Museu do Surfe

Paulistas no Havaí

Coluna Museu do Surfe apresenta história do fenômeno Roberto Emmenegger, que revolucionou com sua fábrica Curly Curve Surfbordas, onde também criou modelos de pranchas para Windsurf.

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Paul Emmenegger emigrou para a América em 1954, no pós-guerra, contratado pela
Suchard (indústria de chocolates), via Paris para Buenos Aires. Na capital argentina,
Paul conheceu Ruth no consulado suíço e eles optaram por viver no Brasil, país que
encantou os dois.

O suíço foi contratado pela Lacta Chocolates, empresa que dirigiu por 30 anos. Único chocolatier da companhia, Paul foi o idealizador da linha de sucesso da
Lacta, criador do Bis, Sonho de Valsa, Diamante Negro, Laka e muitos outros.

Juntos, Paul e Ruth tiveram três filhos. O segundo filho do casal, Roberto Emmenegger,
nasceu em São Paulo, no dia 16 de junho de 1957. Estudante do tradicional Colégio
Humboldt, de origem alemã, Robi conheceu Helmuth, tornaram-se grandes amigos e
futuros sócios. Foi Robi quem introduziu Helmuth ao mundo do surfe. Ele frequentava a
praia das Pitangueiras com seu irmão Paulo, dois anos mais velho, e o pequeno George,
o caçula, que se tornaria seu companheiro de surfe.

Era na praia do centro do Guarujá, onde a família mantinha um apartamento, que Robi surfou suas primeiras ondas sobre uma Glaspac MK3 e conheceu os paulistanos que marcaram presença no surfe da década de 1970, entre muitos outros, Reinaldo Andraus, o Dragão, e Roberto Teixeira.

Em 1974, Robi e o amigo Helmuth Bormann começaram a fabricação das pranchas
Curly Curve num barraco vizinho à casa dos Emmenegger, no número 750 da rua Verbo
Divino, Granja Julieta.  Robi se dedicava ao shape, enquanto Helmuth fazia o acabamento. O nome surgiu pela música. Os dois amigos perambulavam pelas lojas de disco Hi-Fi, Museu do Disco, Facci, ou mesmo pelo Carrefour da Marginal Pinheiros, quando viram a capa de um disco da banda underground alemã de rock psicodélico, Curly Curve.

Sem capital para iniciar o negócio, a Curly Curve Surfboards firmou parceria com a loja
Aerojet, na rua da Paz. Eles forneciam os blocos de poliuretano da Clark Foam, o tecido
e a resina. A contrapartida, realizada com as pranchas fabricadas pela Curly, tornou a
Aerojet o primeiro ponto de revenda da marca. Tempos depois a Curly passou para os fundos da fábrica de massa folhada Arosa, propriedade de Paul e Ruth Emmenegger, pais de Robi, na rua Capitão Otávio Machado. Era o primeiro marco de expansão da marca.

Ingresso na Faculdade de Arquitetura e Urbanismo em Mogi das Cruzes, em 1976, Robi
conheceria o surfista Chico Preto e o renomado fotógrafo e cineasta Klaus Mitteldorf,
produtor do primeiro filme de surfe brasileiro, Terral.

No ano seguinte, os dois fizeram parte de uma surftrip pelo Chile que rendeu uma matéria
inédita na revista Brasil Surf, intitulada Surf para Pinguins?.

Em fevereiro de 1978, Robi viajou para o Havaí com Klaus, Dragão, Carbone e outros surfistas. Klaus fez registros incríveis em Super 8 das ondas enormes de Honolua Bay, na ilha de Maui. A experiência foi documentada em uma reportagem espetacular de 12 páginas na Brasil Surf: Paulistas no Hawaii.

O destemido Robi guarda na sua trajetória uma das mais icônicas filmagens de um surfista brasileiro no Havaí, na década de 1970.

O visionário Robi ficou atraído também por uma outra onda e voltou contando sobre
surfistas que corriam em pranchas com velas. Convencido, o pai Paul Emmenegger
importou uma prancha de windsurf da Holanda e a partir daí a ideia de produzir esses
equipamentos foi ganhando forma.

A primeira dificuldade foi expandir um bloco de quatro metros de poliuretano. O molde de
madeira foi construído na garagem da casa da avó de Helmuth, à rua Miranda Guerra.
Nascia a primeira prancha Windsurf Curly Curve. Com o protótipo pronto, Helmuth
correu suas primeiras regatas.

O processo de fabricação da Windsurf Curly Curve era diferenciado, tornando as
pranchas mais leves e melhor acabada em relação às concorrentes. O ritmo de
produção permitia até dez pranchas, e assim uma nova e maior fábrica da Curly surgiu na
Avenida Rio Bonito, em Interlagos, em 1979. Fernando Feijão, amigo de Robi, foi um
dos atletas que competiu com a Windsurf Curly Curve.

Em 1992, Robi conheceu Nuna no Canto do Moreira, em Maresias, com quem se casou
e viveu por quase 30 anos. Depois da morte de Robi, em 22 de setembro de 2020, Nuna
mudou-se para a praia de Ibiraquera, em Imbituba, Santa Catarina, onde o casal
construiu uma casa e Robi gostava de velejar nos finais de semana e feriados.

Helmuth viveu em Hamburgo, na Alemanha, onde dedicou-se ao comércio automotivo.

Depois de dez anos de Mercedes-Benz e 20 anos de Porsche, Helmuth se aposentou em 2022.

Atualmente, mora em Ericeira, Portugal, treina diariamente e pretende voltar ao
windsurf.

George está na presidência da Arosa há 35 anos, empresa que dirigiu ao lado de Robi
nas últimas décadas agora em fase de sucessão, com dois de seus três filhos envolvidos
no negócio. Os três são surfistas.

Paul vive sozinho em Itapecerica da Serra. Aos 96 anos, independente, ele desfruta de
boa saúde e ainda dirige seu próprio carro.

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Coordenador de pesquisas históricas do surfe @diniziozzi – o Pardhal