Previsão das ondas

À deriva do vento Oeste

Oceanógrafo Heitor Tozzi prevê ondas de Sul a partir desta quarta-feira. Condições melhoram na sexta, quando influência dos ventos diminui, principalmente no período da manhã.

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Ondulações com bastante energia são geradas nas Malvinas.

Esta semana é um bom exemplo das condições que podem ocorrer para o campeonato em Saquarema.

Ondulações geradas na Malvinas com influência de vento local, ondas de 1,5 a 2 metros mesmo com período de pico de 14s de pano de fundo. Período médio de 10s e altura de 1 a 1,5m. Mar sobe na quinta no Sul e na madrugada de sexta Sudeste.

Sexta teremos ondas boas para o feriado, mas baixa no sábado e zera no domingo.

Um novo ciclone, este mais para o Sul gera ventos e ondas no domingo, que serão boas somente segunda.

As tempestades da deriva do vento Oeste não vão parar, tanto no Atlântico Sul, quanto na Austrália. A diferença é que em Margaret River elas batem de frente, como no Chile e Namíbia.

Aliás Namíbia, Angola e Congo recebem as ondulações de maior período do que são geradas desse lado do Atlântico Sul, limpas (sem vento local), perfeitas e rápidas.

Então, galera, podemos sim ter excelentes ondas no campeonato, limpas e perfeitas fabricadas nas Malvinas. Porque quando os ciclones diminuem de intensidade em latitudes médias (30-35°S), sobra energia para as tempestades das Malvinas (60-65°S).

A questão passa a ser a direção preferencial do swell, pois boa parte das ondulações vão parar na África. Isso será uma tarefa para os modelos apontarem a direção das ondas nas datas do campeonato de Saquarema.

Também as ondas geradas a maior distância da costa, são mais limpas e tem período mais longo, perdem um pouco da energia e altura ao longo do percurso quando interagem com ondas geradas por ventos locais. E isso será determinante para o Head Judge definir os dias melhores para rodar das baterias.

O Drake é como um funil a 60-65°S, jogando toda a energia acumulada no Oceano Pacífico para dentro do Atlântico Sul. Isso na real, cria a Corrente das Malvinas e as tempestades das Malvinas. Que são tão poderosas quanto os ciclones bomba.

“Desejo que teremos um ciclone extratropical gerando ondas de período longo fabricadas desde as Malvinas até o Meio do Atlântico, bombando aquela sequência de ondulações. O primeiro swell de Sul, longas e perfeitas de 15 segundos e 2,5 metros, depois um swell de SE, 13s e 2m (3m na série), e na final o ciclone intensifica em 40°S e gera um swell de SE 11s e 3m clássico. Não é impossível, não!”

Deriva do vento Oeste

A deriva do vento Oeste é força que deriva do movimento de rotação da Terra. A força de Coriolis é uma força secundária ao movimento de rotação, maior nos polos e menor no Equador, desvia para esquerda no Hemisfério Sul e para direita no Norte.

Por isso os ventos viram para oeste nos polos e para leste (alísios de NE e SE) próximo do Equador.

Altura da superfície dos oceanos

Figura acima mostra a altura da superfície dos oceanos. Para entender por que o Índico joga água pela corrente das Agulhas (muita água acumulada) pressionada no Sul pela corrente de deriva do vento Oeste.

Corrente do Brasil

As correntes marinhas da borda oeste como a Corrente do Brasil são profundas e intensas, quentes e salgadas. Já a Correntes de Benguela de borda leste são mais amplas, frias e frescas, parecem ter uma névoa sobre elas (sublimação), mas elas também variam, quando recebem águas do Indico trazidas pela Corrente das Agulhas.

O que acontece no El Niño é que a corrente do Peru (fria/fresca) recebe água quente acumulada do lado do oeste Pacífico e isso dita um dos principais fenômenos climáticos do Planeta. Todavia antes só falávamos em El Niño (90’s), aí veio La Niña, e hoje só falamos nela.

A etapa do WSL é logo na melhor época de ondas e as tempestades na zona de Westerlies não param!

Ou seja, aqui ou na África do Sul, ou na Austrália, as tempestades de oeste circulam por todo o planeta…. por falar nisso, Margaret River recebe ondas geradas por duas regiões de tempestades, uma mais afastada e outra mais próxima do continente australiano.

Muda a circulação dos jatos em altitude, muda entre 30-35°S na configuração de El Niño, e diminui a frequência e intensidade das tempestades na região do Uruguai e Sul do Brasil.

A semana que passou tivemos uma demonstração disso, ondas chegando de longe com boa formação, vento local só no período da tarde.

A previsão para esta semana é de que teremos boas ondas de S a partir de quarta, geradas por uma tempestade que passou pelas Malvinas e somadas a um swell leve de SE de pano de fundo (gerado mais distante da costa).

Na quinta, o período médio de 10s e período de pico de 14s, e altura significativa de 2,5. Vento de SW-W. As condições melhoram na sexta, quando a influência dos ventos diminui, principalmente no período da manhã.

Heitor Tozzi
Oceanógrafo e Mestre em Estudos Costeiros, trabalha com morfodinâmica de praias e impacto de tempestades na costa desde 1991, quando fez parte do 1º grupo de Sentinelas do Mar (Watching Waves in Brazil). Como pesquisador já embarcou em navios de Norte a Sul do Brasil, Golfo do México, Angola e Indonésia. Velejador e surfista nas horas vagas, atualmente é pesquisador do doutorado em Meteorologia no Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), onde estuda os processos de Interação Oceano-Atmosfera para geração dos Ciclones.