Espêice Fia

Roubada airlines

0

Peterson Rosa durante uma grande roubada no Rip Curl Pro 2006 e teve seu quiver lesado pela empresa aérea. Foto: Daniel Levy.

Quando comecei a viajar pelo mundo, uma das coisas que mais me preocupava era a bagagem. Ficava no grilo se chegariam ao destino final. E as pranchas, claro, eram a preocupação principal.

 

Sempre tentei embalar da melhor forma para que chegassem intactas. Muitos anos de estrada e aconteceu de tudo. Pranchas partidas a dois palmos do bico, rabeta que não prestava para nada, bordas danificadas que mais pareciam “dentadas” de tubarão, quilhas saindo pelo lado do deck e por aí vai…

 

Isso sem falar quando as pranchas simplesmente sumiam e nunca apareciam. O máximo de extravio de uma prancha minha foi por cerca de um mês. Mas as pranchas do Renan Rocha, por exemplo, em uma viagem à Indonésia com a extinta companhia americana Pan Am, nunca apareceram.

 

Muito tempo depois, a companhia acabou pagando judicialmente o material extraviado do Renan. Já imaginou estar em Bali sem seu quiver? O pior é quando acontece algo depois da pessoa pagar pelo excesso para transportar as pranchas. Aí é de ficar muito raivoso.

 

Nessa lenda de pagar excesso também já rolou de tudo. Diferenças mínimas foram cobradas. Chegou ao ridículo de ser R$ 5 e excessos exagerados que ficaram próximos dos U$ 1 mil.

 

O de R$ 5 ocorreu comigo e serviu para me atrasar e quase perder o vôo. A quantia alta foi no Japão. Não lembro com quem foi. Já faz muito tempo. Fato é que hoje em dia as cobranças ainda estão um tanto quanto bagunçadas e não existe critério entre as companhias aéreas. Algumas optaram por não levar mais pranchas.

 

No Brasil, as principais companhias (TAM e Gol) não cobram mais por prancha e sim pelo peso. Foi uma ótima solução. Rolava um grande transtorno na hora do embarque. Muitas vezes, a galera ia para Fernando de Noronha (PE) com quase nada de roupa e pelo menos  três pranchas.

 

Resultado, mesmo sem ultrapassar os 20 quilos permitidos, a turma saia com um prejuízo de R$ 300. E isso era por trecho. Se houvesse alguma parada no trajeto, pagava-se mais trezentinhos.

 

Viajando recentemente pela companhia centro-americana Taca, fui informado de que só poderia levar pranchas em capas pequenas. A norma da companhia é essa: duas pranchas por capa e paga-se U$ 50. As capas seguintes custam U$ 175 e por aí vai. Nego big rider ou atirado nos tubos não vai querer levar menos que quatro pranchas. Isso deixa a trip bem mais cara.

 

Até aí tudo bem, são os ossos do ofício. Mas o pior aconteceu há três semanas quando fui para o mundial Master no Panamá. A empresa aérea Copa permite duas pranchas por passageiro ao preço de U$ 50. Tudo OK, porém simplesmente ela não deixa embarcar mais que duas pranchas. Imagine meu sufoco e do surfista de Imbituba Carlos Santos ao chegarmos ao check in para embarcar para o Panamá com previsão de swell entre 1 e 2 metros?

 

Foi muito stress em plena madrugada até conseguirmos um passageiro que com boa vontade nos ajudasse a colocar em sua cota de bagagem uma capa com duas pranchas. Uma moça panamenha nos ajudou e na muvuca do avião partir, os gerentes entraram em acordo e abriram rara exceção para nos deixar levar a capa extra.

 

Ainda bem que conseguimos embarcar. As ondas no pico de Santa Catalina estavam com bastante pressão e o equipamento incompleto iria fazer muita falta. Para evitar este tipo de transtorno é sempre bom ligar para a companhia antes de embarcar e perguntar sobre as regras para levar pranchas.  

 

Não que eu não tenha feito isso. No caso da Copa, por exemplo, haviam me orientado que poderia levar capas com duas pranchas cada e achei que funcionaria no mesmo esquema da Taca. Na ocasião, se tivessem me informado corretamente, claro que eu teria mudado de empresa. Jamais embarcaria com apenas duas pranchas para um pico em que as ondas podem passar dos 5 metros. Mesmo o cara não sendo profissional, big rider ou freesurfer arrojado, fica complicado levar apenas duas pranchas para um pico desses.

 

Atualmente, estou na Costa Rica. Vim de Taca com a família passar dez dias para fazer um vídeo da Nivana Turismo. Sabendo das regras, desta vez não teve stress. Eu, minha esposa e nossos três filhos – cada um trouxe uma capa com duas pranchas – pagamos U$ 50 por capa.  Certeza é que prancha não vai faltar e a diversão está garantida. 

 

Fábio Gouveia
Campeão brasileiro e mundial de surfe amador, duas vezes campeão brasileiro de surfe profissional e campeão do WQS em 1998. É reconhecido como um ícone do esporte no Brasil e no Mundo. Também trabalha como shaper.