Olimpíadas

Italo é ouro

Italo Ferreira derrota algoz de Gabriel Medina e fatura medalha de ouro para o Brasil nas Olimpíadas de Tóquio.

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Italo Ferreira conquista medalha de ouro nas Olimpíadas do Japão.

A primeira medalha de ouro da história do Surfe nas Olimpíadas é do Brasil. Nesta terça-feira (27) Italo Ferreira acaba de superar o japonês Kanoa Igarashi na final dos Jogos de Tóquio e vai ouvir o hino brasileiro no alto do pódio.

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Kanoa Igarashi, Italo Ferreira e Owen Wright no pódio.

Exímio aerialista, Italo venceu a final com manobras de borda. Aos seis minutos de bateria, o brasileiro deu duas batidas verticais e fortes, além de outra mais fraca numa junção. A nota 7.00 foi o primeiro golpe mais contundente de Italo na disputa.

Três minutos depois o brasileiro rasgou, bateu na junção grande de espuma numa esquerda e se distanciou com 5.50 pontos. Nesse momento, o japonês já precisava de 8.67 pra reverter o resultado. Mas veio outro golpe aos 19 minutos. Italo colocou potência e foi vertical em duas batidas, adicionou 7.77 no somatório e deixou Kanoa na necessidade de 14.77 pontos, ou seja, duas ondas para tirar a liderança do brasileiro.

Italo Ferreira ataca a esquerda no caminho para o ouro.

Italo ainda deu outro golpe, com mais duas batidas e 7.37 para aumentar ainda mais a diferença. O japonês, que tirou o brasileiro da luta pelo ouro, ainda tentava, mas errava na escolha das ondas e não dava sorte nas que abriam. O tempo passou e ele não chegou perto de sair da combinação de notas. Placar final: Italo com 15.14 pontos, Kanoa com 6.60 e medalha de ouro para o Brasil.

“Eu vim com uma frase pro Japão: ‘Diz amém que o ouro vem’. E veio, né. Eu acreditei até o final, eu treinei muito os últimos meses e Deus realizou meu sonho. Eu só tenho a agradecer a Deus em primeiro lugar, que me dá oportunidade de poder fazer o que eu amo (voz embargada), de ajudar as pessoas, ajudar minha família… Fui pra dentro d’água, sem pressão, fazer o que eu amo, e consegui o que eu quis, graças a Deus”, disse Italo.

“Eu queria que minha vó estivesse viva para ver isso, o que eu me tornei, o que eu consegui fazer pelos meus pais, por aqueles que estão ao meu redor. Não sei, não tenho palavras, só tenho que agradecer. Eu almejei bastante, eu sonhei. Está lá do lado da minha cama, essa frase que eu falei no início… Todo dia eu orei às três da manhã, pedi a Deus que ele realizasse esse sonho. E está aí, meu nome está escrito na história do Surfe”.

Sobre a torcida brasileira, o medalhista de ouro falou: “Eu nem queria pegar a medalha. Eu juro que eu queria voltar pra dar um abraço em cada um de vocês, que ficaram torcendo. Estou muito grato por tudo, não só minha família, mas recebi uma força imensa dos brasileiros que estavam acompanhando. Sei que é de madrugada (no Brasil), que a galera deve estar cansada, uns estão indo trabalhar, outros tiraram o dia de folga, mas valeu a pena. Obrigado pela torcida, a gente se vê no Brasil”.

Italo também falou sobre o momento do Surfe, um esporte antes marginalizado, mas que hoje é Olímpico e que dá a primeira medalha dourada dos Jogos de Tóquio para o Brasil. “Não só o Surfe, o Skate também fez história, com as meninas, os meninos. Está todo mundo de parabéns! Aqueles que conseguiram a medalha, aqueles que colocaram seus nomes na história também. Queira ou não, vai estar lá pela primeira vez. Vocês fizeram história, a gente fez história. Eu ficava torcendo, assistindo a galera nos outros esportes. Quase quebrei a mesa na torcida para a galera ganhar a medalha de ouro. Rayssinha chegou próximo, Kelvin chegou próximo e aí eu falei: ‘Agora é minha vez’. Aí eu cheguei na final e deu tudo certo, graças a Deus”.

O caminho até o final – O terceiro e último dia do Surfe nos Jogos Olímpicos de Tóquio teve ondas mexidas e algumas séries com mais de 1,5 metro de altura em Tsurigasaki Beach. Em muitos momentos desta terça-feira (27) o mar ficou no estilo “máquina de lavar”, com espuma para todos os lados.

