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Rip Curl resgata Jun Hashimoto

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Jun Hashimoto volta ao Brasil para assumir o cargo de gerente de produto da Rip Curl. Foto: Arquivo Pessoal.

Depois de passar 15 anos na Austrália, o designer brasileiro Jun Hashimoto foi convidado para trabalhar na Rip Curl do Brasil. A partir de 22 de abril ele assume o cargo de gerente de produto para fortalecer os objetivos da tradicional marca australiana com sede no Guarujá (SP).

 

“A idéia de retornar ao Brasil sempre esteve comigo e a oportunidade surgiu com o convite feito por Felipe Silveira, atual CEO da Rip Curl Brasil”, diz Hashimoto.

 

Segundo ele, as principais tarefas serão no campo de desenvolvimento, marketing, produção e fornecimento, além de vendas, supervisionando por completo o ciclo de criação de produtos.

 

Ele explica que se trata de um projeto de longo prazo, paralelo ao processo de adaptação ao mercado brasileiro, do qual está afastado há 15 anos.

 

“A Rip Curl International está em um processo de consolidação mundial em todas as áreas e principalmente na minha área de produto. Estamos trabalhando com  processos e sistemas que serão implementados no Brasil e que deverão trazer muitos benefícios ao nosso consumidor final, ou seja, o melhor que a tecnologia global pode oferecer para o surf em sincronia com lançamentos mundiais”, explica.


Jun, que além do surf também tem retrospecto na história do skate paulista a partir dos anos 80, teve seus primeiros trabalhos reconhecidos naquela época com a marca Stanley. Depois, já na Austrália, trabalhou nas áreas de design e consultoria com as marcas Rip Curl, Beach Crew, Boomdoggers, Cult, November, Body Glove e Golden Breed. Leia a seguir, trechos da entrevista concedida por email.

 

Qual o principal objetivo da Rip Curl com sua contratação?

Nosso foco é realizar o sonho dos indivíduos que estão sempre à procura do novo desafio, não só no surf, mas em qualquer área onde a filosofia do “The Search” se aplica. A procura é eterna. Acredito que a Rip Curl vai continuar apoiando o surf brasileiro como nunca e, quem sabe, num futuro próximo trazer um título mundial para nossa casa.

 

O que mais te atraiu na proposta da Rip Curl?
A chance de voltar ao Brasil trazendo o meu know-how e de fazer parte nesse processo de profissionalização mercadológica mundial, que é inevitável. Apoiar e desenvolver melhores equipamentos e atletas para que o surf venha a ser mais uma paixão nacional, como já é… realmente fazer parte dessa grande família do surf.
Trazer mais concientizção sobre problemas ambientais e implementar programas de apoio para iniciativas voltadas à conservação de nossas praias, como aqui na Austrália. Acho que este é um bom ponto de partida, porque nós surfistas seremos os primeiros a sentir os problemas do meio ambiente dentro da água.

 

Como você avalia o mercado do designer brasileiro nas multinacionais de surfwear?
Como eu sempre disse, e novamente reforço, o Brasil é um pais inspirador em todos os sentidos. Eu agora vejo o país com os olhos de estrangeiro, como o calor humano, o mistério excêntrico, a ginga, a alegria ingênua, a natureza da terra e do povo brasileiro, são coisas que cativam qualquer australiano. É claro que existe o lado ruim, corrupção, violência, pobreza, mas isso é para jornais e TV publicarem. Como dizem aqui, ?Brazil is cool?. E eu acho que os talentos em design que temos aí no Brasil, se não forem melhores, não ficam muito atrás dos daqui de fora. O que é preciso é mais exposição destes trabalhos. Se eu fosse designer aí no Brasil, com certeza tentaria um estágio fora do país, viajar, conhecer novos horizontes e bater nas portas das empresas daqui ou dos EUA e mostrar novos conceitos, porque todos precisam de novas direções.

 

E como você vê atualmente o mercado internacional e brasileiro de moda praia?
Com os eventos Rio Fashion Show e SP Fashion Show, o Brasil passou a fazer parte no circuito da moda mundial, o que demorou um pouco para acontecer na minha opinião. Hoje no Brasil temos marcas de praias com grande credibilidade nas áreas de fashion, de esportes de ação e de surfwear. Agora é uma questão de tempo para essas empresas adotarem um modelo global para se estabelecer definitivamente no mercado mundial. O Brasil é o país original da moda praia. É o que usamos no dia-a-dia até antes da colonização portuguesa!

 

Qual trabalho você vinha desenvolvendo na Austrália?
Minha empresa Shinpuku presta consultoria para empresas de moda, desenhos de lojas e desenvolve uma coleção de ?homeware?, um pouco de diversidade, o que eu acho importante para me manter em contato com a rapidez das tendências mercadológicas atuais.

 

Há quanto tempo você está na Austrália e em quais picos mais surfou?
Cheguei aqui em dezembro de 1992, há 15 anos e meio, vou sentir muita saudade da terra dos cangurus, um país maravilhoso, provavelmente o país de língua inglesa mais próximo culturalmente do Brasil. Dos 15 anos aqui, 13 passei aqui em Victoria e dois em Queensland. No início morei em Torquay e surfei muito Winkipop, minha onda preferida, e Bells Beach. Mas tem muitos point breaks e beach breaks na região e surfei também mais ao Sul, onde ficam os 12 apóstolos, ondas incríveis em Johanna e Price Town, perto de Port Campbell. Nos dois anos em que morei em Queensland, em ?Corrumbin?, foi quando estavam bombando areia do rio Tweed que se formou na bancada de Superbanks, onda quilométrica que emendava do pico de Snapper Rock até Kirra, uma distância de quase 2 quilômetros. Não foi o pico onde mais surfei, pois o crowd é impossível, mas foi onde presenciei os tubos mais longos da minha vida de surf. Quando retornei para Victoria, me estabeleci em Melbourne, onde moro, e passei mais tempo surfando na East Coast, principalmente em Phillip Island, um lugar de ondas alucinantes, como Wollomai e Express Point. Eu vou sentir muita falta da consistência de boas ondas que temos aqui em Down Under.

 

Como sua família vê a mudança de volta ao Brasil?
Todos aí no Brasil estão ansiosos, principalmente os meu pais, que vão ter a oportunidade de estar juntos com os netos. A minha esposa é australiana de Melbourne e os meus dois filhos australianos e brasileiros terão essa oportunidade única de experimentar um pouco da cultura e conhecerem as minhas raízes.
Acredito que as dificuldades iniciais deles serão com a língua portuguesa, mas com a ajuda de meus familiares e de Deus tudo vai dar certo. Sinto-me privilegiado de recomeçar um trabalho com a Rip Curl novamente no Brasil.