Muitas Águas

Os milagres da surfterapia

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Ao entrar na água, surfista começa a fazer parte de universo salgado e terapêutico. Foto: Aleko Stergiou.

Uma das coisas que eu mais gosto de fazer é ir a uma boa banca de jornal ou livraria, desde pequeno.

 

Acho simplesmente maravilhosas aquelas prateleiras e estantes lotadas de informação. Agradeço a Deus as oportunidades que me deu de acesso à cultura.

 

Aliás, não é nenhuma novidade que informação e cultura transformam pessoas, comunidades, povos e nações!

 

Naqueles documentários do canal de TV National Geographic é incrível ver como povos tão antigos detinham tanto conhecimento em áreas tão distintas como matemática, astronomia, medicina, entre outras.

Maias, Astecas, Incas, egípcios, e outros povos faziam prodígios. A busca pelo conhecimento faz toda a diferença e os governantes sabem o poder que isto nos dá.

 

Mas, voltando às livrarias, de alguns anos pra cá, o que mais tenho notado é o crescente número de títulos e exemplares de auto-ajuda, na busca do conhecimento de si mesmo. O mundo acelerou de uma forma tão absurdamente rápida, que acho que acabamos de certa forma nos perdendo com tanta informação, e às vezes tanta porcaria junto.

 

Estudos indicam que nesta era “internética”, nosso comportamento se altera a cada dia, surpreendendo os mais aprofundados estudiosos da mente e hábitos humanos.

Por outro lado, também nunca vi tantas pessoas buscando nas religiões, crenças e superstições mundo afora respostas para as mais profundas questões da existência, da vida!

Vivemos realmente em um tempo singular, de crise profunda. Olhando por outro lado, toda crise é a oportunidade ideal para nos questionarmos, crescermos, evoluirmos como pessoas. Os consultórios dos psicólogos e terapeutas também estão com agendas lotadas, pelo que tenho visto. Queremos descansar nossa alma fatigada pelo vai e vem constante desta maré que mais parece um tsunami!

Buscamos o conhecimento de nós mesmos! Quem somos, de onde viemos, para onde vamos? Aqui entra então o que estou chamando de “surfterapia”. Para mim, há alguns anos o surf recentemente voltou a ser uma espécie de terapia.

Quando tinha em torno de 10 anos, isto em 1974, já pegava minhas ondas numa prancha de isopor, as Planondas. Eu fiquei “magnetizado” por deslizar sobre as ondas, deitado em um pedaço de isopor.

Dali para minha primeira prancha, no natal de 76, foi um pulo e as férias já não bastavam, nem feriados, era todo final de semana a necessidade de ir pra dentro da água. Fissura mesmo.

Comecei a ver uma relação, mesmo que ninguém houvesse me aconselhado, entre surfar e deixar os problemas na areia. Ao entrar no mar, era como se tudo desligasse e eu entrasse em uma espécie de transe e me transportasse para outro “universo”.

As pressões da vida em família e sociedade aumentavam em mim e proporcionalmente meu surf também. Ali era meu “divã”, onde muitas vezes até falava em voz alta, conversando com meu inconsciente, conversando com algo maior, conversando com Deus.

Hoje, passados mais de 30 anos, já não sou nenhum garotinho, mas um homem de idade adulta, com as responsabilidades que a vida nos apresenta cada dia. Hoje, também passados muitos anos, descobri que meu verdadeiro terapeuta é o Senhor, com o qual tenho procurado me relacionar dia após dia.

Mas também assumo, publicamente e com muito orgulho, que tenho tido a oportunidade de surfar e nas idas até a praia, seja aqui ao lado de casa ou em outro continente, o surf voltou a ser uma espécie de terapia mesmo, um lugar onde, de certa forma, as pressões da vida dão um tempo.

Dentro da água sinto Deus mais forte, seja nas cores de um final de tarde, no som das ondas quebrando, o sentir da água passando por entre os dedos numa remada pela onda da série, o gosto salgado na boca de um oceano cheio de vida, ou os aromas da vida junto a uma natureza exuberante.

De forma alguma, quero fazer uma campanha contra os psicólogos e médicos psiquiatras, ao contrário, são pessoas que estudam o comportamento humano para com isso ajudarem ao próximo e se conhecerem melhor também, neste prazeroso e enigmático presente que é a vida.

Mas confesso também, que apesar de  ser um homem, já com as devidas marcas do tempo em meu corpo, me sinto por dentro como um garotinho, descendo cada onda como uma verdadeira benção, uma espécie de terapia mesmo….
“surfterapia” então.

 

Aloha galera, boas ondas a todos.

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