Ilha Grande

Sessão roubada

0

Scooby, Diego, Thiago e Biel encaram roubada na Ilha Grande (RJ). Foto: Divulgação.

Tudo começou com os mapas da previsão apontando um novo swell e tempo ensolarado!

Em um piscar de olhos, nossa barca para a Ilha Grande (RJ) estava armada.

 

Eu, Diego Silva, Thiago Barcellos, Pedro Scooby e, para registrar todos os momentos, o fotógrafo Daniel Smorigo.

Combinamos tudo no fim de tarde, para que no dia seguinte, bem cedinho, pudéssemos partir em direção a Angra dos Reis, onde pegaríamos a lancha para Ilha Grande.

Chegando a Angra, estávamos todos empolgadíssimos, pois as condições pareciam perfeitas. O mar havia subido, o sol estava presente e não havia nenhuma nuvem no céu.

Biel Garcia sobrevoa o pico. Foto: Divulgação.

No caminho para Ilha Grande, colocamos o Ipod pra tocar e contávamos os segundos pra gente chegar logo e entrar na água. A vibe estava perfeita. Chegando no Aventureiros, nem esperamos a lancha parar no pier. Pulamos direto e remamos como loucos para surfar, enquanto Smorigo caminhava para o melhor lugar para fotografar.

Depois de três horas de surf, sem crowd, só entre amigos e com ótimos momentos registrados, resolvemos sair para dar uma descansada e comer alguma coisa antes de retornarmos a Angra, mas as coisas estavam mudando.

O tempo começou a ficar bem fechado, o sol, que estava brilhando, a essa hora já estava longe, mas nada que tirasse o sorriso de satisfação de nossos rostos.

 

Arrumamos nossas coisas,colocamos no “pier” e ficamos esperando a lancha para podermos embarcar. Enquanto isso, ficamos brincando com um pequeno caíco, tentamos remar um pouquinho, mas não fomos felizes.

Entramos na lancha e, em menos de 5 minutos, o mundo parecia que ia acabar. Uma chuva torrencial havia nos alcançado, mas, como disse antes, nada conseguia tirar a satisfação dos nossos rostos, até que, de repente, o marinheiro da lancha pede para que alguns de nós passasse para a frente da lancha. Não entendemos muito bem o porquê, mas fui lá pra frente, afinal, o marinheiro era o capitão.

Mais 10 minutos de viagem e o pior acontece. A lancha para no meio do mar, sem ninguém por perto, em um local tão isolado que nem o rádio da lancha pegava. Estávamos à deriva, contando com a ajuda de Deus.

 

Com cara de assustado, o marinheiro pede para que eu, Diego e Thiago fôssemos buscar ajuda na praia mais próxima, que a essa hora, estava a mais ou menos uns cinco ou seis quilômetros de distância.

Deixamos tudo na lancha e pegamos somente nossas pranchas. Scooby e Smorigo ficaram na lancha, esperando a ajuda que iríamos tentar conseguir no Aventureiros. Enquanto isso, eu, Diego e Thiago íamos conversando e remando, para que fosse uma tarefa um pouco mais fácil.

 

##

Diego Silva decola de backside. Foto: Divulgação.

Depois de 15 minutos de remada, olhamos para trás para ver o nosso progresso e não avistamos a lancha. Pensamos que o marinheiro tivesse conseguido resolver o problema e ficamos esperando ele vir nos buscar, mas o tempo foi passando e nem sinal da lancha! Paramos, sentamos na prancha, olhamos um para o outro com olhar de “E agora??”.

Cogitamos a ideia de a lancha ter afundado com todos os nossos pertences e os outros, mas não queríamos acreditar que aquilo tudo estava acontecendo com a gente, depois de um dia tão “perfeito”.

 

Depois que a ficha caiu, começamos a remar como desesperados em direção à praia, pois não sabíamos se o resto do pessoal precisava de ajuda.

Thiago Barcellos também entra na onda do ataque aéreo. Foto: Divulgação.

Depois de uma hora de remada intensa, com mar grande, correnteza e chuva absurda, chegamos à praia. Eu já estava fraco, Diego e Thiago exaustos, mas juntamos o resto de nossas forças e pedimos ajuda para os pescadores locais. Todos eles vieram correndo e avistaram os outros.

Pegaram o caico que mencionei anteriormente, e eles em três remaram naquele caico minúsculo – uma missão quase impossível – até o barco grande, para então resgatar o resto do pessoal. Passado o susto, voltamos à praia e ligamos para Angra, para pedir que fossem nos resgatar.

Não tínhamos mais nada. Perdemos nossas mochilas com tudo – celular, carteira, dinheiro, documentos, roupas!! Ficamos mais duas horas esperando que a lancha do resgaste chegasse, enquanto passávamos um frio intenso, fome e um cansaço absurdo.

No caminho de volta a Angra, todos estavam em choque ainda, não acreditando que isso tudo acabara de acontecer com a gente. Como não tinha lugar dentro da lancha pra mais um, acabei indo do lado de fora, pois eu era o único com roupa de borracha.

Para piorar tudo, cheguei a Angra com hipotermia, tendo que tomar um banho fervendo e dormir completamente agasalhado. Passado o susto, nos recuperamos e contávamos para os outros o que acabara de acontecer. Depois de repetir a história umas 30 vezes, descobrimos que o lugar tem muito tubarão e é um dos lugares mais perigosos da Ilha Grande.

 

Até hoje, ninguém sabe o que rolou com a lancha. O marinheiro disse que tinha entrado muita água e a bomba não estava dando vazão, mas ninguém sabe por onde estava entrando a água. Ela afundou em 20 minutos. Foi para o fundo e ninguém mais a encontrou.

 

Graças a Deus não vimos nenhum, nada de ruim aconteceu conosco e voltamos novamente para nossas casas, agradecendo a Deus por ter nos livrado desse sufoco inesquecível.

Pelo menos agora temos história para contar para nossos filhos e netos e para vocês, leitores (risos). Não poderia deixar de agradecer a todos os locais que nos ajudaram. Muito obrigado! Essa foi nossa roubada histórica.