Wiggolly Dantas

Top fala do Brasileiro Feminino

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Wiggolly Dantas decolando nas ondas de Itamambuca, Ubatuba. Foto: Aleko Stergiou.

 

O surfista de Ubatuba cresceu nas areias finas e nas direitas expressas de Itamambuca. Desde menino começou a surfar e não demorou muito para alçar voos e percorrer o mundo em busca de vitórias.

 

O apelido fofo, Guigui, é mais um exemplo do quão doce é esse cara. Mas por que se dedicar ao surfe feminino enquanto deveria estar focado na sua carreira? A seguir, ele fala da falta de ação das entidades, de parar ou não de competir, de perseguir sonhos, da ausência do Super Surf e da crise nas categorias de base do surfe brasileiro, Olimpíadas e tudo mais.

 

Por que você decidiu realizar o campeonato?

Um amigo uma vez me perguntou se eu não faria o evento feminino e eu gostei da ideia. Fui falar com a minha mãe e ela topou. Eu vejo muitas meninas que treinam e surfam bem e estão precisando dessa força, por isso acabei fazendo esse evento. Depois virou um sonho e graças a Deus eu consegui fazer a primeira e a segunda etapa. Estou muito feliz de fazer mais um evento pras meninas. É muito difícil pra mim e minha família conseguir fazer o evento, pois perto das entidades somos muito menores. Tive que pedir muita ajuda aos meus patrocinadores. É um sonho fazer mais uma etapa, de coração, porque eu sei que é difícil no Brasil falar de surfe feminino e temos muitas meninas que surfam muito, com nível para estar no CT.

 

Como você analisa o período em que as atletas ficaram sem circuito?

Muito difícil ficar sem etapa porque tem muita atleta com nível altíssimo no Brasil, eu sei como é isso, não poder mostrar seu potencial numa competição e mostrar que você é capaz de ir ao QS. Porque tem muitas meninas que merecem e têm surfe para estar no QS e CT.

 

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Atletas presentes na edição de 2015 do Brasileiro Feminino. Foto: Aleko Stergiou.

Acha possível mudar a mentalidade das pessoas com relação ao surfe feminino?

Estou fazendo a minha parte. Se eu, como surfista profissional, e minha família conseguimos, imagina as entidades que têm todos os contatos e patrocínios? Com certeza eles poderiam fazer, acho que é só questão de querer. Não quero mudar a cabeça de ninguém, estou fazendo de coração, estou fazendo minha parte como surfista e como atleta. Fazendo o que o meu coração está mandando.

 

O SuperSurf é um grande mistério. Você acha que os homens poderão voltar a sonhar com um circuito nacional mais sólido?

O SuperSurf tem um grande nome e é uma pena ele não existir mais, eu acho que é uma falta de interesse das pessoas que estão ali e fazem o evento, porque se você quiser fazer o evento, você faz. Imagina para as pessoas que já fazem isso há anos? Mas têm que fazer de coração, não adianta pensar em retorno agora. Está faltando muita coisa, nosso surfe de base no Brasil está muito carente. Pode ver, hoje em dia não temos mais o surfe de base e o SuperSurf era um campeonato em que a galera podia mostrar o surfe. Falta interesse em voltar um evento de nome no Brasil com quatro ou cinco etapas para os brasileiros voltarem a competir.

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Wiggolly Dantas à vontade no quintal de sua casa em Ubatuba. Foto: Aleko Stergiou.

 

Como você enxerga o surfe nas Olimpíadas?

 

O surfe nas Olimpíadas foi incrível, é um sonho pra gente. Com certeza vai melhorar muito e foi muito bom pra nós, surfistas. É o que eu falo, temos que ter um campeonato de base no Brasil, porque em 2020 vamos estar competindo e espero sermos muitos, não acho tão justo competirem só os atletas do CT, com certeza tinham que voltar os campeonatos no Brasil.

 

Recentemente, surgiram comentários sobre você cogitar parar de competir. Quando você acha que um atleta deve se aposentar?

Adoro competir e não vou parar tão cedo. Gosto muito de viajar e é muita polêmica, não é verdade, eu não penso em parar tão cedo. Acho que eu tenho que deixar meu corpo falar e mostrar até onde consigo ir. O Kelly está com 45 quase e está competindo, dando dura na molecada. Não tem hora pra parar.

 

Seu gosto por ondas grandes começou quando? Acha que um dia você pode se dedicar somente às ondas grandes?

Sempre curti onda grande, já quase morri três vezes surfando quando era menor. Eu penso muito em competir e surfar ondas grandes, fazer tow in. Vou sempre pra Jaws, Waimea, todo ano surfo bastante ondas grandes no Havaí e é muito bom. Eu gosto dessa adrenalina, e com certeza, quando sair do CT será para os campeonatos de ondas grandes. Vai ser mais um sonho que eu vou realizar.

 

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Wiggolly Dantas jogando pra cima. Foto: Aleko Stergiou.

Você faz parte da elite do surfe mundial. Como é viver entre tantas viagens, ter que lidar com derrotas, saudade de casa e tudo mais?

Adoro viajar e sempre quis ficar longe de casa, só fico um mês no Brasil. O CT é dificil, viaja muito, no QS então, nem se fala. Derrota e saudade isso tem, mas tem que ir atrás do sonho e nunca desistir. O meu só está começando, adoro viajar. É um amor mesmo que eu tenho pelo surfe e pela viagem.

 

Se pudesse dar um recado para uma menina que sonha ser surfista profissional, o que você diria?

Nunca desista do seu sonho, você é do tamanho do seu sonho. Foca: sonho não tem limite. Então, se você quer ser profissional, corra atrás, treina bastante, porque apesar de toda a dificuldade que você vai ter, quando você conquistar seu objetivo vai ver que valeu a pena. Eu pensei em parar de competir, mas também pensei “não, de jeito nenhum, não posso parar de competir!”. E acabei conseguindo minha vaga no CT. Acreditei e consegui alcançar meu sonho, você também pode conseguir, é só ir atrás.