Espêice Fia

Barca Pororoca

Fabinho Gouveia e amigos fazem primeira Barca do Fia na Pororoca, Ilha do Marajó para desbravar ondas desafiadoras.

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Ano passado tive oportunidade de ir pela primeira vez na Pororoca durante o “Vigésimo Quarto Festival de Pororoca no Marajó”. Fazia tempo que era convidado por Noélio Sobrinho, um dos desbravadores, mas nunca encaixava uma data. O “bichinho” me picou e quis levar a incrível experiência para a primeira “Barca do Fia na Pororoca”, que aconteceu em abril deste ano.

Nossa parceira Dream Surf abraçou a ideia e na lua nova de abril deste ano de 2023 lá
estávamos com um grupo de oito surfistas: Robinson Silva, Edison Thomé, Luis Mangini e Ewerson Clark, além de Noélio, Marcelo Bibita (também um desbravador de Pororoca), José Eduardo (agente Dream Surf Experience), eu e nosso videomaker importado do Rio Grande do Norte, Aldair Santos. Com uma lancha de apoio, dois jet-skis e uma banana boat, fomos à caça no primeiro dia.

No ano passado, tínhamos visto uma sessão muito além do ponto em que havíamos
dropado. Logo este ano fomos mais pra fora (em direção a Foz) a fim de ficar mais
tempo na onda e possivelmente pegar melhores sessões. Foi aí que vi que quase
tudo que havia aprendido ano passado, foi por água abaixo.

Ao pular do jet-ski, a espuma que veio com o triplo da força do ano passado me atropelou e digo que levei um caldo digno de mar de consequências. Resultado, perdi a onda e fiquei
juntamente com Noélio, cujo também havia sido atropelado, à deriva.

Infelizmente, mesmo a onda sendo longa e com duração de uma hora ou mais, demos o azar de nosso piloto não nos localizar rapidamente e não conseguimos entrar na onda
novamente. Logo ficou aquela frustração para o primeiro dia. Mas, nada que abalasse as expectativas, pois só a aventura em si já valia a pena. Neste dia, creio que ninguém se deu bem e no segundo fomos mais cautelosos e deu certo, pelo menos para parte da galera.

Ao pular da banana boat, Luis e Thomé não conseguiram ficar em pé, tal a turbulência da espuma. Pior para o Thomé que, de SUP, acabou perdendo seu remo de carbono. Noélio, Bibita e eu pegamos em uma parte que a onda ainda estava pequena e deu pra brincar uns 3 minutos, quando eu decidi sair da sessão, a fim de pegar o jet-ski e buscar um momento
mais perfeito mais à frente.

Quando o jet-ski me resgatou e também salvou mais um integrante da barca, infelizmente alguma coisa entrou na turbina e a maquina parou, parando também nossa brincadeira mais cedo naquele dia. Mais uma vez, ficamos a deriva enquanto outros tentavam mais à frente e também sem mais sucesso.

Mesmo tendo surfado, a essas alturas já estávamos pedindo o ritual Auêra Auára, cujo traria o encaixe para que todos nós nos déssemos bem. Ritual feito com presença da galera local do município de Chaves e na manhã seguinte partimos cheios de esperança.

Em nosso terceiro dia conhecemos uma antiga fazenda próximo ao fenômeno, onde precisamos adentrar uns 20 minutos em um igarapé a bordo de uma voadeira.

Com o deslumbre da galera diante o visual da fazenda colonial, quando retornamos ao “Canal do Perigoso” (nome dado ao afluente de nossa ação), a pororoca já vinha apontando no horizonte. E aí foi aquela correria (aceleração) para nos posicionarmos.

Infelizmente, pelo fato do nosso jet-ski de apoio ter quebrado no dia anterior, dessa vez todos nos estávamos em cima da banana boat e nem preciso dizer que a combinação de fatores como vento forte, superfície balançada e peso demasiado do grupo, não conseguíamos avançar da forma como queríamos e fomos obrigados a voltar pra margem do rio, afim de pegarmos uma parte mais lisa e atacarmos o fenômeno mais ao final.

E funcionou. Quando chegamos perto da ação já pudermos ver o Clark surfando a Pororoca, pois ele e nosso videomaker Aldair Santos, haviam ido na lancha de apoio. Todos pulamos e alguns foram bem sucedidos.

Surfei junto com Bibita e Noélio e quando gravava com minha câmera aquática acabei sendo surpreendido por uma marola e a perdi. Foi tudo muito rápido e entre pensar em sair da Pororoca para pegar a câmera e curtir rio acima, claro, decidi ir adiante. E assim
fiquei por uns 5 minutos, até que perdi a onda e meus amigos continuaram.

Vale ressaltar que nosso amigo Robinson Santos ainda não havia dominado a Pororoca e estava decidido no dia seguinte a pular apenas no momento certo. Ele ia esperar todo mundo pular e se todos estivessem indo bem, ele pularia. E foi isso que ocorreu em nosso quarto e último dia. Era tudo ou nada, pois como não tínhamos jet-ski reserva, se errássemos, possivelmente não teríamos outra chance.

A Pororoca veio e escolhemos o que para nós, seria a parte boa. Thomé e Luis pularam, Noélio e Bibita também. Quando achei que tudo estivesse perfeito, também pulei. Mas em uma fração de segundos acabei ficando um pouco para dentro da espuma e acabei me complicando para pegar a parede.

Marcelo Bibita, que infelizmente ficou atrás de mim na espuma, não conseguia me ultrapassar para pegar a parede e eu com prancha menor, não consegui de forma alguma fazer o corte, pois sentia que se colocasse mais na diagonal, iria ser dragado pela
espuma. A alternativa seria ir deitado até que entrássemos em uma área mais funda e a onda se formasse novamente, mas infelizmente isso não aconteceu e peguei o “jacaré” mais longo da vida, foram cerca de 5 minutos e, pelo fato de já estar perto da margem, e sujeito a pegar alguns detritos de selva pela frente, acabei abortando a missão.

Luis e Thomé ficaram de pé apenas na espuma, deslizando por algum tempo e, mesmo assim, já saíram da expedição amarradões, pois como digo, o que vale na Pororoca é o pacote completo da aventura.

Nosso amigo Robinson tinha acordado decidido e tendo visto toda a ação da galera não se dando bem, percorreu rio a dentro por mais uns 10 minutos e pulou na hora perfeita. Nesse momento, à deriva no rio, torcia pra que algum de nós tivesse sucesso e quando fomos resgatados, qual não foi a nossa alegria vendo o contagiante Robinson dizendo que pegou a melhor onda de sua vida. “Meu, fiquei 15 minutos na onda perfeita”, disse ele em tom muito eufórico.

Dessa maneira regressamos ao porto de Chaves com a maior vibração e resultado geral sendo a felicidade de todos.

Por ter batido o recorde da barca, ficando 15 minutos surfando a Pororoca, Noélio fez o convite ao Robinson para participar do Vigésimo Quinto Festival de Pororoca e lá ele foi, pois como disse, uma vez tendo pego o “bichinho”, com certeza ia querer voltar.

E eu mal posso esperar para a próxima investida. 2024 terá mais Barca do Fía para Pororoca! Auêra Auára!