Surfe guia Europa

Viagem insólita

Lista com dez lugares improváveis para o surfe na Europa inclui países como Grécia, Dinamarca, Suécia, entre outras nações sem tradição em termos de ondas.

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Caroline Marks busca suas origens na GréciaNatan Adams
Caroline Marks busca suas origens na Grécia

Uma das situações mais curiosas na vida de um surfista “convencional” surge quando é hora de escolher o próximo destino para uma viagem a dois, independentemente da dinâmica do casal. Explorar o Velho Mundo abre portas para experiências culturais, gastronômicas, históricas e românticas, deixando o surfe em segundo plano, o que pode ser um alívio para o seu companheiro(a) de viagem.

 

Nesse caso (sem surfe), você terá mais oportunidades para explorar museus e desfrutar de cafés pitorescos em Paris, enquanto se imagina surfando, mesmo que seja com os dedos em ondinhas feitas na toalha da mesa ou mesmo  ponderando sobre a distância até Biarritz; e talvez planejando comprar quilhas gringas a um preço acessível.

 

Brincadeiras à parte, montamos um itinerário com dez destinos surpreendentes para a sua próxima jornada europeia, presumindo que a intenção não seja necessariamente surfar, mas que se houver possibilidades, quem sabe?!. Desfrute do processo de planejamento e divirta-se.

 

É importante mencionar que este roteiro foi elaborado de forma aleatória, sem levar em conta a geografia ou uma rota específica. Portanto, não se trata de um guia sequencial, no qual você seguiria do país 1 ao país 10 de maneira funcional.

 

 

1 – Alpes Suiços: Começamos por um dos mais inusitados lugares do mundo, aquele que você jamais pensou em surfar, os Alpes Suíços! Quando se pensa em Suíça as imagens que nos vem à cabeça: bancos, canivete, chocolate, neve muita neve, esqui e alpes. Entretanto quem estiver ali pela Suíça curtindo os Alpes pode dar uma remada na piscina de Alaia Bay. Recém inaugurada, a piscina conta com a tecnologia Wavegarden e garante altas marolas com o visual dos Alpes ao fundo. Algo surreal.

 

 

2 – Munique, Alemanha: Seguimos para a Alemanha, onde em Munique, há o famoso Eisbach River, no qual é possível praticar surfe em uma onda estática formada pela correnteza do rio. O surfe no rio de Munique, frequentemente chamado de “Eisbachwelle” ou simplesmente “Eisbach” ganhou popularidade ao longo dos anos. Munique é uma cidade conhecida por sua rica história, cultura e paisagens pitorescas. O Eisbach é um pequeno braço de rio artificial que passa pelo Englischer Garten, um dos parques mais famosos de Munique.

 

 

3 – Scheveningen, Holanda:  Depois seguimos para  a Holanda, mais especificamente Amsterdã, lugar que povoa o imaginário dos surfistas brasileiros há muito tempo. A possibilidade de entrar em um Coffee Shop e poder beber aquele cafezinho para acordar sempre nos fez buscar essa escala a caminho de Bali.

 

Todavia, se você estiver na Holanda pode dar uma esticada até Scheveningen, epicentro da cena de surfe naquele país. Como se deve esperar dos chamados Países Baixos, as condições no pico são bastante mutáveis (mutantes) e geladas. Na maior parte do tempo, são as ondulações de vento do norte que trazem os swells que geram ondas mexidas e difíceis. De vez em quando, no entanto, as ondulações de sudoeste entram, gerando boas ondas nas praias próximas ao píer e aos quebra-mares.

 

 

4 – Aberdeen, Escócia:  Se em seu roteiro e por algum acaso o destino escolhido for a Escócia, pode ficar tranquilo. Além do whisky escocês, há algumas possibilidades de surfe no país das gaitas de fole. Uma das grandes vantagens de estar na Europa é aquela frase brasileira: “Nossa, aqui tudo funciona.” E no caso de Aberdeen, essa expressão se encaixa perfeitamente.

 

O local conta com uma excelente infraestrutura, incluindo estacionamento fácil e gratuito. São três quilômetros de praia à sua escolha. Quando as ondas estão maiores (o que é raro no verão), o lado sul geralmente oferece melhores condições. Além disso, a porção sul possui centenas de metros de costa sem quebra-mares.

 

Entretanto, o desempenho na maré alta não é tão favorável. A parte norte da praia, mais exposta, tende a ter ondas maiores. Geralmente, há uma predominância de direitas, mas quando o vento vem do norte, as esquerdas também são uma boa opção. Os quebra-mares estão espaçados a cada 100 metros e podem ser perigosos para iniciantes quando há ondas maiores na maré alta.

