África

Senegal volta ao mapa

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A onda de Ngor Island foi apresentada ao mundo em 1966 no filme Endless Summer I, dirigido por Bruce Brown sem dizer sua exata localização nem nome.

Depois de 43 anos aterrissei no Senegal e fui recebido no aeroporto por meu contato local, que é proprietário do único surf camp existente na ilha.

Para minha surpresa, ele revelou que a direita de Ngor era a onda do lendário filme e que continuava com sua bancada intacta.

Ao pegar o barquinho para fazer a rápida travessia, já era possível ver o final da direita de Ngor terminando no canal, extremamente perfeita e com apenas quatro pessoas na água. Descarregamos as coisas no surf camp e acelerei pro surf.

A entrada no mar era fácil e pisando nas pedras com a botinha não tive nenhum problema.

Por ser uma região equatorial a maré influi no horário do surf. Como a maré ainda estava bem cheia deu para ficar no mar por quase duas horas. Esta é uma onda que todo mundo sonha encontrar, porque é fácil de surfar e longa.

O Senegal faz um bico que avança sobre o mar e longe das bancadas a profundidade é grande, assim qualquer balanço produz uma onda com bom tamanho e força.

A direita de Ngor continuou funcionando por três dias (depende de swell de Norte ou Noroeste).

No quarto dia entrou um vento maral o dia todo e seguimos pra surfar as ondas fora da ilha, que ficam um pouco mais ao Sul. 

Quando Ngor tem maral, nestas praias o vento entra como terral e o mar fica extremamente liso.

A primeira onda que fui surfar se chama Vivier (Viveiro em francês) e quebra para a direita de um lado da baía. Do outro lado qubra para a esquerda.

É uma onda perfeita, mas rápida do início ao fim e não permite erros. Fui acompanhado do surfista local Mour, que trabalha no surf camp e meu deu as dicas de qual bancada escolher. Pegamos boas ondas ali.

No dia seguinte o maral continuava em Ngor e voltei a Vivier para checar as condições. Neste dia uma bancada chamada Club Med que fica em frente ao hotel desativado de mesmo nome começou a funcionar. Estava perfeita.

Esperei a maré encher um pouco e fui pra água. Depois do drop, que nem sempre é fácil se não estiver no lugar certo, abre uma parede bem manobrável e algumas vezes abre uma seção tubular.

Alan, um local que me acompanhava, disse que nos dias maiores ela se torna extremamente longa porque quebra mais atrás.

As ondas até ali estavam além do que podia imaginar encontrar. Com sol forte na cabeça todos os dias, não tive como conter a alegria.

Havia sempre pouca gente na água e os locais, em sua maioria adolescentes, eram bem receptivos. Nos dias que seguiram, ainda surfei um pico chamado Secret que fica próximo a bancada do Club Med e que dá para surfar mesmo quando a maré está vazia.

O desenvolvimento parece ter chegado ao país, pois é a única democracia estável há mais de 15 anos ao Norte do continente Africano.

Por toda parte era possível ver a construção de casas de alto padrão à beira-mar.

A população local ainda é majoritariamnte pobre, mas o que me surpreendeu foi que o índice de criminalidade lá é muito baixo e podia usar minha câmera sem me preocupar em ser roubado.

O dono do surf camp que é Francês e vive no Senegal há seis anos me disse que esta tranquilidade e segurança em poder andar nas praias, deve-se ao apego que todos têm à religião Mulçumana e à quase inexistência de drogas na região.

Nos dois últimos dias da trip o vento virou novamente. As praias do Sul ficaram com maral e Ngor com terral. A direita quebrou com um metrinho, às vezes um pouco maior. Deu para fechar a viagem com chave de ouro.