CBSurf

Briga pelo comando

Afastado do comando da CBSurf e questionado por grupo de atletas, Adalvo Argolo critica presidente interino Guilherme Pollastri, réu na Operação Zelotes, um dos maiores esquemas de sonegação fiscal já descobertos no País.

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Adalvo Argolo e Guilherme Pollastri antes do litígio na CBSurf.

O litígio na Confederação Brasileira de Surf (CBSurf) ganhou um novo capítulo. Depois de um grupo de atletas dar início a um manifesto que contou com assinaturas também de simpatizantes do esporte, dando apoio ao presidente interino Guilherme Pollastri e criticando a gestão de Adalvo Argolo, agora é a vez de o presidente afastado da entidade emitir uma nota questionando as ações de Pollastri.

No comunicado, Adalvo cita que o presidente interino é réu na Operação Zelotes, deflagrada pela Polícia Federal no fim de março de 2015 e que investiga um dos maiores esquemas de sonegação fiscal já descobertos no País. Ao lado de um advogado e de outros dois ex-integrantes do Conselho Administrativo de Recursos Fiscais, Pollastri enfrenta uma ação de improbidade administrativa movida pela Advocacia-Geral da União por tentar influenciar um processo em favor de uma empresa. A procuradora federal pede o bloqueio de R$ 1.042.965,00 de cada um dos quatro réus. O valor corresponde à possível multa cível a ser aplicada a eles, de 100 vezes a remuneração do conselheiro do Carf, que era, em dezembro de 2015, de R$ 11.235,00.

O presidente afastado também questiona o fato de Pollastri responder a uma outra ação, movida pelo seu antigo empregador, a Companhia Docas do Rio de Janeiro, devendo apresentar os controles de frequência, recibos de pagamento e variação salarial do período trabalhado.

Desavenças e divergências

Recentemente, Guilherme Pollastri, que ocupava o cargo de vice-presidente da CBSurf, solicitou o afastamento de Adalvo Argolo da presidência e teve seu pedido acatado pela Justiça Federal de Brasília.

A alegação feita por Pollastri foi administração temerária e falta de conhecimento sobre a forma que Argolo administra os recursos públicos federais.

Com o surfe caminhando para estrear nas Olimpíadas de Tóquio (2020), a gestão de Adalvo Argolo enfrentou uma sequência de pesadelos, principalmente a partir de setembro, quando anunciou que estava fora do ISA Games no Japão faltando poucos dias para o início do campeonato e com os atletas prontos para viajar.

A alegação de Adalvo foi a dificuldade nos trâmites para a obtenção de vistos e também para atender a todos os requisitos necessários para a prestação de contas ao Comitê Olímpico Brasileiro (COB).

Porém, a pressão na CBSurf foi grande, com direito a manifestação nas redes sociais de Tops como Filipe Toledo, Italo Ferreira e Adriano de Souza, que não perdoaram a ausência do Brasil no ISA Games.

Ausência da equipe brasileira no ISA Games do Japão levou vice-presidente a entrar com pedido para afastar Adalvo Argolo do comando da CBSurf.

Depois da polêmica, Guilherme Pollastri entrou com um pedido para afastar Adalvo Argolo da presidência. Vale ressaltar que Pollastri já estava afastado da entidade desde o início do ano, por divergências com Adalvo.

Na ocasião, o vice-presidente explicou ao site UOL o motivo do seu afastamento e também do pedido à Justiça. “Tudo que eu levava para ele (Adalvo), ele era contra. Cansei de dar murro em ponta de faca. Aí resolvi me afastar da Confederação e deixei ele tocando. Agora que deu esse problema, tive que me pronunciar. Minha ideia era ficar afastado, esperar até a próxima eleição e me candidatar. Estou vendo formas jurídicas de tentar afastar o presidente, porque ele perdeu a legitimidade. O surfe e os outros esportes não aceitam mais esse tipo de administração centralizada, que ninguém vê mais conta, nem nada”, falou Pollastri.