 

 

5 – Brandon Bay, Irlanda: A Baía de Brandon, Irlanda, tem aproximadamente 6 km de comprimento, com uma multiplicidade de picos diferentes espalhados ao longo de sua costa. Ela recebe bem a maioria das ondulações e, embora nenhuma tenha uma qualidade que mereça relevância, pode ser elogiada por sua consistência, especialmente nos meses de verão. Na verdade, diz-se que “se não está funcionando em Brandon Bay, não está funcionando em nenhum lugar!”

 

Extremamente popular, tanto entre praticantes de windsurfe quanto de kitesurfe, Brandon Bay já foi palco de vários campeonatos mundiais e da equipe Storm Chase no inverno de 2013.

 

À medida que a baía se curva para leste, geralmente as ondas melhoram, mas você ficará surpreso com o tamanho e a diversão que elas podem oferecer nos picos Inch Strand & Reef, Coumeenole, Ballydavid, Brandon Bay e Garywilliam Point.

 

 

6  – O Havaí Gelado:  Tudo o que não se espera do Havaí é que ele seja gelado. No caso da Baía de Klitmøller, na Dinamarca, você pode se surpreender positivamente. Klitmøller, frequentemente chamada de “Cold Hawaii” (Havaí Frio), ganhou reconhecimento como um dos principais picos de surfe na Europa, onde há inclusive uma sólida comunidade de surfistas.

 

Klitmøller está localizada na costa noroeste de Jutland, de frente para o Mar do Norte. A baía apresenta uma combinação de fundos de areia e recifes rochosos, criando uma variedade de tipos de ondas que atende a diferentes níveis de habilidade.

 

Oliver Hartkopp em Klitmøller, Havaí gelado. Lars Gothe
Oliver Hartkopp em Klitmøller, Havaí gelado.

 

Uma das características marcantes da cena de surfe em Klitmøller é a sua consistência. As ondulações do Mar do Norte chegam com bastante consistência ao longo do ano. As  temperaturas da água, claro, são baixíssimas, contudo não há crowd e nos dias bons podem haver paredes limpas e abrindo, com bons tubos.

 

A cultura do surfe em Klitmøller é profundamente enraizada e não é incomum ver surfistas de todas as idades e níveis de habilidade pegando ondas. A própria cidade abraçou sua reputação como destino de surfe, com lojas, escolas e acomodações atendendo às necessidades dos surfistas que visitam a região.

 

 

7 – Surfe no Fiorde de Hoddevik, Noruega: Com cenários espetaculares de fiordes e montanhas, esta é uma opção para quem realmente tem coragem de enfrentar o frio! Só que dessa vez você está nas águas de um fiorde. (grande entrada de mar entre altas montanhas rochosas, originada por erosão causada pelo gelo de antigo glaciar).

 

Surfar na Noruega exige coragem e disposição. O país oferece ótimas ondas, desde que você esteja disposto a enfrentar águas geladas, muito geladas. Você precisará de botas, luvas e um capuz para encarar as condições. Mas o resultado vale a pena: surfar em lineups vazios, com cenários surreais – uma viagem absolutamente única e inesquecível.

 

O visual insólito no fiorde da Noruega.Surf Altas
O visual insólito no fiorde da Noruega.

 

A época ideal para surfar na Noruega depende de sua habilidade e resistência ao frio. O inverno (de novembro a março) traz ondulações maiores e consistentes, mas também temperaturas mais baixas. O verão (de abril a outubro) oferece ondas menores, adequadas para todos os níveis, e condições mais amenas.

 

Outro fator crucial na Noruega é a quantidade de luz solar. Em janeiro, o sol pode se esconder por apenas algumas horas, o que pode afetar o surfe. Em contrapartida, no verão, você pode surfar até a meia-noite, se desejar.

 

 

8 – Vodca e surfe na Rússia: Se você pensa que na terra de Vladmir Puttin não há ondas, está enganado. A terrinha da vodca conta com alguns picos interessantes. Entre eles, Kamchatka, um lugar verdadeiramente espetacular. Basta sair às ruas e olhar à distância para entender por quê: os olhos sempre são atraídos pelos gigantes – os vulcões de Kamchatka.

 

Os moradores locais de Kamchatka há muito tempo já se acostumaram a conviver com vulcões, ursos e até mesmo o caviar vermelho. No entanto, a possibilidade de surfar na península foi realmente uma novidade. E não é apenas possível, mas entre os surfistas experientes, Kamchatka é reconhecido como um local promissor e um dos melhores para surfar na Rússia.

