Meio ambiente

ICMbio estuda liberar Ilha dos Lobos

Órgão responsável pelo gerenciamento da ilha localizada no litoral gaúcho fará pesquisa de impacto ambiental com duração de três anos para analisar possibilidade da volta do surfe.

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Esquerda de sonho quebra vazia na bancada afastada da costa da Ilha dos Lobos.

A notícia da reabertura da Ilha dos Lobos, em Torres (RS), para o turismo esportivo praticado em caiaques e SUPs, veiculada aqui no Waves na última semana, reacendeu a esperança da comunidade do surfe de poder voltar a desfrutar do pico. O local abriga uma das esquerdas tubulares mais poderosas e perfeitas do litoral brasileiro, frequentemente comparada a picos de classe internacional como Teahupoo.

No entanto, a liberação do surfe, sobretudo para a modalidade rebocada, o tow-in, dependerá de um estudo de impacto ambiental a ser realizado pelo ICMBio ao longo dos próximos três anos. Por enquanto, o acesso recreativo às águas da ilha é permitido apenas para praticantes de caiaque e stand up paddle (SUP), realizados através de embarcações credenciadas. O desembarque na ilha continua estritamente proibido.

O veto ao surfe, imposto em 2003 pelo Ibama, antigo gestor do Refúgio de Vida Silvestre da Ilha dos Lobos (REVIS), permanece em vigor. Embora um levantamento do ICMBio na “Análise de Percepção para o Planejamento do Uso Público do REVIS Ilha dos Lobos: Identificando Características do Turismo Local por Meio das Redes Sociais” tenha identificado o surfe como uma atividade de grande interesse público, e o esporte esteja também contemplado no Plano de Uso Público da Unidade de Conservação (UC), sua prática imediata esbarrou em questões de segurança.

Segundo o Instituto, o surfe de remada foi classificado com nível máximo de risco de acidentes devido à proximidade e ao perigo de colisão com as pedras. Por essa razão, o ICMBio optou por não viabilizar a prática a curto prazo, liberando apenas caiaque e SUP, que são indicados para a contemplação, com forte recomendação para que os praticantes permaneçam atrás da zona de arrebentação, evitando surfar as ondas.

Tow-in no foco do estudo

A grande expectativa da comunidade, principalmente do surf e de ondas grandes, reside no tow-in. A onda enorme que se forma na Ilha dos Lobos, em condições específicas, é reconhecida e um dos valores fundamentais contidos no Plano de Manejo do REVIS. Atestando a importância e a complexidade da prática, o ICMBio tem aprofundado a parceria com a Associação de Surfistas de Torres desde 2016. O trabalho colaborativo resultou na estruturação de uma pesquisa científica de três anos. O objetivo central é avaliar a viabilidade ambiental do tow-in na Unidade de Conservação.

Somente após a conclusão dessa pesquisa e se a prática se mostrar ambientalmente segura, o ICMBio poderá estabelecer o formato e os regramentos específicos para a prática do tow-in no pico. O objetivo do Instituto é conciliar a conservação do ambiente e da fauna marinha com o uso público, construindo um caminho que possa potencializar o desenvolvimento de atividades turísticas, incluindo o surfe de ondas grandes, de forma sustentável e segura.

Confira na integra o esclarecimento sobre a possiblidade do retorno do surfe à Ilha dos Lobos enviado pelo ICMbio ao Waves:

Com base em um trabalho intitulado: “Análise de Percepção para o Planejamento do Uso Público do REVIS Ilha dos Lobos: Identificando Características do Turismo Local por Meio das Redes Sociais“ foram levantadas cinco principais atividades de interesse de uso das pessoas neste ambiente natural.

As atividades foram: mergulho, surfe, passeio de barco, stand up paddle (SUP) e caiaque. Com base neste levantamento iniciaram-se os trabalhos específicos para viabilizar as atividades por meio da estruturação e elaboração de instrumentos de gestão (Plano de Manejo, Plano de Uso Público, Protocolos Operacionais e de Segurança) que determinam e regram atividades de visitação no REVIS Ilha dos Lobos.

Dada a complexidade de cada atividade, por ora estão estruturadas 3 atividades: o caiaque e stand up paddle e os passeios de barco. Conforme estamos divulgando, a Ilha dos Lobos já está aberta para visitação através das práticas de caiaque e SUP. Estas visitas são feitas de forma autônoma pelo visitante, levando seu próprio equipamento.

Para receber a autorização de acesso é necessário fazer o agendamento com um dia de antecedência e preencher o Termo de Conhecimento de Risco. Já os visitantes que não praticam o esporte, podem visitar a Ilha dos Lobos através dos tradicionais passeios de barco, que serão realizados por empresas comerciais a serem credenciadas pelo ICMBio via edital, com previsão de início das operações na temporada de verão 2025/2026.

Em relação ao surfe esta é uma atividade de interesse apontada na pesquisa e portanto, ela não é proibida, e está contida no Plano de Uso Público, porém ainda deverá ser avaliada por uma pesquisa científica para analisar sua viabilidade ambiental. O que difere basicamente a liberação das modalidades de caiaque e stand up paddle do surfe de remada são as questões de segurança envolvidas.

A partir do ponto em que as atividades de caiaque e stand up paddle sugerem uma prática em condições mais brandas de mar, elas também são indicadas para contemplação e uso ao redor da ilha, existindo uma forte recomendação do ICMBio de que não se realize o drope das ondas, ação esta que envolve alto risco de acidentes, como colisão com as rochas e fundo, sendo indicado ainda que os praticantes permaneçam atrás da zona de arrebentação.

Já o surfe, mesmo também sendo entendida como uma modalidade de baixo impacto ambiental, se refere exclusivamente ao drope de ondas, o que eleva ao nível máximo o risco de acidentes na prática da atividade na ilha. Fatores como a possibilidade ampla de surfe ao longo de toda a costa da região também foram levados em consideração para que não houvesse no curto prazo ações para viabilizar a prática na UC. 

Relacionado ao surfe de tow-in, esta modalidade representa uma questão de exclusividade de formação de onda em nível mundial e que desperta o interesse para sua prática. A onda gigante, que se forma em condições oceanográficas específicas poucas vezes ao longo do ano é um dos recursos e valores fundamentais contidos no Plano de Manejo do REVIS Ilha dos Lobos. Visto a complexidade desta modalidade, desde 2016 o ICMBio vem estreitando a relação com a Associação de Surfistas de Torres e nos últimos anos construindo um entendimento e refinamento das possibilidades de surfe na Ilha dos Lobos. 

Tal construção culminou na estruturação uma pesquisa científica a ser desenvolvida ao longo de três anos que avaliará a viabilidade ambiental da prática e, a partir disto, caso seja viável, o ICMBio poderá estabelecer o formato e regramentos.

O objetivo das ações dentro da UC tem como premissas a conservação do ambiente e da fauna marinha em compatibilidade com a presença humana, integrando cada vez mais as pessoas aos ambientes naturais, e, com isto, construindo um caminho de percepção e consciência capazes de gerar proteção e potencializar o desenvolvimento de atividades turísticas sustentáveis.