Previsão de Ondas

Tempestades & Ciclones

Forte ciclone se forma de quinta para sexta-feira no litoral do Rio Grande do Sul e promete gerar ondas acima de 3 metros para o próximo fim de semana nas regiões sul e sudeste.

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Mapa de pressão atmosférica ao nível do mar gerada pelo modelo GFS para sexta-feira 14/07/2023. A tempestade se forma na quinta e sexta teremos um ciclone na frente do Rio grande do Sul (www.wxmaps.org).

Como pode um ciclone atravessar o Atlântico e gerar mais ondas no Nordeste do que no Sul, ou no Sudeste? Incrível não, na realidade o nordeste brasileiro está bravio e com ondas acima do normal.

Tudo bem que passamos por épocas de mudanças climáticas e tempestades severas por todo o planeta. Todavia, há um certo terrorismo, quando vemos notícias prevendo ciclones destrutivos e ameaçadores a qualquer novo fenômeno. Todavia, quase ninguém previu as ondas grandes que incidiram na costa do nordeste.

Não posso dizer que isso não seja uma condição somente de El Niño, mas uma soma de fatores que os melhores meteorologistas e oceanógrafos terão de investigar. Anti-ciclogênese (anticiclone) é, por analogia, o oposto de Ciclogênese (geração de ciclone), e foi esse fenômeno que colocou as ondas fortes na costa do nordeste.

Pessoalmente, tento ser realista para falar da intensidade das tempestades e os usuários podem perceber que poucas vezes trato os ciclones como algo anormal ou extraordinário. Fato que hoje alguns canais de mídia buscam criar um espetáculo sobre os ciclones e outros são mais coerentes em suas previsões.

Aí, caros internautas, quando um evento realmente forte está para acontecer, as pessoas tendem a desacreditar porque não conseguem distinguir o que é alardeado nas redes sociais, do que de fato, é realmente perigoso. Aqui no Waves, vou tentar sempre filtrar as informações e trazer o que está acontecendo em nosso quintal de casa, o Oceano Atlântico Sudoeste.

Uma frente fria é uma linha de instabilidade que gera tempestades (chuvas e até ventos fortes), mas um ciclone é quando essa linha quebra, ou fratura, e gera então o fenômeno. O que vimos no último evento foi uma frente fria e o ciclone foi rodar afastado da costa e não houve nada extraordinário.

A temperatura das águas da superfície do mar (TSM) está realmente quente e isso não há dúvidas quando vemos as medidas do projeto SIMCOSTA da Universidade do Rio Grande (www.simcosta gov.br) e, como me disse nosso amigo e correspondente da Praia do Cassino, oceanógrafo Henrique Mesquita (@talharmarmesquita): – não me lembro de ter visto água tão quente no mês de julho!

Então, podemos esperar ciclones fortes para este inverno, e eles virão! Ainda nesta semana, aproximadamente daqui a quatro dias, para a próxima sexta-feira (na verdade a tempestade começa na quinta e o resultado disso aparece na sexta), está previsto um forte ciclone como podemos ver no mapa de pressão ao nível do mar do CODA (www.wxmaps.org), que traz previsões com base no modelo GSF (americano).

Mesmo este mapa apresenta alguns erros, ao meu ver, pois é mais provável que o ciclone se forme na frente da costa do Rio Grande do Sul e Uruguai, ou na frente de São Paulo e Rio de Janeiro, do que em frente a Santa Catarina.

O lineamento de Florianópolis é uma feição submarina que divide a Bacia de Pelotas da Bacia de Santos, e os ciclone gostam de rodar dentro das bacias, sendo mais difícil eles rodaram nas bordas das bacias (esta é uma percepção minha, com base em anos de observação de ciclones), quando falamos de probabilidade de o fenômeno ocorrer.