 

A Rússia oferece alguns picos com boas ondas. Na foto, Kamchatka.Surf Atlas
A Rússia oferece alguns picos com boas ondas. Na foto, Kamchatka.

 

No inverno, há a possibilidade de encontrar ondas verdadeiramente grandes e desafiadoras. No verão, algumas escolas de surfe são instaladas, criando um clima similar ao de um acampamento de surfe: os surfistas vivem em barracas, cozinham sobre fogueiras e contemplam o magnífico  pôr do sol.

 

Durante o inverno, embora a costa não congele, a temperatura da água cai para 0 / -2 graus Celsius. Mesmo nesse período, há espaço para o surfe. Contudo, as condições são bem diferentes – é um ambiente frio e desafiador.

 

9 – Surfe grego: O surfe na Grécia é predominantemente para quem curte velejar, principalmente de kitesurfe e suas variações. Parece improvável, certo? No entanto, é possível. Ondas surgem neste recanto famosamente tranquilo do Mar Mediterrâneo, onde a rotina geralmente consiste em aproveitar o sol em ilhas paradisíacas e comer tanto que mal se consegue se mover.

 

É certo que a Grécia não oferece as mesmas ondas tubulares de shore breaks e point breaks que você encontra em outras cidades europeias como Portugal ou Espanha. No entanto, com mais de duas mil ilhas e vastas extensões de litoral continental, há definitivamente algo a se buscar em termos de surfe. A chave é esperar pelos meses de inverno, quando ventos poderosos do oeste podem gerar ondulações nas praias de frente para o oeste.

 

Alguns picos na Grécia podem surpreender.Surf In Greece Facebook.
Alguns picos na Grécia podem surpreender.

 

O período ideal para praticar surfe na Grécia ocorre durante os meses de inverno, de novembro a março. Nesse intervalo, as ondulações de vento e, ocasionalmente, as ondulações refratadas do Atlântico, provenientes de distâncias imensas, podem atravessar o estreito ao sul da Sicília, Itália, e ganhar força em Creta e na região oeste do Peloponeso.

 

As temperaturas da água chegam a quase um dígito, exigindo o uso de roupas de neoprene. No entanto, vale mencionar que há alguns locais destacados em nosso guia de surfe na Grécia que funcionam melhor no verão, como Tinos e Ikaria. Vale lembrar que a top surfer Caroline Marks tem ascendência grega.

 

 

10  – Surfe na terra de Leonardo: O surfe na Itália pode não ser o primeiro destino que vem à mente ao planejar uma viagem de surfe pela Europa. Lugares como o Algarve, Hossegor e o País Basco têm uma variedade de opções que podem ser consideradas entre os melhores destinos do mundo para surfar. No entanto, não podemos ignorar o fato de que a Itália é cercada por mares em três lados, possuindo mais de 7.500 km de litoral, várias ilhas e até mesmo lagos nas montanhas com potencial para gerar ondas. Vale a pena ressaltar que o surfe na Itália não se trata de ondas perfeitas e poderosas. O que a Itália oferece é uma experiência mediterrânea, com paisagens deslumbrantes de litorais cercados por montanhas, longos almoços pós-surfe à base de frutos do mar e pizza, e, claro, excelentes vinhos.

 

 

Os picos de surfe em si são poucos e distantes entre si, mas estão pontuados por territórios inexplorados, onde apenas os locais têm o conhecimento para apontar os melhores picos. Entre os destaques, estão a selvagem costa oeste da Sardenha e os pontos emergentes na baía da Ligúria, que oferecem quebras portuárias angulares capazes de proporcionar uma qualidade surpreendente. Todos esses locais funcionam melhor durante o inverno, então é recomendável trazer sua roupa de borracha para aproveitar ao máximo a experiência de surfe na Itália.

 

A Sardenha tem picos com altas ondas.Nils Astrologo
A Sardenha tem picos com altas ondas.

 

Na costa oeste da Sardenha você pode realmente conhecer um surfe de alto nível na Itália. O local capta o swell antes de ele atingir o continente e produz, possivelmente, as melhores ondas do país. O recife Silver Rock, na costa oeste central da Sardenha, cria esquerdas tubulares e direitas super rápidas com swell entre 2 e 12 pés proveniente do sudoeste. A onda funciona mesmo com vento terral e é uma opção confiável.

 

No mais, siga descobrindo novas possibilidades. O surfe é inesgotável.

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