Torcedor Fanático

Vice no quintal

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Jihad Khodr levantou a torcida. Foto: Bazookasurfshot.com.au.

O brasileiro é um povo que cresceu demais, espalhou-se pelo mundo nas últimas décadas. Antigamente, ouvia-se falar muito em Estados Unidos e alguns países da Europa, porém, nos últimos 10 anos o brasileiro invadiu a Austrália, principalmente jovens entre 18 e 30 anos.

 

Mas, por que isso acontece? Quando estamos no Brasil, achamos que lá é o paraíso do surf, das loiras, da natureza, segurança, de trabalho fácil, boa remuneração, escolas e universidades de altíssima qualidade, entre outras coisas.

 

Mas, talvez, o que mais tem atraído o brasileiro para a Austrália é o fato de que o estudante pode trabalhar legalmente por 20 horas semanais aliado a um estilo de vida mais praiano, ganhando em dólar, aprendendo inglês, etc.

 

Heitor Alves começa o ano em 17o lugar. Foto: Ader Oliveira.

O clima e o litoral recortado nos fazem ter a certeza de ondas e trips alucinantes, aventuras iradas e opções de onde viver longe da maluquice brasilis.

 

A Gold Coast é sinônimo de altas ondas e clima relativamente quente na maior parte do ano. Astral de “férias” com uma pitada de responsabilidade tão necessária quando se sai de casa em busca de uma vivência multicultural.

 

Apesar da perfeição das ondas da Gold, muitos picos nos lembram nosso quintal brasileiro.

 

Aposto que se você tentar lembrar de algum campeonato em Snapper ou Duranbah com ondas acima de 2 metros não vai conseguir.

 

Adriano de Souza já é temido pelos adversários em qualquer condição de mar. Foto: ASP Cestari / Getty Images.

Comecei o texto do fanático dessa forma para ilustrar que os resultados alcançados por nossos atletas na primeira etapa do Tour e a forte presença da torcida em todos os dias de competição não acontecem por acaso. Somos “locais” do pico e familiarizados com o ambiente.

 

Em outras colunas aqui mesmo no Waves, escritas no passado, comparou-se Snapper a Matinhos e diziam que seria uma das etapas em que Jihad poderia levar vantagem frente aos seus adversários.

 

Demorou pra acontecer, mas está aí, o cara levantou a torcida e vibrou como Rubinho Barrichello quando tem seus repentes de vitória ou pódio na F1.

 

A cada aéreo completado, a cada bateria vencida, a cada onda trucidada, o instável guerreiro levantava os braços, dava socos no ar e empolgava a todos. Só faltou dar a sambadinha de Rubinho.

 

A verdade é que apesar de muitos de nós usarmos Rubinho ou Jihad como ícones de um humor sadio, os caras têm talento e nos emocionam com sua garra quando estão inspirados.

 

O nono lugar na etapa de abertura deixa a certeza de Jihad respirar um pouco mais aliviado, tanto em termos de ranking como em termos de críticas. Tá certo que ele estava em seu habitat natural: direitas abrindo e médias, bem diferente do que deverá acontecer no restante das etapas.

 

Ficou nítido que Jihad é superior a vários de seus adversários nessas condições. Entretanto, a lição de casa continua: treinar forte nas condições adversas ao seu surf para não cair novamente no desespero de ter que disputar o WQS para manter-se em evidência. Se souber garantir pontos nas etapas de ondas de beach break, tudo ficará mais fácil.

 

Heitor foi muito bem também, teve a infelicidade de sua bateria contra Damien ser disputada numa condição de mar bem gorda, só não ganhou porque o americano surfou um pouco mais no crítico e os juízes observam isso.

 

Mas 17º está mais do que bom para começar o ano. Já passou a fase de provar talento e competitividade, agora é a hora de cada vez mais criar as cracas de surfista de primeira linha, estudar um pouco mais os adversários, polir o surf, treinar manobras mais arriscadas dentro das baterias e por aí vai.

 

O querido Ronaldo da Fiel que me desculpe, mas ver Mineiro acabar com a raça de Bede e Taj foi melhor do que o gol no último lance do jogo contra o Palmeiras.

 

Vai ficar até chato escrever aqui o quão importante foi esse vice-campeonato na etapa de abertura. Os fóruns das matérias, aliás, das excelentes matérias feitas pelo editor do Waves, Ader Oliveira, já rasgaram a seda de Mineiro de ponta a ponta.

 

Se recém recuperado de uma contusão no tornozelo e com dores nas costas ele já destruiu as ondas daquela maneira, imagina com 100% do preparo em dia?

 

Não restam mais dúvidas de que Adriano de Souza veio com tudo para brigar para ser top 5. Já é um surfista mais do que regular e temido pelos seus adversários em qualquer condição de mar.

 

Mas, além dessa regularidade, a torcida quer vê-lo no lugar mais alto do pódio, levantando um troféu de campeão. Será que nesta temporada teremos esse gostinho?

 

Slater, com aquela prancha esquisita, continuou quebrando. Muito estilo, precisão e power, porém, perdeu um pouco de velocidade e se sacudiu um pouco mais para ganhar projeção. Parece que entrou numa pequena paranóia de competir contra ele mesmo.

 

Ainda mais quando afirma de que vai continuar a testar seus shapes dentro das etapas do Tour. Bom, ele pode… Se alguém vai cobrá-lo de algo diferente disso, deverá ser ele mesmo. Nem a Quiksilver, nem eu, nem você temos o direito de fazer isso.

 

O que pode ser ruim é se o careca resolver deixar o circuito de lado, perder o tesão de competir e virar um tubarão vegetariano. Vai sempre ser genial, mas quem não gosta de vê-lo nas baterias?

 

Até Bell’s Beach!