Direto do Front

Rômulo Fonseca analisa WCT no Tahiti

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Para Rômulo Fonseca, atleta Bruno Santos foi prejudicado pelos juízes na triagem do Billabong Pro. Foto: ASP / Covered Images.

A etapa do WCT no Tahiti começou em ondas clássicas na triagem. Sinceramente, pensei que os brasileiros fossem tirar o “pé da jaca”.
 
Bruno Santos foi passando bateria após bateria com atuações espetaculares, principalmente no homem-a-homem.

Eu explico: Bruninho é um craque nos tubos, mas não gosta muito de ficar disputando onda em bateria de quatro surfistas.


Então, ele invariavelmente começa a bateria meio devagar, deixando os outros surfar para aí começar a fazer seu show de desaparecer de vista.

Eu o vi fazer isto por vários anos seguidos em Pipe. Porém, vê-lo competir no homem-a-homem foi mais prazeroso ainda. Ele vinha facilmente aniquilando seus adversários, sempre dropando mais atrasado e, conseqüentemente, ficando mais fundo e mais tempo no tubo.
 

O colunista afirma que o aussie Anthony Walsh não merecia virar o resultado contra o brazuca. Foto: ASP / Covered Images.

Somente a matemática louca dos juízes da ASP poderia fazer Santos perder. A onda 10 que o local de Itacoatiara pegou na semifinal foi, fácil, a melhor do campeonato.

Como diria o Renato Hickel nos seus tempos de head-judge, o 10 dos 10. Um drop super atrasado, quase caiu, consertou no último segundo para ficar lá dentro e sair depois da baforada. Ele desapareceu por, pelo menos, seis segundos.


Repito que foi a melhor onda do dia! Aí, começa a mágica. O australiano pega um tubinho e ganha 8.0, pega outro e ganha 8.9, pega outro… Abracadabra! 9.6! Vira o australiano!
 
Peço desculpa à galera da ?ABOG? (Associação dos Baba-Ovo dos Gringos), mas esta não dava. A tal onda de 9.6 começou com uma encaixada que nem rodou, duas adiantadas fora do tubo, para depois ficar por três segundos num tubão no West Bowl.


Acho que uma nota 8.50 tava de bom tamanho. Quatro décimos de diferença para o 10 do Bruno é piada. Bota uma onda depois da outra e assiste. É claro que eles não colocaram a onda do brasileiro no vídeo da triagem. Ia pegar mal.
 
Bem, o destino acabou dando a vaga ao niteroiense. Porém, o que não foi divulgado é que se ele chegasse à final, teria garantido também a vaga no Pipe Master deste ano, além de todo o reconhecimento internacional no caso de ter vencido a triagem. “Garfada” feia que custou uma grana forte ao bolso do brasileiro.

Depois da triagem de sonho, o campeonato teve início em ondas bem ruins. Esquerdinhas curtas de 1 metro quebrando em cima do afiado fundo de coral. Desta vez farei uma análise resumida dos brasileiros, até porque todos parecem estar no mesmo nível técnico e de motivação.
 
Na primeira fase, com os juízes perdidos para dar nota em manobras, só se salvaram a competitividade de Mineirinho e a boa técnica de entubar de Bernardo “Pigmeu”. Do restante do esquadrão brazuca, ninguém conseguiu passar dos 10 pontos na soma das duas melhores notas. Neco e Raoni não chegaram nem a três pontos no somatório. Ridículo!
 

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Adriano Mineirinho fez boa estréia na prova, mas boiou demais no duelo com o novato Jeremy Flores. Foto: Bruno Lemos / Lemosimages.com.

A segunda fase, em condições similares, foi o dia de ouro para alguns. Vitinho surfou muito, pegou o melhor “tubinho” do dia, fez a melhor média, deu entrevistas.

Dornelles virou a bateria em grande estilo, com um surf de backside polido e radical. Perderam, sem apelação, Bruninho, Leo, Raoni e Neco.
 
Terceira fase, e tome “marola”. Esperava mais dos brasileiros, mas em ondas pequenas é ainda mais importante competir bem.

Não foi o que aconteceu. Saindo invariavelmente atrás, e pegando poucas ondas, caíram também Victor, Dornelles e Adriano de Souza. 

 

Dedicação de Mick Fanning faz a diferença na briga pelo título da temporada. Foto: ASP / Covered Images.

A pior derrota foi a de Mineiro. Contra um Jeremy Flores mais novo e menos técnico, o jovem brasileiro boiou demais e deixou o francês comandar a bateria. Vitória da força de vontade de Flores, que ainda foi adiante e venceu Slater para entrar no Top10.
 
Bernardo Pigmeu passou esta fase surfando muito bem, se encaixando bem nos “tubinhos” e com boas manobras.

Deu uma entrevista bem humorada sobre a origem de seu apelido e mostrou-se à vontade como centro das atrações.


Porém, foi só chegar à quarta fase para cometer os mesmo erros de seus conterrâneos. “Pig”, Raoni e Leo Neves são os melhores brasileiros. Estão empatados em 20º lugar, somente cinco pontos à frente de Mineiro e de um batalhão que ocupa a zona da “degola” em 25o.
 
Terceira etapa do ano e nem um “quintinho” pra ?brasileirada?. Tá difícil. Posso garantir que vai todo mundo “repescar” nas etapas do WQS do meio do ano para não correr o risco de terminar a carreira internacional em 2007.
 
Na corrida ao título, a dedicação de Mick Fanning vai fazendo a diferença. Dizem que ele saiu de Bell’s direto ao Tahiti para treinar, e a evolução dele em Teahupoo mostra que dedicação é um dos ingredientes principais dos campeões. De parabéns também a decisão da ASP em esperar mais uns dias por ondas boas. Foi como acordar de um sonho para sonhá-lo de novo nas finais.
 
Damien Hobgood entra na briga com a vitória na final. É um cara perigoso se chegar em Pipe com chances, mas eu acredito que ele não vai sobreviver a J-Bay, Trestles, França e Brasil em boa posição para o título. Seu surf nas direitas não tem explosão suficiente para bater os principais concorrentes ao título.
 
Com quatro australianos no Top5, Slater e Andy vão ficando cada vez mais longe do caneco em 2007.
 
Próxima parada: Chile. Sendo na América do Sul, bem que os brasileiros poderiam virar o jogo ali, mas quem dos top brazucas tem experiência nas ondas pesadas e águas geladas de Arica? Provavelmente, só Rodrigo Dornelles…