Previsão das Ondas

Ciclone atravessa Atlântico

Para Heitor Tozzi, especialista em previsão de ondas, efeito de El Niño, empurra zona de geração das ondas para extremo sul da América do Sul e também gera ciclones de SE.

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Ciclone formado no Sudeste.

O ciclone que se formou no Sudeste e bem no meio do Atlântico Sul na segunda-feira foi gerado pela circulação que veio do Oceano Antártico no sentido nordeste, atravessando o Atlântico Sul. Quando alcançou as latitudes médias, encontrou a resistência do Anticiclone Subtropical do Atlântico Sul (ASAS), criando uma linha de instabilidade que evoluiu para um novo ciclone (Ciclone de Sudeste no Sudeste).

Era mais ou menos isso que esperávamos para a etapa de Saquarema, mas aconteceu depois da janela do evento. O efeito de El Niño, intensificando a ASAS e empurrando a zona de geração das ondas para o extremo sul da América do Sul, e agora também gera estes ciclones de SE no meio do Atlântico Sul.

A posição deste ciclone estava 25°S e 30°W mais ao norte e mais à leste da região do Rio da Prata. O que indica, ao meu ver, que não é uma condição normal. Mas esse inverno também está bem diferente dos anos anteriores.

A previsão é a chegada de ondas de SE na região sudeste, incluído o litoral norte do Rio de Janeiro. Ondulação de S na região nordeste do Brasil com força e mar de ressaca na região sul da Bahia e Espírito Santo. Já a região Sul, recebe uma lestada, enquanto se prepara para outro ciclone que se formar na região das Malvinas como vemos nos mapas de pressão atmosférica ao nível do mar (wxmaps.org).

Mapas de pressão atmosférica em superfície para segunda, terça e quarta, mostram a alta pressão entre dois ciclones nesta semana; um na terça na região sudeste e outro na quarta na região das Malvinas (Fonte CODA).

O período das ondas deve ficar entre 7-9 segundos na costa Norte do Rio de Janeiro e metade sul da região nordeste por causa da condição de ressaca.

No Sul do Brasil, o período das ondas deve ficar entre 11s, enquanto acima da Região de Abrolhos, no Nordeste Pernambucano, deve chegar a 12 ou até 13 segundos.
Quarta-feira é o melhor dia em toda a costa brasileira, e estas condições se mantém boas na quinta também na maioria das praias do Norte do Rio de Janeiro até o Rio Grande do Norte.

Modelo da pista de ondas gerada na região Sudeste, altura do Litoral Norte do Rio de Janeiro, mostra a propagação das ondas na direção ao litoral Nordeste do Brasil. Quarta as ondas devem alcançar 2 metros, podendo chegar a 2,5 na série. Praias que recebem melhor a condição de S com influência de SE são indicadas para o surfe, e na quinta o vento será mais fraco.

Previsão das Ondas

Região Sul: As ondas entram do quadrante E com leve componente de SE e altura de até 2 metros. A famosa lestada vai atuar na costa até quinta-feira, quando o ciclone nas Malvinas faz o mar inverter de direção.

Esta condição de lestada, embora mais comum na estação da primavera, também traz boas ondas para as praias do Sul do Brasil

As ondas boas quebrarão no norte das praias, como o Canto das Aranhas, Santinho, Joaquina (deve quebrar linda), e na Garopabinha e Siriú também devem apresentar condições bem atípicas. Também não podemos esquecer o Balneário de Camboriú, Rosa Norte, Farol de Santa Marta, Molhes Sul do Mampituba, as Plataformas de Pesca e o Terminal Turístico da Praia do Cassino.

Região Sudeste: As ondas entram de SE com leve componente de E. o que favorece as praias do litoral de São Paulo.

Ainda nesta terça-feira teremos um vento maral, gerando ondas locais (vagas), mas na quarta-feira as condições devem ficar excelentes. Uma ondulação não muito comum para a estação de inverno, mas o El Niño trouxe surpresas até para aqueles que estão acostumados a seguir os sites de previsão de ondas.

As praias como Félix, Central de Ubatuba, e até para a região mais ao sul do litoral de São Paulo devem receber ondas excelentes nesta quarta, possivelmente até quinta (menores, mas perfeitas).

No litoral do Rio de Janeiro, os melhores picos são voltados para a ondulação de E-SE, como a praia do Leme, Arpoador, Prainha e o canto norte de Grumarí, talvez até o pico secreto de Angra. Mas a costa Norte do litoral é onde veremos as maiores ondas, onde a Praia do Forte de Cabo Frio e a Brava de Búzios devem com ondas acima da condição de leste.

Região Nordeste: Vamos ter ondas de S com leve componente de SE, enquanto o ciclone se afasta para a África. Esta é uma condição diferente para costa nordeste do Brasil, pois teremos ondas com bastante energia nesta terça e quarta-feira, se prolongando e diminuindo de intensidade na quinta. A situação que tínhamos duas semanas atrás, de ondas de menor período e 1,5 metro, dá lugar as ondas de maior período e altura, podendo chegar a 2,5-3 metros no sul da Bahia, e com aquela situação de ressaca.

A ondulação mais limpa chegará à costa norte da Bahia, Pernambuco, Paraíba e Rio Grande do Norte, na quarta, ainda com vento maral. Incluo também a laje da entrada de Salvador na lista dos picos que podem quebrar nesta quarta-feira. As praias do Sul da Bahia vão ter mais influência do vento até quarta (ressaca), mas melhoram na quinta com oclusão (fechamento) do ciclone.

As praias de Porto de Galinhas, Cabedelo e Bahia Formosa terão condições mais perfeitas, principalmente os picos secretos do Rio Grande do Norte.

Região Norte: Permanece uma condição de ondas mais fracas geradas pelos ventos alísios fortes e paralelos à costa. Estação do ano na qual a Zona de Convergência Intertropical (ZCIT) leva mais influência para o Atlântico Norte e favorece a formação dos furacões, o que deveria começar em agosto, mas parece que está iniciando antes do tempo.

Assim, na passagem de uma ZCIT com intensidade 3, podemos ter uma geração de ondas na direção da costa Norte, embora seja ondulação secundária, já que a direção principal é no sentido do mar do Caribe.

Heitor Tozzi
Oceanógrafo e Mestre em Estudos Costeiros, trabalha com morfodinâmica de praias e impacto de tempestades na costa desde 1991, quando fez parte do 1º grupo de Sentinelas do Mar (Watching Waves in Brazil). Como pesquisador já embarcou em navios de Norte a Sul do Brasil, Golfo do México, Angola e Indonésia. Velejador e surfista nas horas vagas, atualmente é pesquisador do doutorado em Meteorologia no Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), onde estuda os processos de Interação Oceano-Atmosfera para geração dos Ciclones.