Antes disso, temos um ciclone transitando pela bacia da Patagônia, na frente da costa da Argentina, que está gerando ondas para a costa sudeste, a Zona de Convergência Intertropical (ZCIT) gerando ondas na costa Norte do Brasil, e temos um ciclone na fase final da vida no Meio do Atlântico. Foi por isso que falamos na última matéria que o Atlântico acordou.

Mapas de vento em altitude 200 hPa (corrente de jato); vorticidade em 500 hPa; pressão atmosférica ao nível do mar 1000 hPa e cobertura de nuvens (altas, medias e baixas). O importante é entender o movimento e a convergência das correntes de jato, que direcionam os centros de baixa pressão de oeste para leste, e onde podemos ver as quebras no fluxo e a geração do ciclone nos campos de vorticidade (www.wxmaps.org).

Mapas de vento em altitude 200 hPa (corrente de jato); vorticidade em 500 hPa; pressão atmosférica ao nível do mar 1000 hPa e cobertura de nuvens (altas, medias e baixas). O importante é entender o movimento e a convergência das correntes de jato, que direcionam os centros de baixa pressão de oeste para leste, e onde podemos ver as quebras no fluxo e a geração do ciclone nos campos de vorticidade (www.wxmaps.org).

Previsão das Ondas

Região Sul: As ondas nesta terça recebem uma nova pressão de Sul com a passagem de um ciclone ao sul do Rio da Prata, mas é na quinta-feira que um novo e forte ciclone se forma, desta vez ao norte do Rio da Prata, e provoca ressaca na sexta. Ondas grande e boas no sábado e domingo.

Nesta terça, teremos uma ondulação rápida de Sul, com 1,5-2 metros e período de pico de 11 segundos na costa gaúcha. O ciclone está ao sul do Rio da Prata, e um outro mais ao sul que já passou da Georgia e Sanduichas do Sul.

Essa ondulação chega a Santa Catarina na quarta, já com uma componente de SE, e também com 2 metros de altura significativa e vai ser o melhor dia antes da virada do tempo na quinta-feira.

Quinta pela manhã ainda teremos boas ondas do litoral do Rio Grande do Sul até o Paraná.
As melhores condições são na quarta de SE, com menos influência de vento. Os melhores picos são Lomba do Sabão (Sul do Campeche), Mole, Moçambique, Ferrugem, Guarda do Embaú, Rosa Norte, Ibiraquera e São Francisco do Sul. Teremos boas ondas em todo o litoral até quinta-feira.

Na sexta, o ciclone que entra na costa gaúcha na quinta, gera a ressaca forte de Sul, que vira para sudeste conforme o ciclone se afasta da costa gaúcha. Este ciclone vai gerar uma ondulação grande acima de 4 metros de altura, período de 9-10 segundos.

No sábado e domingo a previsão é de ondas grandes, mas já sem a componente forte de Sul, e sim mais virado para S-SE. O fim de semana será de boas ondas. Vamos ter chuva toda a semana e ventos forte de quinta para sexta. Na sexta, também podemos ter neve na serra gaúcha, ou chuva bem gelada. Já no sábado o tempo começa a melhorar e domingo deve fazer sol.

Um ciclone vai passar rápido nesta terça-feira e gerar ondas no litoral sul, mas é na quinta-feira que um novo ciclone se forma na altura do Rio Grande do Sul e Uruguai, gerando ressaca na sexta e uma grande ondulação no sábado.

Região Sudeste: As ondas ficam boas de sudeste durante toda a semana, e, principalmente, quarta e quinta-feira. Com 1,5 a 2 metros de altura e período de 11-12 segundos. Praticamente todas as praias expostas do litoral de São Paulo recebem bem essa ondulação. Pitangueiras, Maresias e Ubatuba devem quebrar perfeitas na quarta e quinta.

