Equipamento

Sobre fishes e biquilhas

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Três é bom, mas dois é demais. Sim, elas estão de volta. Divertidas e versáteis, ainda confundem muita gente.

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Prancha de madeira de Bob Simmons, com duas quilhas. Foto: Reprodução / Hydrodynamica 

Biquilha é uma prancha com duas quilhas, simples assim. Fazendo de uma longa história um curto relato. Muito embora digam que Tom Blake, o cara que colocou a primeira quilha numa prancha, tenha criado uma “biquilha”, em 1943, a primeira catalogada surgiu da genialidade de Bob Simmons, em 1948, quando ele juntou duas round pins (monoquilhas) e inventou a primeira prancha com duas quilhas, além de vislumbrar o que se tornaria uma rabeta fish. Depois acabou desenvolvendo um outline bem paralelo, com bump, da metade da prancha para a rabeta, que tornou-se square. Pronto, essa prancha, ainda de madeira, era a tataravó das Mini Simmons que conhecemos hoje, reapresentadas ao mundo mais ou menos em 2006. As quilhas são double foil, como monoquilhas, só que baixas e largas, basicamente paralelas uma à outra, lá no finzinho da rabeta. Diga-se de passagem, a grande sacada de Simmons, além das quilhas, foi o tal do “planning hull”, basicamente o concave que temos em quase todas as pranchas hoje.

 

 

 

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Fish Steve Lis. Foto: Reprodução / Hydrodynamica 

FISH TAIL
Na sequência, em 1954, Tom Blake redesenhou a rabeta quadrada das Simmons, transformando-as num rabo de peixe, uma Twin Pin, basicamente uma “fish tail”. Só que era monoquilha. Muda a cena… Dois havaianos, Reno Abelira e Jeff Ching, cismaram em surfar de pé naquelas pranchinhas para surf de joelhos ou de peito. As pequenas paipos havaianas. Jeff mudou-se para Califa e em 1967 era amigo de um sujeito que surfava de joelhos muito bem com as, então populares, kneeboards. Naquele janeiro o tal de Steve Lis intuiu, mesmo sem conhecer o trabalho de Bob Simmons, que aquelas paipos largas e pequenas poderiam funcionar bem com duas quilhas. Fez uma pequena prancha com a rabeta dividida em formato de “fish profundo” (10” ou 12”) e largo, posicionando as quilhas, largas, baixas e paralelas, mais à frente para deixar a prancha bem manobrável. Pronto, Jeff experimentou a pranchinha, surfando de pé. San Diego, na área de Sunset Cliff, assistiu o surgimento da mais revolucionária mudança nos shapes “modernos” dos anos 60. Veloz, soltinha e boa de remar. Nos anos 70 inúmeras variações de biquilhas, com todo tipo de rabetas, quilhas e colocação das mesmas, estavam em ação, especialmente em merrecas, para diversão e derrapagem de muita gente.

 

 

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Twin fin de Mark Richards. Foto: Reprodução / Hydrodynamica 

TWIN FIN
Nos anos 80 Mark Richards, que foi tetracampeão mundial, surgiu com uma versão mais futurista de biquilhas, equacionando duas quilhas numa prancha mais longa (6’2”), mais estreita, com mais rocker de rabeta e bico. Para estreitar ainda mais a rabeta usou um wing onde posicionou à frente do wing quilhas não paralelas, que pareciam uma quilha de monoquilha partida ao meio, ou seja, foil flat na parte de dentro e abaulado no lado de fora. As twin fins não eram “biquilhas” nem muito menos o que se conhecia como “fishboard”. Não fosse a curva, pouca, que define o fish, as rabetas das twin fins do MR seriam praticamente swallow. Aliás, boa parte delas é mesmo swallow (em referência ao rabo da andorinha em “V”).

 

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Mini Simmons. Foto: Reprodução / Hydrodynamica 

SÓ PARA SABER
Observem. Hoje há gente que chama qualquer prancha larga do bico à rabeta de “fish”, mesmo que ela não tenha duas quilhas. As “fishes” são pranchas curtas, de pouco rocker, fundo flat ou com “V Bottom”, outline mais paralelo e largas, onde o conceito de “biquilha clássica” funciona com rabeta em forma de rabo de peixe: “fish”. Mini Simmons não é fish, sua biquilha swallow, round pin ou sei lá o que for também não é uma fish. Ok, no fim das contas você vai se divertir indiferentemente do nome, mas é sempre bom entender os conceitos.