Niasi / Tribuna FM 1988

Picuruta 3 X 2 Dadá

Uma das baterias mais polêmicas dos anos 80 aconteceu entre o santista Picuruta Salazar e o carioca Dadá Figueiredo no Canto do Maluf, Guarujá (SP).

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A bateria envolvendo o regular santista Picuruta Salazar e o carioca goofy Dadá Figueiredo deu o que falar na final do Niasi / Tribuna FM 1988, realizada no Canto do Maluf, Pitangueiras, Guarujá (SP).

Vi a bateria da areia e até hoje fico pensando que o melhor resultado seria o empate, diante do surfe vibrante e tomado dos finalistas. Confesso ter ficado bem dividido quanto ao resultado e à minha torcida especial, afinal sempre fui amigo dos dois atletas.

Fiz várias entrevistas com os dois para a Fluir. A entrevista com o Dadá foi bem mais comentada na época, pois ele falava e apavorava até mesmo o patrocinador, o falecido Roberto Valério, dono da Cyclone.

Mas, isso não vem ao caso. O que importa é a bateria dos caras. O Dadá aproveitou melhor as esquerdas daquele canto malufento bem poluidaço pra variar. E em pelo menos duas, pegou no outside, deu aquelas puxadas monstro dele e fez as ondas até o final.

Já o Gato, deu duas pauladas bem foda lá fora em duas esquerdas bem escolhidas, provavelmente as melhores da bateria, e isso foi determinante para o resultado final, 3 a 2 para o santista que é corinthiano.

Muita gente achou que o resultado pesou para o Picuruta por conta das manobras mais fortes no outside. Enquanto outros valorizaram o melhor aproveitamento do Dadá de uma maneira geral, do outsite à beirinha.

Vi ao vivo e revi este vídeo do Realce várias vezes. E a minha tendência é avaliar o quanto é dura a vida do juiz de surfe. Cada um tem o direito de avaliar o resultado de acordo com alguns conceitos objetivos e outros subjetivos.

Qualidade e tamanho da onda, grau de dificuldades na execução das manobras, sucesso na realização das manobras, enfim, informações plenamente objetivas e claras, que simplesmente não podem variar muito de juiz para juiz.

Porém, a disputa também é vista com subjetividade, ou seja, cada um dos cinco juízes tem o direito de viajar no que ele acha mais natural, mais completo, mais radical, mais deep inside, mais isso e mais aquilo, sem ele ser obrigado a detalhar em que momento da subjetividade ele resolve dar a bateria para um ou para outro.

Enfim, é muita subjetividade. No pior sentido da subjetividade, não se sabe jamais se o juiz toma uma decisão descabida, incerta ou prejudicial ao surfista de camiseta amarela. Ele está amarelado no seu conceito e a subjetividade se torna a areia movediça do julgamento do surfe.

Não acho que a bateria do Picuruta 3 X 2 Dadá resvalou neste detalhe mais sombrio da subjetividade. Mas, foi criada a polêmica e a bateria até hoje é comentada.

Naquela época, eu trabalhava na revista Inside, de Santa Catarina, do falecido editor Ledo Ronchi, pai do excelente surfista Ícaro Ronchi. Não sei onde foi para minha matéria, mas eu acho que escrevi mais ou menos isso aí, se a memória não estiver meio zoada.

Informações complementares do site Data Surfe:

Tribuna FM/Niasi
3ª etapa do Circuito Brasileiro
Local: Pitangueiras, Guarujá (SP)
Data: maio de 1988

Categoria Profissional

1 Picuruta Salazar (SP)
2 Dadá Figueiredo (RJ)

Longboard

1 Wadih Mansur (Demais finalistas: Cisco, Jefferson Cardoso, Rodolfo Carbone, Calros Mudinho e Rico de Souza)

A premiação total foi de 2 milhões de cruzados; o campeão ganhou 350 mil e o segundo 200 mil cruzados. Segundo texto de Paulo Lima, o campeonato “provou duas coisas decisivas (…) eventos não dependem exclusivamente da boa vontade das marcas de surfwear (…) e não são necessárias estruturas faraônicas para o desenrolar perfeito de uma competição”.

“Os amadores deram um show (…) liderados pelo campeão mundial Fábio Gouveia (…) Dodenir Braga, Douglas Lima, Flávio Padaratz, Piu, Wagner Pupo (…) o top 16 Neno do Tombo perdeu de 5 a 0 para Roberto Cavallero (…) o atual vice nacional Pedro Muller foi derrotado por Gouveia (…)”.

“Outro ponto interessante foi a volta de Picuruta Salazar, contrariando a todos, que diziam que estava gordo, acabado, cansado (…) apesar de uma final controvertida diante de Dadá Figueiredo, mostrou um surfe afiado e voltou a ocupar o posto que foi seu por quase dez anos”.

O texto também destaca Magnus Dias, Tinguinha, David Husadel, Paulo Matos e Cláudio Marroquim; e dedica quase três parágrafos ao longboard, relatando que na final “Wadih Mansur saiu de um tubo dando soquinhos pro ar num estilo engraçado que ao mesmo tempo impressiona bastante os juízes”.

Cobertura Trip

Fonte Data Surfe.