Muitas Águas

O melhor mar do Natal

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Praia de Pitangueiras sem crowd: cenário de um linda história de Natal. Foto: Aleko Stergiou.

Aquele Natal poderia ter sido  mais um para Johnny, mas ele se propusera a fazer algo diferente para si mesmo. Falara à família, que aquela data seria uma comemoração pela vida, de uma maneira como ele nunca tinha vivido.

 

Nós sabemos que as ondas são geradas, muitas vezes, a milhares de quilômetros de distância, cruzam oceanos, varrem o planeta para alinhadas, quebrarem a algumas dezenas de metros da praia. Johnny se propôs a algo absolutamente inusitado: no dia do Natal sairia de São Paulo, a mega metrópole de mais de 15 milhões de pessoas, para ir de encontro à sua paixão; as ondas, ou melhor: a onda!

 

Isto mesmo, Johnny iria descer a serra do mar, entrar no mar e escolher apenas uma onda. Surfá-la e voltar pra ceiar o Natal com a família. Teve esta ideia ao ler um artigo numa revista e viu que um renomado fotógrafo, diante de uma natureza exuberante pensou em fazer apenas uma foto num dia perfeito para centenas de imagens a serem congeladas pelo obturador da máquina.

 

Ao descrever aquela experiência aos leitores da reportagem, ele falou dos critérios de avaliação, a espera, lidar com a ansiedade e uma série de outros fatores com os quais lidamos em nosso dia-a-dia. Fazer a foto, era apenas um instrumento para se alcançar algo maior.

 

Johnny, resolveu então adaptar esta realidade para sua paixão: o surf. Mas como surfar uma só onda caso o mar estivesse perfeito? Quais seriam os critérios para escolha da onda ideal? O que ele sentiria se deixasse passar a onda de sua vida?

 

Estas e outras questões Johnny estaria por descobrir em breve.

 

Pegou sua prancha, sua mochila, a parafa com aroma de côco, sua preferida, os demais acessórios e desceu a serra.

 

O mar estava inacreditavelmente perfeito e… vazio…

 

Natal? Seria isto? Estariam todos juntos em suas casas? Meu Deus, que desperdício. Por que eu resolvi fazer este desafio justo hoje? Vou desistir, faço outro dia! Esta foi a primeira “onda” que Johnny resolveu pegar. Mas logo, lutando em sua mente disse: “Não vou me trair, não posso. Só pego uma onda hoje!”.

 

Ali Johnny já começava sua viagem interior, para a grande onda do dia do Natal. Ao remar pra fora, antes mesmo de chegar lá, uma esquerda perfeita o “chamou” para deslizar por um possível drop, cavada, tudo, e outra cavada e outra manobra, até a areia.

 

Era só pegá-la e ir pra casa. Que sujeito sortudo, pensou consigo mesmo, mas deixou a bendita passar e foi adiante. Passados alguns minutos, viu um grande amigo, que falou: “Brother, este é o melhor mar que já surfei aqui na praia das Pitangueiras! Não é possível que estou no Brasil pegando estas ondas e sem ninguém, quer dizer, com você agora! Vamos lá, vamos nos empapuçar de tanto surfar”.

 

Mas Johnny ficou com um sorriso “amarelo” pois seu brother nem imaginava seu propósito interior. Seu amigo dropou e falou pro Johnny ir na detrás.

 

Voltando ao fundo o amigo não parava de berrar de alegria e também questionar o porquê dele não ter surfado na outra onda da série, que quebrou absolutamente perfeita.

 

Jonnhy apenas falou para remarem forte, pois viria uma série grande ao fundo. Desta vez Johnny foi primeiro, mas… resolveu ir deitado, não se levantou, não surfou a onda do dia, a onda do Natal, talvez a onda da vida.

 

Desceu reto até a praia. Sua mente, seu coração buscava algo diferente para aquele Natal.

Milhares de pensamentos passavam pela cabeça enquanto ia, deitado até a beiradinha do mar.

 

Encostou as quilhas na areia, tirou a cordinha do pé, e apesar daquela atitude aparentemente insana, sentia uma paz muito diferente… Foi quando de repente um garoto apareceu à sua frente. Perguntou com um sorriso no rosto como seria surfar, como seria pegar uma onda, como seria viver aquele momento “mágico”.

 

Disse ser de família humilde, mas que um dia ainda trabalharia muito, muito mesmo pra ter sua própria prancha. Falou que queria ajudar sua família e a  ter uma vida mais digna com o surf. Disse que ficava horas admirando a coragem daqueles surfistas e seus rostos reluzentes quando saíam do mar, como se tivessem tido um encontro com Deus!

 

Ao perguntar seu nome, o garoto lhe respondeu: Joãozinho. Que coincidência, disse Johnny, este é meu apelido em inglês!!!

 

Johnny começou a sentir uns arrepios, então se abaixou até a pequena estatura daquele humilde garoto e pediu que ele fechasse os olhos e estendesse as mãos…

 

Ali, como que numa visão dos céus, como que no verdadeiro sentido para o Natal, Johnny viu sua onda… Ela não estava no mar, naquele dia, não estava na forma de uma linda esquerda, mas na rosto puro de uma criança carente.

 

Johnny segurou um choro, para não assustar seu amiguinho, e, então ajudando-o a segurar sua prancha novinha, que acabava de ganhar de natal, a entregou  como presente.

 

Antes mesmo dele abrir os olhos foram os olhos de Johnny que haviam sido abertos. Abertos para que o amor penetrasse no mais profundo do seu ser e Johnny então soube que ali ele acabara de dropar sua única onda do dia, a onda que havia planejado pegar. Bem diferente do que imaginava.

 

A vida de Johnny nunca mais foi a mesma, e também de Joãozinho…

 

Fica aqui nesta crônica de Natal um motivo para meditarmos o real sentido do nascimento de Cristo: o amor, ou melhor: o Amor. E Deus amou o mundo de tal forma, que deu seu Filho unigênito para que todo o que nele creia, não pereça mas tenha a vida eterna”. Feliz Natal. Pegue a onda da sua vida, ainda hoje. Ame mais, perdoe mais.

 

Motaury acessa o site A Onda Eterna