Leitura de Onda

As mais belas curvas

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O tipo de curva executada pelo sul-africano Jordy Smith é, normalmente, singular. Foto: © ASP / Kirstin
 

Curvas são mágicas. Representam a mudança de trajetória, o fim de um pensamento linear, a surpresa. Oscar Niemeyer reverenciou seus ângulos. As mais belas mulheres do mundo saíram de seus moldes curvilíneos. Nos caminhos do mundo, elas representam o fim das retas.

 

Ondas são curvas. O vento empurra a água mar adentro, insistente, até que a água entorte, angule, dobre. E, então, o homem é provocado a deslizar em sua parede. Um bom surfista deve saber passear em curvas pelos ângulos, como se fizesse parte daquele objeto.

 

Dessa alquimia entre onda, surfista e curva, nasceu o carving. A prática virou o movimento natural de outros esportes de prancha. Deslizar com uma prancha sobre superfícies – seja água, neve, concreto ou areia – é antes de tudo aprender a desenhar curvas. No snowboard, por exemplo, não há sensação melhor que encravar a faca da borda no powder.

 

De volta ao surfe, o desenvolvimento do esporte tem permitido uma fantástica evolução do carving, com um uso cada vez mais extensivo de bordas. Jordy Smith, este ano, em Bells, ajudou a ampliar os limites desses arcos na polêmica onda nota “quase dez”.

 

O tipo de curva executada pelo sul-africano é, normalmente, singular. Ele combina, com equilíbrio, pressão na rabeta e na borda. Mas, diferentemente da maioria dos tops, Jordy encrava quase toda a extensão da borda de sua prancha na água.

 

Quando isso acontece de uma forma efetiva, como na principal manobra da tal onda polêmica de Bells, a manobra ganha plasticidade, uma enorme potência e muita velocidade. O uso da borda é determinante nessa aceleração – a prancha, angulada, tem menos atrito com a água.

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Adriano de Souza tem se revelado, de frente para a onda, um excelente desenhista de arcos, com boa pressão de bordas e rabetas. Foto: © ASP / Kirstin
 

Do lado brasileiro, Adriano de Souza tem se revelado, de frente para a onda, um excelente desenhista de arcos, com boa pressão de bordas e rabetas. A habilidade inclui o surfista na lista de favoritos em ondas como Bells e J-Bay, onde será realizada próxima etapa do WCT.

Gabriel Medina também mostrou essa habilidade em Fiji, ao conseguir fazer muitas curvas com um bom volume de borda dentro d’água, sem deixar de botar pressão na rabeta.

Muitas vezes ainda há confusão entre rasgadas que utilizam apenas a rabeta e o fundo da prancha com arcos que encravam maior parte da borda na prancha. A primeira produz um efeito bacana, mas a segunda é a única manobra para sempre.

Boas curvas a todos nós, que deslizamos em curva sobre pranchas.

Tulio Brandão
Formado em Jornalismo e Direito, trabalhou no jornal O Globo, com passagem pelo Jornal do Brasil. Foi colunista da Fluir, autor dos blogs Surfe Deluxe e Blog Verde (O Globo) e escreveu os livros "Gabriel Medina - a trajetória do primeiro campeão mundial de surfe" e "Rio das Alturas".