Museu do Surfe

Timothy Leary e o surfista evolucionário

Coluna Museu do Surfe, de Gabriel Pierin, presta homenagem ao psicólogo e neurocientista Timothy Leary, que também estudava surfe como essência de experiência humana.

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Foi no dia 22 de outubro de 1920, em Springfield, Massachussetts, que nasceu o polêmico Dr. Timothy Leary. Guru da contracultura nos Estados Unidos dos anos 1960, o neurocientista foi expulso da Universidade de Harvard depois de realizar uma reunião experimental de terapia psicotrópica com uma turma de alunos.

Leary frequentou a Academia Militar dos EUA em West Point e formou-se em psicologia na
Universidade do Alabama, enquanto servia ao Exército. Mestre em psicologia da Washington State University e doutor pela Universidade da Califórnia em Berkeley, Leary dirigiu o centro de pesquisas psicológicas no Kaiser Foundation Hospital, em Oakland, Califórnia.

Foi como professor na faculdade de psicologia de Harvard, em 1960, que Dr. Leary
experimentou pela primeira vez alucinógenos, os cogumelos sagrados dos rituais religiosos
mexicanos. Mais tarde, ele descreveria isso como a experiência religiosa mais profunda de sua vida, decidindo levar sua carreira ao desenvolvimento dos benefícios psicológicos das drogas psicoativas.

Em 1961, interessou-se pela dietilamida do ácido lisérgico, ou seja, LSD, uma droga
psicodélica sintética à base de um fungo de grãos, desenvolvida pela primeira vez em 1938.

Famoso por suas sessões evolucionistas, Leary conduzia os participantes a um mergulho no
universo interior por meio do uso de lisérgicos. O trabalho originou o livro A Experiência
Psicodélica, lançado em 1962.

Leary foi seguido por uma geração que buscava a iluminação espiritual através de viagens psicodélicas, influenciou bandas e personalidades como os Beach Boys, Beatles, Bill Gates e Steve Jobs, John Lennon e os escritores Allen Ginsberg e Aldoux Huxley. Entre seus seguidores também estavam muitos surfistas conhecidos.

Leary tinha uma ligação especial com o surfe. Ele sintetizou de forma completa a essência do surfe e sua relação com a experiência humana na Terra. Como tudo no planeta é feito de ondas – ondas eletromagnéticas, ondas históricas, ondas sonoras – quanto mais refletimos sobre o processo de formação das ondas no mar, mais próximo compreendemos a estrutura fundamental da própria natureza: seu efeito cíclico, movimento e transformação.

Leary convida a pensar a questão do tempo como o tubo em uma onda e o surfista como um agente evolucionário. Na manobra, ele está indo em direção ao futuro, sem perder o contato com o passado. Desse ponto passado, o surfista obtém a força que o impulsiona e, no presente, no seu estado consciente, o controle sobre si e sua intenção no universo. O tubo em uma onda é a metáfora da vida.

Segundo Leary, uma das grandes recompensas do surfista é o desenvolvimento de sua
consciência a partir do elemento básico, a natureza. O surfista lida com as forças do oceano, influenciadas pela atração lunar, marés e fluxos, numa relação mística com o infinito.

O surfe promove uma fusão da neuro-musculatura do corpo com a força, energia e ritmo da natureza: mente, corpo e energia interagindo juntos. Surfar exige envolvimento, concentração. A vida no seu estado consciente. O surfista se desliga da terra, do social, do cultural, do político.

Leary afirmava que os surfistas são pessoas avançadas. Uma cultura, um país ou um planeta que explora o surfe é sinal de maturidade da espécie que o habita. Leary tinha a confiança de que o surfe era o esporte do final do milênio.

Incompreendido, perseguido e preso diversas vezes, Leary, considerado o homem mais perigoso da América pelo presidente Richard Nixon, morreu em 31 de maio de 1996.

Ele descobriu que tinha câncer de próstata terminal em 1995 e planejou um suicídio interativo, transmitido ao vivo pela internet. Porém, ele morreu enquanto dormia, e sua morte foi anunciada por amigos em sua página inicial na World Wide Web, onde ele fornecia atualizações regulares sobre sua condição e as drogas legais e ilegais que estava tomando para aliviar a dor de seu câncer que se espalhava. Pouco depois da meia-noite, em sua cama e entre amigos, Timothy Leary faleceu pacificamente.

Suas últimas palavras foram: “Por que não?”. A frase sintetiza sua atitude perante a vida. Enquanto a maioria das pessoas pergunta “Por que fazer?” diante de um desafio, ele sempre questionava “Por que não?”.

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Coordenador de pesquisas históricas do surfe @diniziozzi – o Pardhal