Guerreira XXL

Pelas lentes de Yana

Yana Vaz rompe barreiras e se consolida como uma das principais fotógrafas brasileiras do surfe em ondas grandes.

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Ex-atleta de bodyboard e formada em educação física, Yana Vaz tem fôlego de sobra e disposição para registrar ondas gigantes direto do lineup.

À parte do prazer de viver desafiando a natureza e os próprios medos em situações extremas, conquistar reconhecimento e valorização a nível mundial é a meta da maioria dos surfistas de ondas grandes e profissionais envolvidos neste esporte, absolutamente, diferenciado.

Agora, imagina se você é uma mulher, bodyboarder, cinegrafista e brasileira? Sem dúvidas, remar contra a maré será apenas mais um dos desafios!

E quando temos alguém que é isso tudo e um pouco mais, que já surfou ondas grandes, filmou ondas gigantes de dentro e fora d’água, driblou a morte algumas vezes e enfrentou todo o tipo de dificuldades para viver seus sonhos, entretanto, sua maior luta é ser reconhecida em um ambiente dominado por homens em um mercado extremamente machista e, por vezes, incoerente. O que fazer?

Pois é, hoje tenho o prazer e a missão de contar um pouco da história de uma monstra do bodyboard brasileiro, assim como da arte de registrar feitos extraordinários do surfe de ondas grandes atual. Falo da minha amiga e uma das pessoas mais incríveis que conheço, a carioca Yana Vaz.

Como são muitos feitos e uma história realmente intensa, dividi o conteúdo em tópicos para que cada momento vivido por essa guerreira seja devidamente descrito, reconhecido e compreendido.

Yana (centro) ostenta o título de campeã mundial de bodysurf em 2017.

Desde cedo Yana teve contato direto com o mar. Aos 3 anos já saía para mergulhar e pescar em um barco com seu pai. Mais experiente, aos 9, sobreviveu a um naufrágio.

Cada vez mais condicionada e íntima do oceano, mergulhando, nadando, correndo e surfando de bodyboard, desenvolveu-se como atleta a ponto de fazer travessias de natação, desafiar ondas grandes e ostentar um título mundial de Bodysurf Feminino, conquistado no ano de 2017 em Itacoatiara.

Formada em educação física e herdeira do legado de sua avó Yara Vaz – pioneira das academias de ginástica no Rio de Janeiro, não aguentou por muito tempo na área administrativa e operacional da academia da família, e foi em busca de algo a mais.

Seu algo a mais começaria a vir a tona de forma despretensiosa, durante uma surf trip para Puerto Escondido, México, no ano de 2012, quando foi com uma turma de amigos do Recreio e Grumari. Já em sua primeira temporada surfou ondas de respeito, caiu em mares grandes, tomou dura das correntes, pegou os tubos da vida, fez amigos do peito e teve seu coração roubado pela energia de Zicatela.

Contraída pelo vírus “Zica”: as bombas de Puerto Escondido tornaram-se o principal palco da fotógrafa nos últimos anos.

Depois de contagiada pelo “Zica Vírus” do bem, ela voltou a Puerto todos os anos, de duas a três vezes numa mesma temporada, inicialmente com o foco maior na produção de conteúdo para seus patrocinadores e evolução nos tubos e ondas pesadas.

Entretanto, sua carreira como atleta foi dando espaço a outra atividade, os registros de surfe. Sua paixão por ondas grandes e Zicatela caíram como uma luva neste momento de muito estudo e investindo na busca pelo profissionalismo, até o icônico swell de 3 de maio de 2015, quando Zicatela recebeu ondas de até 50 pés de face.

Yana estava acompanhando tudo de perto, junto aos big riders brasileiros Felipe Cesarano, Pedro Calado, Rodrigo Koxa, Vitor Faria, Kalani Lattanzi, dentre outros. Dos brasileiros, o único que havia tentado a sorte no auge do swell foi Pedro Calado, mas por ter sido logo nas primeiras luzes da manhã e tudo muito rápido, Yana perdeu a vaca histórica que lançou Calado para o mundo, mas não a foto da onda gigante do bodyboarder Kalani Lattanzi, que rodou o mundo como “A maior já surfada de bodyboard”.

Durante a temporada mexicana de 2016 produziu tantas imagens incríveis com o dream team Gordo Cesarano, Lucas Chumbo e Pedro Calado, que durante o 1º Puerto Escondido Challenge trabalhou como cinegrafista exclusiva de Carlos Burle.

Desbravar lajes cariocas tem sido uma nova missão para Yana Vaz.

O resultado a maioria já sabe e viu nas telas do canal Off e principais mídias de surfe do planeta, um verdadeiro show de imagens e ondas gigantes, além das históricas atuações de Calado e Burle, que ficaram, respectivamente, em terceiro e quarto na prova, documentados no programa Desejar Profundo.

A cereja no bolo desta magnífica temporada mexicana foram suas primeiras indicações ao prêmio XXL, uma em parceria com o big rider sul-africano Matt Bromley, Lucas Chumbo e o xerife local José Ramirez. Fato que se repetiu em 2017, rendendo o terceiro lugar na categoria Wipeout of the Year e um cheque de US$ 1 mil, com a imagem da vaca tenebrosa sofrida pelo herói local Coco Nogales.

