Espêice Fia

Frame com Tinoco

Fabio Gouveia bate um papo com o experiente fotógrafo Renato Tinoco.

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Felipe Cesarano no histórico swell de 2011 em Teahupoo.

O modo de se ganhar dinheiro com fotografia de surfe está diferente da última década. Hoje não temos mais as revistas de surfe. Com isso, muitos fotógrafos pararam ou tiveram que se reinventar.

Hoje, qualquer pessoa dotada de um bom aparelho celular, GoPro de última geração ou similar, pode fazer bons cliques. Mas claro, o olhar e o know-how de um fotógrafo profissional sempre vão prevalecer.

Se achar um caminho para fazer business com aquele momento espetacular capturado está complicado, muitos fotógrafos vêm bombando o seu próprio portfólio, mais precisamente com Instagram ou outras mídias sociais.

Vendo esse movimento, e é claro, acompanhando Renato Tinoco na água e nas redes sociais, aproveitei esta volta ao “Espêice Fia” para bater um papo com o experiente fotógrafo.

Tom Curren em sintonia com Jeffreys Bay, local que marcou a vida do fotógrafo.

Fala “Tinocs”, beleza? Rapaz, quando ainda morava em Recife, sempre via você nas sessions de surfe com Rogério Bastos, meu ex-patrocinador e shaper das pranchas Custom. Quando mudei para Floripa, comecei a te ver pela Ilha e envolvido com fotografia. Na real, nunca me passou pela cabeça que você era fotógrafo ou que curtia fotografia. Como começou neste ramo?

Na real eu já fotografava surfe desde os 16 anos, quando fui para a Califórnia (EUA) fazer o high school. Na época, comprei uma câmera Minolta à prova da água. Fotografava só de curtição, revezando com os amigos nas nossas quedas de surfe.

Depois, aos 20 anos, fui morar em Nova York e comprei uma Nikon com uma lente 50-500mm, além de uma Nikonos à prova d’água. Mas, fotografar profissionalmente, apesar de já ter alguma experiência, só mesmo depois que mudei para Floripa, em 2006.

E o que te fez mudar para Floripa?

Antes de vir para Florianópolis eu morava em Recife (PE), mas como a violência lá estava muito grande, decidi mudar pra cá em busca de qualidade de vida.

Tinoco e Fabio Gouveia costumam se encontrar no outside de Florianópolis.

Em seu perfil no Instagram tem uma foto tua com uma guitarra, ou um baixo, sei lá… Você é musico também?

É uma guitarra. Estudei música dois anos em Nova York e quando voltei, em 89, fui morar no Rio, onde toquei profissionalmente por seis anos.

Sempre tem passado boas temporadas em Noronha. Como é trabalhar ali? Fale um pouco da sua relação com a ilha e dê uma geral do nosso Havaí brasileiro…

Noronha é um lugar que frequento há pelo menos 30 anos. Antes eu ia apenas para surfar, e posteriormente passei a fotografar lá também, geralmente na temporada do campeonato da Hang Loose. O objetivo era produzir material para revistas e marcas de surfe.

Há uns cinco anos, tenho passado uma parte da temporada de ondas fotografando e filmando na ilha. O trabalho é bem puxado, mas compensa financeiramente e ainda tenho oportunidade de desfrutar das belezas naturais nos dias de flat. É um lugar incrível, um verdadeiro estúdio natural.

Visual da Cacimba do Padre.

Aproveitando o assunto… Ainda não te vi no Havaí, nunca foi sua meta?

O Havaí sempre foi um sonho, mas como fiquei ilegal quando fui morar em Nova York, não consegui mais o visto para voltar.

E o Taiti? Infelizmente nunca consegui estar presente ao mesmo tempo que você por lá, mas sempre fiquei admirado com a qualidade do seu material em Teahupoo. Fale um pouco de alguma foto épica, algum momento épico que viveu por lá.

O Taiti é o meu lugar favorito, não conheço nenhuma onda tão fotogênica como Teahupoo. Desde 2007 vou para lá, às vezes até duas vezes por ano.

A melhor session que fiz foi no ano do swell “Code Red”, um dia antes de começar o Billabong Pro. A WSL fechou o pico por duas horas para os atletas do CT treinarem e estava de 6 a 8 pés clássico. Só havia eu e mais três fotógrafos na água.

