Puerto Alegre

Gaúchos escondidos no México

Thiago Rausch produz Puerto Alegre, seu primeiro curta-metragem, em que narra histórias de gaúchos nas icônicas ondas de Puerto Escondido, México.

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Depois de alguns anos produzindo a série de matérias “Puerto Alegre”, primeiro para a saudosa revista Solto e, posteriormente, escrevendo aqui para o Waves, senti que havia chegado a hora e a oportunidade de transformar essa história em um curta-metragem.

Depois de sete anos, em 2022, novamente tive o privilégio de passar uma larga temporada em Puerto Escondido, México. Um dos meus objetivos, além dos tubos de Zicatela, era entrevistar meus conterrâneos que por lá passariam, para saber de suas aventuras no icônico beach break.

Com essa ideia em mente, juntei o know-how adquirido com as produções passadas, captei os depoimentos com o celular, fui atrás das imagens e liberações com surfistas e cinegrafistas, organizei tudo e botei a mão na massa.

Sabia e sei bem pouco de edição, é verdade. Todavia, no final das contas, o entusiasmo creio que falou mais alto. Foram horas, noites e madrugadas a fio na frente do computador, detalhes intermináveis, erros, acertos e muito aprendizado, num processo independente, no melhor estilo de surfista para surfista.

Pois bem, em Puerto Alegre 2022 – O Filme, temos um compilado de alguns dos melhores momentos dos surfistas gaúchos nos últimos tempos em Zicatela. Destaque para Pedro “Manga” Aguiar, Bento Cuervo e Cristiano “Grão” Bins, três ícones do surfe underground de Porto Alegre e que marcaram época em Puerto, inspirando toda uma geração, inclusive quem aqui escreve.

Com a visão de quem realmente manda no campinho, a participação do casal de legends locais José Ramirez e Roxel Perez traz um tempero especial ao caldo.

Após a sessão épica da gauchada, o curta apresenta os surfistas que marcaram presença na temporada passada, onde cada um fala de suas experiências e impressões do pico.

Abrindo os depoimentos, temos o experiente surfista Gustavo Machado, que fazia sua estreia em Zicatela, após anos planejando e mentalizando estar ali. Surfou seus tubos, tomou suas vacas, se jogou nas bombas e concluiu a missão com méritos. Prometeu e merece voltar.

Na sequência, temos o soul surfer Ramiro Salazar resumindo sua passagem por lá. Como ele mesmo relata sobre seu aprendizado, “tem que ter paciência e calma nos caldos, e acreditar nos tubos sempre”. Sem dúvidas, com as ondas que pegou e tudo que vivenciou, a busca pela onda da vida só irá subir de nível!

Representando a força das gurias e do bodyboard do sul, Teresa Sukienik chega com a moral e sabedoria de quem já viveu algumas situações intensas em Puerto. Pela humildade nas palavras ao falar de si, não imaginamos o quanto essa mulher é corajosa. Não é por acaso que tem nosso respeito e carinho, assim como dos locais mexicanos.

A nova geração marcou presença com os queridos Enzo Gavioli e Artur Coimbra. Ambos visitando Puerto pela segunda vez e mostrando bastante determinação com a onda, tiveram momentos de superação e redenção. São dois guris bem educados e casca-grossa, quero muito ver suas próximas temporadas e toda evolução que ainda terão.

Finalizando, falo sobre a minha experiência como surfista. Confesso que no princípio desta sétima investida estava na dúvida se conseguiria elevar o nível que havia atingido em 2016, que era até então a minha última temporada completa, e além disso, se suportaria bem ao me colocar nas mesmas situações de outrora. Duas ondas resumiram essa história, me trazendo a certeza do que ainda posso e vou evoluir neste sagrado pico do surfe mundial.

Ah, como todo filme de surfe que se preze deve ter, o bônus nos presenteia com o personagem local Miguel Sapito falando do seu enigmático amigo Pedro Manga, que também nos contempla com sua sabedoria ao apagar das luzes.

O quão improvável é um surfista portoalegrense ou do interior do estado, que aprendeu a surfar no verão em Tramandaí, Atlântida ou até mesmo Torres, surfar um tubão em uma onda tão complexa como Zicatela, poucos irão compreender. O fato é que sempre terão alguns bons guerreiros treinando, tentando e conseguindo fazer, pelo menos parecido, como fizeram Manga, Grão e Bento.

Na foto de capa, Pedro “Manga” Aguiar, imagem de Marcelo Falavigna.

Produção independente: Pampa Barrels
Incentivo cultural: Dado Bier