Muitas Águas

Quem tem medo do tubarão?

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Muitos de nós surfistas temos histórias sobre tubarões para contar. Foto: Aleko Stergiou.

A primeira vez que vi Tubarão (Jaws), de Steven Spielberg, em 1975, ano de seu lançamento, foi um verdadeiro terror. Aliás, a classificação dele é mesmo terror ou suspense. Na época, tinha exatos 11 anos e já surfava de planonda nas águas do Guarujá (SP), mais precisamente na praia de Pitangueiras.

 

Naquele deserto que era morar em São Paulo e estudar em um colégio semi-internato, as férias de verão eram como um oásis. Graças a Deus, o surf foi (e tem sido) minha terapia nas últimas três décadas. 

 

E lá estava eu, pegando minhas ondas, poucos meses antes do meu batismo – da passagem para uma prancha de fibra – quando ganhei minha primeira Lightning Bolt monoquilha no natal de 1976. Mas quase tudo foi literalmente por água abaixo depois daquelas sofridas e traumáticas duas horas de olhos arregalados na telona do Cine Guarujá. Era matinê e, na saída do cinema, tinha até gente passando mal! 

 

Algo realmente sério deve ter acontecido. No dia seguinte ao lançamento do filme, em pleno verão, o mar demorou bem mais que o normal para ser invadido pelos banhistas e pasmem: pelos surfistas também. Não era uma época de crowd como hoje, mas já existia uma galera fissurada. 

 

Muitos de nós surfistas temos histórias sobre tubarões para contar. Seja pessoalmente, seja com alguém muito próximo ou mesmo pela mídia, caso de Bethany Hamilton, a mais impactante sobrevivente de um ataque recente de tubarão. Inclusive, a história vai virar filme, com produção de Hollywood.

 

Eu, particularmente, tenho dois sustos, que não passaram disso – graças a Deus – e vou relatar.

O primeiro foi quando pequeno com minha irmã, no México. Meu avô materno vem  de uma família de muitos irmãos. Todos são italianos e depois da primeira guerra mundial (1914-1918), mudaram-se para outros países, temendo um novo conflito político. Portanto, tinha um tio-avô que morava numa região litorânea do Golfo do México e fomos visitá-lo. 

 

Meus avós ainda dormiam. Eu e minha querida irmã Rosana levantamos e fomos brincar na praia. Como toda criança curiosa, fui aos poucos entrando no mar por uma saída de rio, muito lindo e tranquilo, e chamando minha mana para brincar naquele playground de águas calientes e tropicais.

 

Tudo ia bem até uns caras do hotel onde estávamos e meus avós virem atrás de nós acenando e berrando bem alto: Tiburones! Tiburones!

 

Eu achei muito engraçado aquilo tudo. Um monte de gente gritando e acenando. Pensei: que legal, um monte de amigos para brincar com a gente, até meus avós! Que demais…. 

 

Os gritos não cessavam e comecei a ver aquela gente toda com os rostos tensos e nervosos. Achei que era alguma coisa que havia aprontado no dia anterior. Eu vivia aprontando mesmo! Como é bom ser criança.

 

Mas que nada, nos arrancaram da água no melhor da nossa brincadeira. Naquele falatório todo, perguntei: Tiburones, o que é isso? Menino, você não sabe? Tiburones é tubarão! Fiquei branco e saí voei para o quarto. Achei que ele podia vir correndo atrás de mim.

 

Essa foi minha primeira ideia real de um tubarão de verdade. Ali, naquela saída de rio, eram vistos tubarões enormes diariamente. 

 

O segundo susto aconteceu depois de muitos e muitos anos, em fevereiro de 1991, na Austrália.

Eu tinha 26 anos e estava numa viagem de 90 dias que passaria pela Nova Zelândia, Austrália e Bali. Era apenas a metade da trip, e não fosse a mão do Senhor, quase fico eu mesmo pela metade.

 

Estava em Duranbah, Gold Coast. Desfrutava de um tempo maravilhoso na terra dos cangurus. As ondas estavam pequenas, mas surfáveis e tinha surf em Snapper Rocks. Como adoro remar (é por isso que vidrei no Stand Up Paddle), depois de uma horinha de surf, falei para o Ramon, meu companheiro de viagem, que daria uma remada até Snapper. Pedi para ele me pegar de carro depois.

 

E lá fui eu remando, remando, remando… Apreciava aquela manhã australiana espetacular. O visual era de tirar o fôlego, que maravilha! De repente, em cima do penhasco, um sujeito acenava forte. Pensei: Cara, como esses australianos são educados. Uau! Gente fina é outra coisa! 

 

O cara não parava de balançar os braços. Pensei de novo: Poxa, não precisa também ser tão educado assim. Retribuí os acenos e continuei remando. Percebi então que ele me seguia por terra. O que seria aquilo? Será que ele me confundiu com o Tom Carroll e quer um autógrafo? Bom, pelo menos não tinha feito nenhuma estripulia, como nos tempos de criança no México. Minha consciência não me acusava. Continuei remando, ou melhor, surfando altas ondinhas até quase o começo de Kirra.

 

O cara no meu encalço não desistia de me seguir. Quando sai do mar, vi que tratava-se de um salva-vidas, com cara de poucos amigos. Pronto, de novo, outra bronca depois de duas décadas: “Você não é daqui, né? Então não sabia que estava correndo risco de vida? Ali é rota de tubarões!”. Pedi desculpas e a viagem continuou, sem maiores problemas.

 

Hoje, ao ler meu livro de cabeceira, vi: “Porque aos seus anjos dará ordem a teu respeito, para te guardarem em todos os teus caminhos.” Salmos 91:11

 

Brother, acho que dei algum trabalho para os anjos que Deus designou para me protejer. Só espero não estar dando – ou vir a dar – muito mais trabalho! Pelo menos estou mais atento e mais ajuizado com a idade.

 

Valeu, galera!

 

Inconsciente Coletivo Segundo o conceito de psicologia analítica criado pelo psiquiatra suíço Carl Gustav Jung, é a camada mais profunda da psique. Ele é constituído pelos materiais que foram herdados, e é nele que residem os traços funcionais, tais como imagens virtuais, que seriam comuns a todos os seres humanos. O inconsciente coletivo também tem sido compreendido como um arcabouço de arquétipos cujas influências se expandem para além da psique humana, atingindo também os demais seres vivos e, talvez, o universo inanimado. (Fonte: Wikipedia)