No Rio de Janeiro, tanto na cidade maravilhosa como no litoral da Região dos Lagos, boas ondas de 1,5 podendo chegar a 2,5 nas séries na quarta-feira, e com 1,5-2 na quinta. Praia do Forte para os iniciantes e Saquarema para os mais experientes, recebem uma ondulação excelente e com vento terral até quinta-feira.

Na cidade do Rio, Leme, Arpoador, Barra da Tijuca, Prainha e Grumarí vão ter ondas boas e ainda com sol na quinta. Na sexta, o mar vira para Sul, com a chegada da ondulação fabricada no Rio Grande do Sul, e sobre para 4 metros com séries maiores. Período curto, indica a situação de ressaca.

Essa condição muda no sábado, pois os modelos indicam que o ciclone vai ser intenso e se irá rápido para o meio do Atlântico, gerando ondas de Sudeste com bom tamanho e período na faixa de 12-13 segundos.

Todo o litoral do Rio e São Paulo fica com condição de ressaca na sexta e sábado. O melhor dia deve ser no domingo, quando o vento terral deve proporcionar uma condição perfeita para as ondas. Até sexta veremos se estas condições se mantêm conforme estou escrevendo hoje.

Região Nordeste: Uma leve folga para quem pegou condições épicas na semana passada. Ainda temos uma ondulação excelente de 11-12 segundos e 1,5 metro na costa do nordeste, entre Itacaré até Baia Formosa. Condição que se mantem durante toda a semana, baixando aos poucos e virando para Leste até sábado.

No litoral nordeste Sul, próximo ao banco de Abrolhos e Cumuruxatiba, esta região de bancos e recifes afastados da costa ajudam a focalizar a ondulação em algumas praias como Caraíva.

Já na sexta e, principalmente, no sábado, a condição das ondas vira pra Sul, e vai ganhando altura com as ondas podendo chegar até 2,5 metros, talvez 3 na série. Domingo a ondulação começa a virar para Sudeste, pois o ciclone no Sul ruma para o meio do oceano e a ondulação chega ao litoral mais ao norte do Nordeste, incidindo com uma ondulação de frente-fria e ciclone, ao invés da ondulação gerada pela anti ciclogênese que vimos na semana passada.

Outra condição mais limpa e perfeita com ondas mais regulares e sem tanto vento local. Isso torna o domingo de boas ondas para os surfistas menos experientes.

O Nordeste será agraciado com ondas muito boas durante toda a semana, somente sexta e sábado é que as ondas ficam mais irregulares por causa da virada da direção da ondulação, mas nada que preocupe.

Região Norte: É a mais difícil de fazer previsão! Isso porque depende das ondulações fabricadas no hemisfério Norte, ou por causa da Zona de Convergência Intertropical (ZCIT), que começa a ter influência dos centros de pressão que vão gerar os furacões no Caribe.

A previsão indica ondas de leste com altura de 1-1,5 metro na costa do Ceará. Uma ondulação que faz a curva no cabo de calcanhar e que na semana passada gerou ondas que muito poucos conseguiram prever. Fato que não é uma época de ondas muito boas na costa Norte.

Todavia, os modelos estão prevendo a incidência de ondas de leste com a altura entre 1-1,5 metro, com séries maiores nesta terça, quarta e quinta-feira. Esta ondulação chega ao litoral do Maranhão e do Pará na quinta-feira com 1 metro e séries maiores. Temos uma condição bem atípica para região norte do Brasil.

Boas ondas, galera!

Heitor Tozzi
Oceanógrafo e Mestre em Estudos Costeiros, trabalha com morfodinâmica de praias e impacto de tempestades na costa desde 1991, quando fez parte do 1º grupo de Sentinelas do Mar (Watching Waves in Brazil). Como pesquisador já embarcou em navios de Norte a Sul do Brasil, Golfo do México, Angola e Indonésia. Velejador e surfista nas horas vagas, atualmente é pesquisador do doutorado em Meteorologia no Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), onde estuda os processos de Interação Oceano-Atmosfera para geração dos Ciclones.