Este destaque a nível mundial foi crucial e transformador, impulsionando sua primeira ida a Portugal. Nazaré foi mais uma excelente escola para a carioca desenvolver-se na arte das lentes em condições extremas de surfe. Nesta ocasião, colaborou novamente para projetos do canal Off como Alerta Ondas Gigantes, Manual Ondas Gigantes, Gigantes do Surf, entre outros, e ainda foi finalista do XXL 2016 na categoria Wipeout of the Year, em parceria com o big rider chileno Rafael Tapia.

Com seu trabalho impulsionado pelas participações no Off, vale a pena mencionar a colaboração para o programa Tá No Ar, da Rede Globo.

Sonho de clicar as ondas da temporada havaiana materializou-se em 2015/2016.

O Havaí sempre foi um sonho, que se materializou nas temporadas 2015/16 e na sequência em 2017/18, lhe rendendo um know-how diferenciado. Focada no condicionamento físico e em desenvolver-se também como cinegrafista aquática, ainda no Rio, entrou de cabeça na natação e nos treinos do professor Alexandre, da Aquamundi, junto com Gordo, Calado e Chumbinho. Já no Havaí fez o curso de apneia com o professor Ricardo Taveira e praticou nos lineups de Waimea, Pipeline e Sunset. Durante o maior swell da temporada foi pra Jaws, em mais uma colaboração para o Off.

Sua experiência acumulada desde pequena no mar, aliada ao excelente desempenho na natação e no bodyboard, lhe trouxeram confiança e destreza para encarar, literalmente, no braço, condições desafiadores.

Hoje em dia Yana profissionalizou-se no assunto e acumula feitos inéditos para “uma mulher fazendo imagens de dentro d’água”.

Aproveitando o gancho, importantíssimo citar sua troca de experiências com a cinegrafista aquática mexicana Maria Fernanda, uma das poucas mulheres no mundo a fotografar Puerto Escondido. Assim como Yana, Maria também sofre com a falta de reconhecimento no meio do surfe, e dedica-se para registrar imagens de ângulos e ambientes poucos explorados, como um lineup de Zicatela com mais de 15 pés sólidos, como aconteceu no ano passado quando ambas entraram juntas.

Yana Vaz ao lado da fotógrafa mexicana Maria Fernanda e da surfista Polly Poline a caminho das bombas de Puerto Escondido.Miguel Lopez
Yana Vaz ao lado da fotógrafa mexicana Maria Fernanda e da surfista Polly Poline a caminho das bombas de Puerto Escondido.

O resultado rodou o mundo em uma matéria no site americano The Inertia, com Maria falando a respeito de como foi superar o trauma de um ano antes, quando rompeu os ligamentos do joelho, fotografando Zicatela em um dia grande.

Pra quem não conhece bem o beach break de Zicatela, é bom salientar que, quando o mar passa dos 10 pés, o lineup torna-se uma arena e poucos seres humanos suportam o power das ondas na cabeça, as correntes e tamanha energia do oceano. Pois bem, Maria Fernanda, que é campeã de natação, e Yana, que treinou a vida toda para isso, enfrentaram seus medos e fizeram história onde homens não ousaram se arriscar.

Ultimamente seus maiores desafios tem sido em casa, ao lado de seus amigos e parceiros de exploração das lajes cariocas. Há dois anos garimpando e aprendendo neste terreno pouco explorado, Yana já tem no currículo algumas das fotos mais incríveis já vistas no Brasil, destacando-se mundialmente ao lado de nomes como Gustavo Chumbão, Lucas Chumbo, Carlos Burle, Marcos Monteiro, Alemão de Maresias, Pedro Calado, Eric de Souza e, recentemente, com Cláudia Gonçalves, que surfou uma das ondas mais sinistras da história do surfe feminino brasileiro, e registrada por uma mulher.

Destaque também para seu trabalho em Fernando de Noronha, em um dos maiores swells que já atingiram a Cacimba do Padre, que rendeu destaque em todas as mídias do país e mundo afora.

Os feitos, são memoráveis. Melhor de tudo, motivados por uma paixão. Sua história, digna de filme. Mas, não pense que foi e, muito menos, que é fácil!

Mesmo rompendo fronteiras com seu trabalho, o universo do surf4 ainda é bastante machista e culturalmente costuma valorizar mais os feitos dos homens. Independente da falta de reconhecimento em algumas ocasiões, Yana seguiu em frente, de mangas arregaçadas e buscando melhorar a cada dia, para nossa sorte.

Em seguida começa sua décima primeira temporada mexicana e, como dizem por lá, Zicatela sempre reserva emoções especiais para seus amantes fiéis e de bom coração.

Para saber mais sobre o trabalho de Yana Vaz, acesse o site Yana Vaz Imagens ou seu perfil no Instagram.

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#Itacoatiara 💙 📷 @vazyana

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