Paulownia

A árvore do surfe

Shaper Julio Cirico fala da qualidade e sustentabilidade das pranchas produzidas com madeira Paulownia.

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Shaper Julio Cirico exibe a estrutura de uma prancha construída com madeira.

Surfe e ecologia são dois assuntos que deveriam sempre andar de mãos dadas, afinal, sem os oceanos não há surfe, é uma relação simples e direta. A exploração indiscriminada dos recursos naturais e a falta de políticas de conscientização da população mundial sobre o descarte correto do lixo são uma ameaça real ao meio ambiente.

Por sorte, a semente da mudança para um futuro melhor já foi plantada e uma boa parte da comunidade prontamente começou a apoiar iniciativas e atitudes mais ecológicas e sustentáveis. Todos os dias estão surgindo novas opções de produtos cada vez mais ecologicamente corretos e, com certeza, esse é o caminho para um mundo melhor junto com a reeducação das pessoas e a criação de novos hábitos.

Paulownias são árvores ideais para a construção de pranchas de surfe.Divulgação
Paulownias são árvores ideais para a construção de pranchas de surfe.

Na busca por opções mais sustentáveis, alguns shapers ao redor do mundo iniciaram um movimento de retorno cultural às origens do surfe voltando a produzir pranchas de surf em madeira.

A história do surfe nasceu com tábuas de madeira chamadas de Alaias, e que eram usadas pelos nativos havaianos para pegar as primeiras ondas que se tem registro. Com o passar dos anos essas tábuas começaram a virar pranchas de madeira sólida com um shape mais elaborado, e foram evoluindo até chegar nas pranchas como conhecemos hoje.

Entretanto as pranchas de madeira fabricadas atualmente são completamente diferentes das de antigamente. A começar pelo detalhe que elas são projetadas no mesmo software que as outras pranchas. O shaper pode desenhar a prancha exatamente igual a uma prancha de PU ou EPS, pode fazer um fundo super complexo com Full to Double Concave e Vee na rabeta, se desejar pode colocar canaletas na prancha etc.

José Francisco “Fininho testa a leveza de uma prancha feita da madeira.

Só precisa ser um bom carpinteiro para depois reproduzir todos os detalhes do projeto na prancha construída.

Outro detalhe que poderá surpreender é que as pranchas são ocas, cheias de ar. Essas pranchas são fabricadas com a mesma técnica utilizada para fabricar aviões, aeromodelos e barcos. A construção toda é orientada ao redor da estrutura principal chamada de esqueleto. Depois que o esqueleto está montado o próximo passo é revestir com uma “pele” e ai que a madeira da Paulownia faz toda diferença.

A madeira da Paulownia, ou também conhecida como Kiri Japonês, é extremamente leve e com ela é possível fazer pranchas variando entre 3 a 5 quilos. Um outro dado impressionante sobre a densidade dessa madeira é que um metro cúbico pesa apenas 250Kg.

Esse mesmo volume em água pesa 1.000 Kg, ou seja, ela tem um quarto do peso da água.

As pranchas de madeira estão se popularizando, buscando seu lugar ao sol e quebrando paradigmas. O que está sendo esclarecido com o passar dos anos é que as pranchas de EPS são mais indicadas para ondas mais fracas e as de PU para ondas com mais força, elas se complementam.

Agora com a evolução das pranchas de madeira um novo leque de possibilidades se abre, e sem depender do petróleo, utilizando matéria prima infinita e sustentável. Fato é que estas pranchas estão apenas engatinhando e em breve veremos cada vez mais delas nos mares.

O que se sabe com certeza é que elas são muito mais duráveis do que as de bloco e possuem beleza ímpar. Preservam o aspecto de novas por muito mais tempo, pois elas não se amassam com os pisões. Outro detalhe é que a madeira é muito mais forte que o PU e o EPS, e por isso a prancha é menos flexível.

Isso significa que elas perdem menos energia vibrando e consequentemente sejam pranchas que desenvolvem mais velocidade do que as de fibra. Ainda tem muito para se descobrir, mas até agora já é possível perceber que elas possuem muito mais qualidades
do que as pessoas imaginam

Para o meio ambiente esse movimento é muito benéfico, pois a Paulownia é a árvore com crescimento mais rápido que se tem informação e também é uma das plantas que mais absorve CO2 na natureza. Uma árvore como essa pode atingir 20 metros de altura em apenas cinco anos de vida. Com oito anos já é possível cortá-la para aproveitar sua madeira.

E o melhor de tudo é que com a força das raízes, uma nova árvore brota para um novo ciclo de produção de madeira.

Na outra ponta, com a madeira de uma árvore é possível fazer mais do que 30 pranchas de surfe que irão durar por muito mais do que o tempo que a árvore levou para crescer. Somado a isso, alguns fabricantes, como o caso da Legno THP Surfboards, utiliza também resina Bio Epoxy na produção das suas pranchas para alcançar o máximo de
sustentabilidade possível.

Agora que temos três tipos de pranchas de surfe funcionais, basta você testar os produtos e definir como cada uma funciona melhor para o seu surf. Um detalhe importante a levar em consideração é que se você quer uma prancha para ficar no seu quiver por muitos e muito anos, olhe com novos olhos para as pranchas de madeira, elas estão cada vez
mais evoluídas e só depende de você para surfar com elas em alto nível.

O atleta José Francisco “Fininho” já testou e aprovou algumas das pranchas da Legno THP Surfboards e estão inclusive lançando um modelo em parceria para testar ao extremo a durabilidade das pranchas.
Há poucos registros de pranchas de madeira quebradas ao meio. O experiente David Weber, um dos pioneiros aqui no Brasil na fabricação desse tipo de pranchas diz que são raros os casos, mas alerta que apesar de muito mais fortes as pranchas não são indestrutíveis.

A verdade é que somente com a sua popularização é que poderemos saber onde elas irão chegar, mas a probabilidade é que você tenha uma prancha encaixada no pé por muito e muitos anos. Talvez aquela prancha que você surfou fique de herança para o seu filho ou filha.

E a natureza agradece!

Julio Cirico é shaper da Legno Surfboards.