Do vice à presidência

Em dezembro, Adalvo Argolo foi afastado provisoriamente do cargo de presidente da CBSurf. Uma das razões para o imediato afastamento de Adalvo, sem direito de defesa, foi que a entidade não estava no endereço fornecido à Justiça tanto pelo Ministério do Esporte quanto pelo Comitê Olímpico do Brasil. Na época, Argolo disse ao Waves que havia uma ata publicada no site da CBSurf sobre a mudança da sede.

O afastamento foi determinado em caráter liminar pelo juiz federal substituto da Vara Cível de Brasília, Anderson Santos da Silva.

Dias depois, doze federações estaduais filiadas à entidade redigiram um manifesto pedindo a imediata recondução de Adalvo Argolo ao cargo de presidente da CBSurf. O manifesto foi encabeçado pela Federação Pernambucana de Surf e contou ainda com o apoio das federações de Santa Catarina, Ceará, Espírito Santo, Paraíba, Alagoas, São Paulo, Bahia, Sergipe, Maranhão, Pará e Rio Grande do Norte. Já a Federação Surf do Estado do Rio de Janeiro (FESERJ) optou por não participar.

Na sequência, Argolo voltou a enfrentar uma turbulência, quando foi acusado de apresentar três recibos com o valor de R$ 2.500,00 de recursos fornecidos pelo COB (Comitê Olímpico Brasileiro) para o aluguel de uma sala que pertence à sua esposa.

Contatado pelo Waves, Adalvo se defendeu alegando que a sede da CBSurf funcionava neste novo endereço desde fevereiro e que o dinheiro foi devidamente devolvido ao COB quando soube da falha administrativa, já que o imóvel pertencia a um familiar, o que é ilegal em recursos repassados pelo COB através da Lei Agnelo/Piva. O presidente afastado disse que o caso aconteceu por inexperiência própria em prestação de contas.

Para Adalvo Argolo, presidente interino não está preocupado em preservar o esporte, muito menos a CBSurf.Gabriel Macedo
Para Adalvo Argolo, presidente interino não está preocupado em preservar o esporte, muito menos a CBSurf.

Novo capítulo

Aguardando uma decisão da justiça, Adalvo Argolo voltou a se pronunciar e fez duras críticas a Guilherme Pollastri. Além de citar que Pollastri é réu na Operação Zelotes, o presidente afastado disse que o interino não está preocupado em preservar o esporte, muito menos a CBSurf. “Supostamente, sua intenção é apenas tomar o poder para si e assim satisfazer seu ego e sua vontade de ser alguém no surfe. Nada mais do que isso”, escreve no comunicado.

Sobre a decisão da justiça, Adalvo disse que “ninguém vai ganhar no grito”. “Todos os amantes do surfe esperam que esta situação seja esclarecida o mais rápido possível para que assim o surfe brasileiro não continue a ser prejudicado e a imagem da CBSurf não seja ainda mais denegrida. Ninguém ganha com isso”, finaliza a nota do presidente afastado.

Veja a íntegra do comunicado emitido por Adalvo Argolo:

“Em virtude dos últimos acontecimentos, amplamente divulgados pela imprensa, e também por grupos de WhatsApp, Facebook e Instagram , achei necessário prestar alguns esclarecimentos.

Antes de mais nada, eu fui eleito democraticamente pelas federações filiadas, e estou temporariamente afastado pelo fato de não ter sido encontrado para receber uma intimação. Nada além disso.

Neste momento o mais importante é minimizar as consequências negativas para o esporte e seus atletas, preservar o Circuito Brasileiro de surfe profissional, o circuito de base Sub 14, Sub 16 e Sub 18, o circuito Master, o Circuito de longboard, o Circuito de SUP, o projeto de apoio ao surfe feminino, os preparativos para a disputa do Pan Americano de Lima 2019 e das Olimpíadas de Tóquio 2020.

Todo este imbróglio jurídico está sendo movido pelo vice-presidente da CBSurf, o Sr Guilherme Pollastri Gomes. Supostamente, o Sr. Guilherme Pollastri Gomes está empenhado apenas em tomar o poder para si. Afinal de contas, normalmente o sonho de todo vice-presidente é ocupar o lugar do seu Presidente. Mas tudo tem limite. Até a sede insaciável pelo poder acima de tudo.