Fiz as melhores fotos de fisheye dessa temporada inteira nessas duas horas. No meio da competição, também rolou o dia do Code Red, que foi incrível!

Estúdio a céu aberto, o Taiti é o lugar preferido do fotógrafo.

E a Indonésia? No ano passado você teve uma boa temporada em Bali com a esposa, dando o gás em vários picos. Como foi trabalhar por lá? Fale também das ondas de Desert Point e os brasileiros que se destacaram.

A Indonésia estava épica em 2019! Chegamos no início de junho, e nos primeiros 30 dias fui quatro vezes a Desert Point, que quebrou de gala. Na minha opinião, é a melhor onda da Indonésia.

Também rolaram vários Padang Padang e tive a oportunidade de conhecer as Ilhas Banyak, que ficam ao norte da Sumatra. Fiz duas trips de charter boat no Seriti. Lá tem bem menos crowd que nas Mentawai e tem muita direita boa. Um verdadeiro paraíso para os regulares.

Você é formado em quê mesmo? E passou pra fotografia por qual motivo? Fale um pouco do acidente na África do Sul também e como este ocorrido te atrapalhou.

Estudei administração na UFPE (Universidade Federal de Pernambuco), mas não concluí o curso. Na época eu estava mais ligado em música e larguei a faculdade no terceiro ano para ir estudar música em Nova York.

Depois de ralar muito como músico no Rio de Janeiro, resolvi voltar ao Recife e abrir uma loja de instrumentos musicais. Fiquei 11 anos lá e depois vim pra Floripa, onde me associei a uma importadora de instrumentos, que era minha principal fonte de renda além da fotografia.

Em 2014, quando estava a caminho de Jeffreys Bay, sofri um acidente de carro que me deixou mais de oito meses de cama. No período de recuperação, acabei fechando a empresa e hoje minhas únicas atividades profissionais são fotografia e filmagens.

Muita gente não sabe que você esteve por trás de muita coisa filmada nos últimos tempos, e para produções muito legais. Destaque alguns de seus trabalhos mais importantes.

Nos últimos quatro anos, tive a oportunidade de filmar para alguns programas do Canal Off, como Mundo Medina, Psicopato, Alerta de Ondas Gigantes, o teu programa (A Onda É Se Divertir) e duas temporadas inteiras da série Nalu pelo Mundo. Aprendi muita coisa sobre o universo da captação de vídeo, que se tornou uma coisa nova pra mim. Isso além de outros trabalhos publicitários para empresas e programas como Esporte Espetacular, etc.

Para fechar, você precisou voltar de Noronha mais cedo e também teve que mudar roteiro de algumas viagens. Como acha que o momento que nós vivemos impactou e vai mudar daqui pra frente para quem trabalha com vídeo e fotografia no surfe?

No momento, nós que trabalhamos com gravações de programas de TV, estamos em uma situação bem delicada, assim como a maioria das pessoas em seus ramos de trabalho específicos. O Canal Off também deu uma segurada nos novos projetos. Tive que voltar mais cedo da temporada de Noronha 2020 e minha viagem de sete meses para Indonésia, onde já tinha alguns trabalhos certos, foi por água abaixo.

Inaldo Vieira à vontade em Teahupoo.

Mas pelo menos tem dado bastante onda aqui em Florianópolis, onde o surfe não está proibido como em outras cidades. Com isso, tenho fotografado bastante e me virado pra pagar as contas. Em 14 anos de Ilha, nunca tive a oportunidade de presenciar tanta onda boa aqui como em 2020. Principalmente porque geralmente não fico aqui durante o inverno.

Para fechar 2 (risos). Fale o que quiser, ou se quiser não fale, mas passe um recado para a galera que acompanha o seu trabalho.

Hoje, com as opções de câmeras baratas e sites de venda de imagens, o número de “fotógrafos de surfe” tem se multiplicado de uma forma assustadora. Na frente da minha casa, onde há pouco tempo só havia eu e o Marcio David fotografando, agora há pelo menos oito pessoas diferentes em um dia médio para ruim. Por isso me dedico mais às imagens aquáticas, que são um diferencial da mesmice.

Para acompanhar mais sobre o trabalho de Renato Tinoco, siga o perfil @renatotinoco no Instagram.