Italo começou o trajeto até a final na terceira bateria do dia, contra o japonês Hiroto Ohhara, válida pelas quartas de final. Assim que a buzina de início soou, o brasileiro entrou numa direita, acelerou e voou muito alto, com rotação completa e aterrissagem perfeita. A nota foi 9.73 pontos, a maior de todo o evento.

HIroto Ohhara cai para o brasileiro Italo Ferreira.

O caminho ficou complicadíssimo para Hiroto. O japonês seguiu lutando, porém passou parte da bateria na necessidade de uma nota no critério excelente, e outra parte precisando de duas ondas para mudar o resultado.

Italo chegou a voar novamente, mas errou, porém soltou boas manobras de backside e venceu com facilidade. A segunda maior nota dele foi 6.57 pontos com duas manobras fortes, sendo a segunda na junção com forçada de rabeta. Antes, ele já tinha feito 6.43 com uma performance de três manobras numa direita.

“Tem muita oportunidade lá dentro. Entrei nessa bateria bem confiante, sabia que se eu pegasse as ondas eu faria as notas. Fui construindo (o somatório) onda a onda. Isso me deixa confiante. Tem duas baterias pela frente, então é continuar na pegada, continuar no ritmo e ir pra cima”, disse Italo após a bateria.

Italo Ferreira no ataque em Tsurigasaki Beach.

Semifinal – Na semi Italo errou quase todos os voos e garantiu a vitória no surfe de borda. Foram sete tentativas de aéreo e só um completado, que valeu 6.50 pontos.

Owen Wright chegou a assustar quando deu duas batidas e tirou 6.00 pontos num momento que precisava de 6.01. Depois Italo fez uma boa junção numa esquerda (6.67) e abriu vantagem. O australiano ainda foi em busca 7.17 que necessitava, porém só conseguiu 6.47 com uma rasgada e uma batida na junção.

“Estou bem confiante. Acho que o vento atrapalhou um pouco algumas manobras que eu tentei executar na bateria, (mas) não precisei. Foi difícil, mas acho que Deus está guardando algo para a final e eu vou com tudo”, comentou Italo após a vitória. Sobre a final ele disse: “Eu só penso em ganhar, me divertir e fazer as melhores notas. Vou ouvir música e ficar dançando até a hora da bateria”.

Italo Ferreira emocionado com a vitória.

Algoz de Medina – O primeiro medalhista de ouro do Brasil nas Olimpíadas de Tóquio vingou Gabriel Medina na final. O brasileiro caiu na semi contra Kaona, numa bateria que teve resultado polêmico.

Após o início avassalador de Medina, Kanoa Igarashi conseguiu a virada perto do fim e colocou o Japão na grande final. Assim como nas quartas, o brasileiro voou alto, e em dez minutos de disputa já tinha as notas 8.33 e 8.43 pontos. Isso deixou o japonês na necessidade de 9.09 pontos para assumir a liderança. O tempo passava e Kanoa não achava ondas com potencial, porém quando restavam sete minutos o japonês acelerou na direita e decolou alto, com uma das mãos na borda, fez o giro completo antes de aterrissar e completou a manobra de forma perfeita.

Gabriel Medina começa a semifinal em alto nível.

A nota demorou a sair, mas quando foi divulgada deu para ouvir os gritos dos japoneses na praia, o que indicava a virada. E ela veio com 9.33 pontos. Medina passou a precisar de 8.58 e só teve uma chance no restante do duelo, porém não chegou perto da nota. A derrota foi pelo placar de 17.00 a 16.76. Logo após a eliminação, as redes sociais foram bombardeadas por posts de brasileiros que não concordaram com a nota dada para Kanoa.

Kanoa Igarashi voa e vira em cima de Gabriel Medina.

Luta pelo bronze – A derrota tirou Medina da luta pelo ouro, mas ele ainda podia conquistar o bronze e foi para a luta contra Owen. O australiano começou bem o duelo e contou com os erros do brasileiro para vencer e garantir o pódio para a Austrália.

Aos cinco minutos de bateria, Owen soltou duas rasgadas e uma batida para largar com 6.50 pontos. Medina deu o troco na sequência com uma rasgada e um aéreo reverse, que completou após cair de layback antes de se reequilibrar e ficar em pé. A nota foi 5.43.

Quando restavam 12 minutos para o fim, os dois atletas surfaram. Primeiro foi Medina, em busca dos 3.18 que precisava. Ele executou duas batidas verticais e uma rasgada leve numa direita. Logo depois Owen foi para a esquerda, executou um floater e ganhou a seção para executar duas rasgadas, a segunda bem alongada e invertendo bem a prancha.

