Jaws, o desafio para um boardrider

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Luis Roberto Formiga encara a esquerda de Jaws como parte de sua evolução como boardrider. Foto: Marcelo Dada / Gzero.
Nos últimos 25 anos minha principal missão tem sido aprender e aperfeiçoar os diferentes esportes de prancha. Nos anos 70 houve o início do surf na minha vida. Isso pegou forte.

 

Aos 10 anos eu mal conseguia levar sozinho minha prancha para a praia. Dos 13 aos 17 minha cabeça só pensava em traduzir as linhas do surf para as ondas de concreto nas pistas de skate.

 

Naquela época, o grande lance do skate era  deslizar com o estilo de Larry Betlerman ou Mark Richards, misturando esses estilos com os aéreos e manobras de ponta cabeça que o esporte proporciona.

 

Rebocado por Haroldo Ambrósio, Luis Roberto Formiga sente o que é uma onda extra-bump. Foto: Marcelo Dada / Gzero.
Depois de o esporte skate praticamente desaparecer nos anos 80, a necessidade de continuar procurando desenhar linhas do surf fez eu me dedicar ao air surf, como foi chamado inicialmente a asa-delta, então o mais radical dos esportes para mim.

 

Dessa vez, as batidas eram em curvas, desviando das arvores. Os cutbacks eram feitos na base das nuvens. E entubar, como é chamado até hoje no vôo-livre, quando você voa para dentro da nuvem.

 

Virei especialista em ficar 20 minutos sem enxergar nada, mantendo a cabeça tranqüila para não me desorientar e chegar a mil metros acima da base da nuvem para ter o prazer de sair dessa entubada e ver o planeta lá em baixo.

 

Em primeiro plano, um espumeiro gigante sob você – a nuvem – e aí começa um longo drop até a air wave seguinte, a onda invisível chamada termal.

 

Mas a procura da sensaçåo de surfar nunca foi o suficiente. Novas formas de usar uma prancha em ondas cada vez maiores me deixavam inquieto. Eu tinha que dropar mais e mais.

 

E a melhor opção parecia ser dropar montanhas. Isso mesmo, montanhas geladas. Mas paguei vários karmas nesse surfe gelado. Logo no primeiro dia, pé quebrado no Chile.

 

Depois o mesmo pé estourou na França. De volta ao Chile, os dois braços e a mandíbula explodiram depois de um drop vertical de 25 pés até finalizar de cara no asfalto.

 

Doeu muito e como se isso não bastasse, mais uma cabeçada me colocou para dormir durante 10 horas anos depois.

 

Porém, sem duvida pequei o pé do esporte e adquiri habilidade para mais uma vez reproduzir os movimentos do surf nas montanhas geladas e em qualquer tipo de neve ou inclinação de montanha.

 

Mas o tesão de surfar em outras ondas não dava descanso. Agora era preciso experimentar o surf mais veloz do desse planeta, o sky surf.

 

Caramba, que medo. Dropar de um avião com uma prancha presa aos pés sem equipamento especifico e qualquer tipo de instrução foi o começo  do esporte no Brasil.

 

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Depois de surfar Jaws, Formiga valoriza ainda mais a atitude dos big riders brasileiros. Foto: Marcelo Dada / Gzero.

O gosto amargo e seco na boca, de tanta adrena, induzia pensamentos:

 

‘Pra que sentir esse medo de morrer?’.

 

A resposta é simples: para sentir mais uma vez a sensação de acelerar ao máximo com uma prancha nos pés.

 

Já mais crescidinho, casado e pai de família, comecei com wake board.

 

Aí, o papo era de muito impacto: controlar a prancha em alta velocidade, voar nas marolas e pousar sem dó dos joelhos; wakeboard, boxe – se não quiser levar porrada, sai fora.

 

Para Formiga, surfar Jaws exigiu todo o conhecimento técnico adquirido em várias modalidades. Foto: Marcelo Dada / Gzero.
O wake te dá noção de acrobacia com uma prancha na água, como multiplicar a velocidade usando a tração de um cabo de reboque para super aceleradas.

