Protetor solar

Perigo para os oceanos

Estudo publicado na revista Science diz que anêmonas-do-mar reagem à oxibenzona, um dos principais compostos do protetor solar ligados a ações nocivas à vida marinha.

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Todos os organismos com superfície translúcida têm potencial de absorver compostos dos protetores solares.

Recomendado por sua capacidade de proteger a pele de raios ultravioletas, o protetor solar é responsável, por outro lado, por poluir recifes e contribuir para a mortalidade de corais. Em 2022, um estudo publicado na revista Science identificou que as anêmonas-do-mar também reagem à oxibenzona, um dos principais compostos do protetor solar ligados a ações nocivas à vida marinha, alterando a composição química e provocando alterações no metabolismo desses animais.

Pesquisadores e cientistas não conseguem precisar o nível de risco e de exposição a que esses corais estão submetidos. No entanto, o professor titular do Instituto de Ciências Biológicas da Universidade Federal do Rio Grande (FURG) e coordenador da rede de pesquisas Coral Vivo, Adalto Bianchini, afirma que o entendimento da comunidade científica é de que há um grande volume de protetor solar em lugares principalmente turísticos na temporada de verão.

“Alguns estudos no Brasil estão sendo iniciados, inclusive pela rede de pesquisa Coral Vivo, para que sejam identificados os níveis de exposição que podem trazer esses efeitos negativos nos recifes de coral e também a extensão do nível que esses protetores solares da forma como estão sendo usados podem causar”, explica Adalto. Além da oxibenzona, o metoxicinamato de etila é também conhecido por ter efeito na vida marinha, por meio de evidências científicas. Nos recifes de corais, o ecossistema mais produtivo do mundo, outros animais são afetados direta ou indiretamente, tais como peixes, ouriços, tartarugas e estrelas. Algumas espécies podem, inclusive, perder seus habitats, segundo o professor.

“Se os protetores solares, assim como outros estressores ambientais, acabam afetando os corais, e são os corais que constroem os recifes, então eles vão ficar afetados e todos os que vivem nesses recifes vão ser prejudicados”, afirma Adalto Bianchini, da FURG.

O principal efeito nos corais de recifes é o branqueamento, causado pela expulsão das zooxantelas simbióticas, algas endossimbiontes que esses organismos trazem consigo. Por causa dessa separação, e consequentemente do branqueamento, há uma perda de fornecimento de material orgânico que serve de alimento para os corais. Sem a capacidade de se alimentar de outra maneira, eles podem morrer. “De qualquer forma o branqueamento acaba sendo uma resposta de um estresse gerado pela exposição a determinados protetores solares, que ainda se encontram no mercado e possuem substâncias que efetivamente são comprovadamente tóxicas aos corais”, relata.

Além das anêmonas-do-mar e dos corais, todos os organismos marinhos com a superfície corporal translúcida têm o potencial de absorver compostos dos protetores solares internamente no organismo; e isso gera uma reação. “Ainda existe muita coisa a ser estudada, mas não existe efeito apenas em corais”, comenta Adalto.

Alguns indícios apontam associação de que as mesmas substâncias que causam efeitos em corais e peixes podem causar uma disruptura endócrina nas pessoas, atingindo o sistema hormonal. No entanto, segundo o professor Adalto, não há comprovação científica direta entre a relação dos compostos e efeitos em humanos.

Recentemente, em 2020, aproximadamente 30 estudos foram revisados, demonstrando existir uma possível associação entre a oxibenzona e alteração em níveis de hormônios da tireóide, de testosterona e função renal, “mas ainda necessita de validação, até agora os estudos não conseguem comprovar com precisão a relação desses compostos com a vida humana, mas na vida marinha já existem evidências”.

O selo reef safe que aparecer em alguns protetores indica que o produto é livre das substâncias já comprovadas cientificamente responsáveis por causar efeitos negativos em animais marinhos. Por isso, é um produto livre de toxinas em recifes de corais. Esse selo, no entanto, não atesta a segurança para a pele humana. Isso quem atesta é a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) e todo produto que chega no mercado precisa ser testado em humanos e liberado pelo órgão.

A responsabilidade ambiental é o grande palco de debates atualmente, com clamores de emergência anunciados constantemente pela Organização das Nações Unidas (ONU). Por isso, a sociedade tem buscado maneiras de contribuir para reduzir índices de poluição e de impacto negativo ao meio ambiente, que afeta animais, plantas e pessoas. Neste contexto, produtos naturais surgem como alternativa eficaz em diversas situações. Mas não no caso dos protetores solares.

Não é seguro fazer o protetor solar caseiro”. Isso porque “nem mesmo a ciência tem bem estabelecido quais são todos os compostos que podem trazer malefícios à saúde humana”. Portanto, na avaliação do pesquisador, “é bem arriscado preparar protetor solar caseiro, não recomendo que isso seja feito. Adalto Bianchini, professor da FURG O protetor solar ainda é o produto mais seguro para proteger a pele de doenças graves, como câncer de pele.

Para ele, a melhor alternativa para substituir o protetor solar a fim de evitar poluição marinha “é efetivamente identificar nesses protetores solares tradicionais quais os compostos são tóxicos e substituir por substâncias que têm o mesmo poder de filtro solar, mas não causam efeitos negativos. Seria uma manipulação das formas atuais incorporando produtos mais naturais e menos sintéticos. Apesar dessas questões, o professor afirma que não é uma opção não utilizar o protetor solar. Ele ainda é o produto mais seguro e eficaz para proteger a pele humana de doenças graves, como câncer de pele, causada por efeito de raios ultravioletas.

Fonte Ecoa