Mesmo Medina tendo surfado primeiro, a nota de Owen foi divulgada antes. Os 6.50 pontos deixaram o brasileiro na necessidade de 6.21. Passado mais alguns instantes, Medina levou 6.00.

Owen Wright fica com o bronze.

Dali pra frente nada deu certo, inclusive uma tentativa de aéreo muito alto a dois minutos do término. Fim de bateria e medalha de bronze para a Austrália.

“Surfei bem, infelizmente não deu. Agora é voltar pra casa e descansar”, disse Gabriel Medina após a derrota. O brasileiro também falou sobre a polêmica bateria contra o japonês Kanoa Igarashi, na semifinal. “É triste quando isso acontece. Muita gente mandou mensagem… É difícil passar o ano treinando, se esforçando e chegar nisso. Mas minha parte eu fiz. Estou amarradão, fiz o meu melhor e agora é continuar trabalhando. Tem coisas que não dá pra entender, mas tinha que ser assim”.

Sobre o aéreo que poderia ter dado a virada sobre Owen, na disputa do bronze, Medina disse: “Eu precisava de um seis baixo (nota) e achei que tinha virado, mas… Já aconteceu tanta coisa, que na real o que vier é lucro. Estou mais preocupado em surfar e fazer o meu melhor. É difícil esperar dos outros, não é? Vou tentar fazer o meu”.

Gabriel Medina perde duas baterias seguidas e fica sem medalha.

Vitória nas quartas de final – Antes de perder duas baterias seguidas, Gabriel Medina subiu o sarrafo na segunda disputa das oitavas de final com um aéreo de rotação completa. Ele eliminou Michel Bourez.

Após quatro tentativas frustradas, aos 11 minutos de bateria Medina fez a primeira nota consistente do duelo. Os 6.33 pontos foram garantidos com uma rasgada e duas batidas fortes de backside. Três minutos depois ele fez o que ninguém tinha conseguido até aquele momento nas Olimpíadas de Tóquio.

Medina acelerou numa direita e voou alto, sem segurar a prancha, fez uma rotação completa e aterrissou de forma perfeita no seco, na base da onda. A nota foi 9.00 pontos, a maior de toda a competição até aquela fase da prova.

Michel Bourez perde para Gabriel Medina nas quartas.

Nesse momento, o francês precisava de duas ondas (15.33) para reverter o resultado. Michel até conseguiu diminuir a diferença com duas batidas fortes (6.73), mas mesmo surfando um tubo perto do fim (6.93) ele não conseguiu os 8.61 pontos que precisava.

O francês se despediu da prova com 13.66 pontos de somatório, marca superior à conquistada pelo vencedor da bateria anterior (12.60) Kanoa Igarashi.

Bateria da medalha de ouro Masculina

Italo Ferreira (BRA) 15.14 x 6.60 Kanoa Igarashi (JAP)

Kanoa Igarashi, Italo Ferreira e Owen Wright na cerimônia de premiação.

Bateria da medalha de bronze

Owen Wright (AUS) 11.97 x 11.77 Gabriel Medina (BRA)

Semifinais

1 Kanoa Igarashi (JAP) 17.00 x 16.76 Gabriel Medina (BRA)
2 Italo Ferreira (BRA) 13.17 x 12.47 Owen Wright (AUS)

Quartas de final Masculinas

1 Kanoa Igarashi (JAP) 12.60 x 11.00 Kolohe Andino (EUA)
2 Gabriel Medina (BRA) 15.33 x 13.66 Michel Bourez (FRA)
3 Italo Ferreira (BRA) 16.30 x 11.90 Hiroto Ohhara (JAP)
4 Owen Wright (AUS) 12.74 x 7.83 Lucca Mesinas (PER)

Bateria da medalha de ouro Feminina

Carissa Moore (HAV) 14.93 x 8.46 Bianca Buitendag (AFR)

Bateria da medalha de bronze

Amuro Tsuzuki (JAP) 6.80 x 4.26 Carolina Marks (EUA)

Semifinais

1 Bianca Buitendag (AFR) 11.00 x 3.67 Carolina Marks (EUA)
2 Carissa Moore (HAV) 8.33 x 7.43 Amuro Tsuzuki (JAP)

Quartas de final Femininas

1 Bianca Buitendag (AFR) 9.50 x 5.46 Yolanda Hopkins (POR)
2 Carolina Marks (EUA) 12.50 x 6.83 Brisa Hennessy (CRC)
3 Carissa Moore (EUA) 14.26 x 8.30 Silvana Lima (BRA)
4 Amuro Tsuzuki (JAP) 13.27 x 11.67 Sally Fitzgibbons (AUS)