possíveis do mar.

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Fábio Gouveia comanda o show de surfe durante o Hang Loose Pro Contest na Cacimba do Padre, Fernando de Noronha (PE).

Ser diretor de prova do Hang Loose pro Contest não é tarefa tão simples. Ou melhor, pode ser simples caso o encarregado queira tocar o evento in loco desde o primeiro dia da janela do período de espera, sem ter aquela responsabilidade com os competidores.

Como acredito que para principalmente quem já foi competidor um dia, o mais importante seria aproveitar as melhores condições possíveis, essa é sempre a premissa, colocar as baterias nos melhores momentos.

Mas em se tratando da Cacimba do Padre, uma praia pequena e com enormes saídas d’água durante seus dia de onda, inevitavelmente terão momentos clássicos e momentos ruins. E assim vamos fazendo a visão atrelada à previsão.

E, por falar em previsão, as que antecederam a semana histórica estavam mesmo fortes, a fim de botar muita lenha na “máquina”. Os gráficos marcavam 8 a 10 pés, com series maiores no meio da janela. E foi o que que presenciamos.

Optamos por começar no primeiro dia com ondas na faixa de meio a 1 metro. No entanto, perfeitas em muitos momentos. Algumas reclamações paralelas de alguns poucos atletas, mas no final do round e no dia seguinte com altas ondas, vimos que decisão foi acertada.

Luan Hanada num dos dias épicos do Hang Loose Pro Contest na Cacimba do Padre.

Linda manhã de quarta feira e a Cacimba do Padre se mostrou na medida, com notas altas e tubos lindos. Infelizmente, como já falado, evento em Noronha “não é fácil”, uma queda de energia nos atrapalhou em alguns momentos.

É sempre muito ruim quando uma bateria precisa ser paralisada ou quando chamamos os atletas para pegarem as lycras e alguma coisa sai do contexto, e temos que deixá-los esperando naquela ânsia de entrar na agua.

Mas, são nestes momentos que os atletas fortes de mente saem na frente. As adversidades estão da mesma forma para todos. E aquele que melhor lidar com isso já tem uma segurança em seu favor.

Na quinta-feira, estava para entrar a bomba e realmente entrou. Veio forte, grande e pesado. Com certeza, vi séries de 12 pés plus. Não entrei na agua para averiguar as condições pessoalmente, mas de fora a análise era de que aquele dia de disputas seria uma loteria.

Em checagem com comissão técnica e atletas, decidimos passar a chamada pro dia seguinte, dando o day off. De quebra, os atletas puderam treinar à vontade, com direito a transmissão ao público.

Que fique bem claro, não paramos a prova pelo fato das condições estarem extremas, e sim pelo fato de haver pontos e colocações de ranking em jogo. 90% dos competidores estavam na água com tranquilidade, mas o que viríamos no dia de disputas seria uma grande oscilação de notas baixas e talvez poucas altas, pois foram poucas ondas na casa do excelente que presenciamos no momento em que estávamos na praia, desde as primeiras horas da manha ao meio da tarde.

Na sexta-feira, o mar baixou um pouco, mas continuou grande e desafiador. Umas três notas excelentes neste dia e o espetáculo aconteceu. E quando o clássico mar era esperado para o sábado, como indicava a previsão, as ondas continuaram fortes em momentos bons e ruins.

Legal de ver a performance e comprometimento de muitos competidores. Alguns bem servidos de material e outros com deficiência, pois até mesmo o swell talvez fora subestimado.

No dia decisivo, os quatro dos melhores surfistas daquela semana estavam nas finais. O jovem Leo Casal e o experiente Marco Giorgio trilharam um belo caminho até ali. O maior conhecedor do pico, o pernambucano Paulo Moura, que vinha com notas excelentes e ótima sintonia, desta vez facilitou a vida de seu oponente, usando um posicionamento que não funcionou, ficando embaixo da laje para esperar uma onda que não veio.

Aliás, ela veio e seria a onda da vitória caso pegasse. Mas, Moura estava a uns 50 metros mais a esquerda do palanque e a onda passou rodando majestosamente. Lucas acabara de pegar a onda da frente, uma intermediária, no entanto surfável.

Surfou o suficiente pra vencer, usou a estratégia de não esperar a melhor onda e deu certo. Sua 6’4” estava totalmente encaixada em seu pé e, ao meu ver, entre vários gladiadores venceu o que melhor estava se apresentando e mais preparado para aquelas condições. O geral é que o evento foi mais um marco e Noronha, como sempre, nunca nega fogo. Até 2024!