Por volta de setembro de 2017 o Sr. Guilherme Pollastri Gomes se aproximou da CBSurf dizendo que tinha a intenção de ajudar o surfe, e acabou sendo convidado para ocupar o cargo de vice Presidente. Porém, em pouco tempo, o Sr. Guilherme Pollastri Gomes passou a, supostamente, usar seu cargo de vice-presidente para sua auto promoção pessoal. Aos poucos, vendo que seus projetos de cunho pessoais não se concretizavam, ele simplesmente se afastou do dia a dia da Confederação por volta do início de 2018. Foi viajar para o exterior e apenas reapareceu em outubro de 2018, para, oportuna e covardemente, publicar uma carta aberta à imprensa, na qual acusava publicamente a então direção da CBSurf, da qual ele fazia parte, de incompetência e gestão temerária. A pergunta que não quer calar: Se o Sr. Guilherme discordava da maneira pela qual a CBSurf estava sendo administrada, por que não renunciou?

O fato é que recentemente, mais precisamente no dia 18 de setembro de 2018, para surpresa da então diretoria da CBSurf, após ser investigado pela Polícia Federal, o Sr. Guilherme Pollastri Gomes tornou-se réu na Operação Zelotes – numa ação de improbidade administrativa deflagrada pela Polícia Federal, acusado pela União Federal de violar os deveres de honestidade, imparcialidade, legalidade e lealdade em relação à Administração Pública.

Se a condição de Réu na operação Zelotes já não bastasse para macular sua reputação, o Sr. Guilherme Pollastri Gomes também responde à outra ação, esta movida pelo seu antigo empregador, a COMPANHIA DOCAS DO RIO DE JANEIRO, e deverá apresentar os controles de frequência, recibos de pagamento e variação salarial do período trabalhado, sob as penas da lei. Supostamente seu antigo empregador, a Cia Docas do Rio de Janeiro, pede que o Sr. Guilherme Pollastri Gomes prove com que frequência aparecia para trabalhar.

As consequências das ações que o vice-presidente, Sr. Guilherme Pollastri Gomes, vem tomando já causaram – e continuam causando – prejuízos ao surfe brasileiro. Quem vem ganhando com isso? Talvez o Sr. Guilherme possa pensar que ele, ao denegrir publicamente a imagem da CBSURF, esteja se beneficiando com isso.

Porém, o fato concreto é que o surfe e os surfistas brasileiros vem sendo diariamente prejudicados por este embate jurídico, que se tornou público graças às entrevistas e matérias que o Sr. Guilherme vem promovendo através da mídia e também das mídias sociais: Facebook, Instagram, WhatsApp…

Enfim, este tipo de atitude só prejudica o esporte e afasta os potenciais patrocinadores. Certamente os atletas não estão se beneficiando com esta disputa – pública – pelo poder. Nem muito menos as federações estaduais, que já deixaram de realizar a última etapa do CBSurf Pro Tour 2018, que estava programada para acontecer e não foi realizada por conta do afastamento do Presidente eleito pelas federações filiadas a CBSurf.

Supostamente Guilherme Pollastri Gomes não está preocupado em preservar o esporte, nem muito menos a CBSurf, entidade máxima do surfe no Brasil. Supostamente sua intenção é apenas tomar o poder para si e assim satisfazer seu ego e sua vontade de ser alguém no surfe. Nada mais do que isso.

Enfim, se tornou necessário esclarecer alguns fatos porque às vezes é preciso rebater as inverdades, pois uma mentira dita mil vezes pode soar como verdade.

O fato é que esta questão do afastamento do Presidente eleito da CBSurf será resolvido pela justiça brasileira. E ninguém vai “ganhar no grito”. Todos os amantes do surfe esperam que esta situação seja esclarecida o mais rápido possível para que assim o surfe brasileiro não continue a ser prejudicado e a imagem da CBSurf não seja ainda mais denegrida. Ninguém ganha com isso.”

A redação do Waves entrou em contato com Guilherme Pollastri para exercer seu direito de resposta, mas nossas mensagens e ligações não foram respondidas.