 

A fusão de tudo que aprendi com pranchas aconteceu no kitesurf. O termo “jogar água” quer dizer muita coisa no surf, e nesse esporte você joga água o tempo todo.

 

A relação da borda da prancha com as quilhas, e o outline, fundo, mais a flutuação, é sentida intensamente, como se fosse uma pós graduação na arte de sentir como funcionam diferentes tipos de pranchas na água, isso em água espelhada, super marolada, ou em ondas.

 

Pois é, meus amigos, a idéia desse texto é trocar experiências e relatar um projeto de três anos que começou com tow-in ao lado de Rodrigo Resende e Garret Macnamara no Guarujá, em merrecas.

 

Logo senti que tudo se mistura dentro da mente em um grande coquetel de experiências. E esse seria o próximo esporte para  reproduzir as linhas do surf, que definitivamente marcaram minha presença nesse planeta.

 

Tubos em Maresias, lajes  no Sul do Brasil, ondas grandes e geladas ao Sul do Chile e Pico Alto, no Peru, foram degraus para um novo objetivo de vida, surfar a onda mais forte do planeta, Jaws.

 

Surfar essa onda é bem mais complicado do que parace. Se fossem somente os riscos de ter os ossos desmontados pela força da onda, ou se afogar em uma imensidão de espuma, esses seriam os riscos óbvios.

 

Mas, entrar no grande prêmio de fórmula 1 do big surf mundial, com os maiores caçadores de ondas gigantes do planeta, todos acelerados pelo prazer de surfar montanhas de água gigantes, e, é  claro que também correr atrás dessas ondas, é correr atrás da fama, glória e do dinheiro.

 

Colisåo de jet ski, pressão no outside, localismo motorizado… imaginem quatro, cinco jets correndo juntos uma onda. Em alguns casos, amizade, respeito e segurança deixam de ser prioridade.

 

E o legal disso tudo é saber que ninguém te coloca nessas ondas por amizade. Você tem que conquistar o respeito e isso não acontece de uma hora para outra.

 

Nas ondas que surfei em parceria com Haroldinho Ambrósio, do Guarujá, senti o que é Jaws. Naquele dia a direita estava cheia de bumps, porém a velocidade da onda continuava um absurdo, ou seja, essa prova de fórmula 1, estava acontecendo em pista esburacada.

 

Cada fração de segundo era analisada para sentir e corrigir os movimentos do corpo a da prancha.

 

A temível esquerda de Jaws estava chamando, um convite para uma possível experiência de terror real, caso seja cometido um erro pelo surfista ou pelo piloto do jet.

 

Cair errado fica difícil para ser resgatado e não dá para tomar a segunda onda na cabeça, é pedra na certa. Surfar essa onda no momento que ela alisou e me mostrou seu ângulo mais bonito me fez pensar no quanto todo esse empenho pode ser transformado na sensação mais nobre do esporte.

 

Quem vê essa batalha para pegar as gigantes de perto aprende a valorizar mais ainda a performance nos tubos de Resende e Eraldo; o backside perfeito de Danilo Couto, Yuri Soledad e outros brazucas que migraram para as ilhas com a missão de surfar ondas realmente fortes.

 

Aprende-se a valorizar caras como Pacelli, que surfou muito e tomou as bombas na cabeça mais fortes entre os brazucas, e também a valorizar principalmente o potencial campeão em ondas gigantes do Brasil, que já é uma tradição, viva Burle.

 

Vale mais um parabéns ao Brasil de Everaldo Pato Teixeira e Sylvio Mancusi, que estavam entrando com prioridade na onda que muitos big surfers consideram a  possível campeã do XXL 2005.

 

Garret McNamara entrou na mesma onda dizendo que iria para esquerda. Na verdade, ele foi para direita, forçando o Pato mais para o rabo e quase se tocaram.

 

Estratégia ou não, Mancusi foi para a onda e Pato a surfou. Se for campeã, essa onda vem com tempero brasileiro.

 

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