Espêice Fia

Legends em Olivença

0

Na feriado da Semana Santa, os masters da CBS se encontraram na praia da Batuba, em Olivença, Ilhéus (BA). O couro já vinha comendo desde Fernando de Noronha, onde a expectativa por boas ondas era imensa. Mas, tal como no Havaí brasileiro, na Batuba também só rolou marola. ??

“O presidente da entidade, Adalvo Argolo, tem que se benzer!”, diziam alguns. E eu ampliava: “Rapaz, na real todos nós, pois estamos todos no mesmo barco”. De fato a galera não tem tido sorte, pois sempre o swell entra antes ou depois do evento, tal como em Noronha, quando ma segunda e terça-feira posterior e no domingo anterior, o mar esteve clássico. ??E onda pequena fica mais difícil de mostrar o surf que fez fama para muitos dos atletas que correm este circuito. Alguns, com peso acima do ideal, têm que se virar em um equipamento que possibilite algumas boas aceleradas.

Lembro em uma determinada manhã, durante os treinos, quando o Grand Kahuna Odaltro de Castro reclamava de sua prancha 5’8”: “Rapaz, tô preso, vou buscar a outra que tem mais área”. ??As ondas estavam bem pequenas e só assim mesmo pra poder se sobressair.

Eu tinha feito uma 5’6 especial pro evento. Larga, grossa, bico e rabeta larga também. Deu certo, consegui a vitória na Grand Master em uma disputada bateria contra Marcelo Alves, Jojó de Olivença e Maurício Bandeira, que também tinha uma 5’6” com vinte polegadas de meio e usando quadriquilhas com estabilizador. ??Jojó também é adepto das quadri e está sempre colhendo os frutos, pois mais uma vez venceu a categoria Kahuna, com idade entre 45 e 50 anos.

Nesta final, Jojó bateu o carioca Sérgio Noronha, o cearense Cardoso Junior e o baiano Adalvo Argolo (ó o presidente competindo, rapaz!), que, aliás, acabou não participando desta final por uma distensão na coxa. Adalvo, que também já foi Top da Abrasp na década de 80, havia se classificado também para a finalíssima da Grand Kahuna, e também acabou deixando o caminho aberto para Mickey Hoffman, Edu Elias e Barrão, que carregava uma grande torcida. ??

Nestas etapas com marolas, sempre sai um machucado. Penso que o esforço pra conseguir velocidade para um boa execução de manobras seja alto. Mas na turma entre 35 e 40 anos, ou seja, rapazes ainda masters mirins (risos), ainda não vi estes lances de contusão. Quebradeira mesmo, só nas ondas.

Na Batuba, o baiano Jerônimo Bomfim deu o ar de sua graça pra vencer Pedro Lima, Marcelo Alves e Luli Alves. ??Fazia tempo que não via Jerônimo e foi emocionante ver que seu surf está em dia e que continua muito veloz. Na entrega de prêmios, o locutor Marcos Bukão lembrou de antigos confrontos entre Lima e Bomfim, que também teve participação em um Mundial de times. Foi emocionante. ??

Puxando mais uma vez o assunto das marolas, a escassez de ondas causa muitas vezes mais disputas, logo pequenos duelos e reclamações mais constantes acabam acontecendo. Nesta etapa, reclamações por notas e interferências foram vistas com certa constância e era engraçado ver algumas vezes alguns marmanjos com cara de poucos amigos. Mas a competição é pra ficar apenas na água, pois fora dela todos nós somos uma grande família, afinal, os masters são senhores e cabe aos senhores respeito e boa conduta. ??

Diz a lenda que mais uma etapa poderá acontecer. Onde ainda não sabemos, mas rumores ficaram por conta do Norte do país. Mesmo se houver outra etapa, alguns atletas já constam como campeões. Pedro Lima na Master, eu na Grande Master e Jojó na Kahuna. ??Já  Mickey Hoffman segue como líder da Grand Kahuna, seguido pelo competitivo Edu Elias. Nesta categoria, a briga está boa, pois ambos surfam muito e apenas um poderá representar o Brasil no Mundial de equipes da ISA, que ainda não tem data, nem local definido para se realizar.

Nas demais categorias, participam dois atletas cada e o time com certeza está forte. ??Pena não termos uma categoria Feminina, pois nos mundiais sempre precisamos efetuar um convite para que uma atleta agregue-se ao time. E esse é um fator a se pensar, pois o surf feminino brasileiro está em baixa, sem investimentos. E isso acarreta em consequências nas medalhas, pois um time completo e forte em todas as categorias é meio caminho andado pro “ouro”. ??

Essa fase sem investimentos no surf feminino acarretará em um grande buraco entre gerações, uma pena, pois já tivemos e temos ótimas atletas cujas carreiras estão passando sem que tenham um respaldo para dar continuidade à evolução.

Fábio Gouveia
Campeão brasileiro e mundial de surfe amador, duas vezes campeão brasileiro de surfe profissional e campeão do WQS em 1998. É reconhecido como um ícone do esporte no Brasil e no Mundo. Também trabalha como shaper.