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No fundo do meu quintal

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Jamie O´Brien é um privilegiado de surfar no quintal de casa, em Pipeline, Hawaii. Foto: Julio Fonyat.

Qual é o surfista que nunca sonhou surfar ondas mundialmente conhecidas, como Pipeline, Sunset Beach, JBay, Uluwatu, Chicama, etc?

 

Afinal, desde moleque, temos a foto daquela onda colada na parede do quarto, o video de surf favorito e, principalmente, gravadas na memória, aquelas histórias fascinantes da galera que já teve o prazer de surfar essas paredes perfeitas, com pedigree.

 

Com a mídia especializada bombando, tanto impressa como em video, e, sobretudo, na internet, os mais fissurados atualmente têm acesso, diariamente, a novas ondas, novos picos, sempre alimentando aquele desejo de deixar, por alguns dias, a praia de onde é local rumo à onda dos sonhos.

 

Felizmente, nos dias atuais, as passagens aéreas estão mais acessíveis e, juntamente com isso, o turismo voltado para o surf não para de crescer e são muitas as opções de hospedagem, com conforto e custo para todos os gostos (bolsos), mesmo nos picos mais remotos, mundo afora.

 

De fato, partir em uma surf trip é um desejo a ser realizado por todo surfista, mas todo quintal de casa, certamente, tem seu valor.

 

Nem todo mundo é Jamie O’Brien, que tem o privilégio de acordar, abrir a janela e observar aquela esquerda de Pipe quebrando, impiedosamente, sobre a bancada de coral, mas o simples fato de ter um pico que você cai todos os dias, ou sempre que pode, verdadeiramente, cria uma relação de extrema intimidade entre surfista e onda.

 

Quem surfa sabe o quanto é comum o surfista, mesmo sabendo que há outro pico próximo quebrando um pouco melhor e até maior, pegar suas ondas em frente de casa mesmo, com os camaradas que também costumam surfar por ali. Aquela rotina que parece meio chata, a galera sentada na calmaria comentando sobre outras ondas mais perfeitas que já surfou, na verdade, é clássica.

 

Mas nada igual àqueles dias em que o quintal de casa, realmente, resolve funcionar de gala.

 

Não há sensação melhor do que chegar na praia, cedinho, e dar de cara com a sua onda, aquela que você já surfou tantas vezes, até nas piores condições, quebrando com perfeição, vento terral, aquelas paredes que você tanto conhece abrindo de forma inacreditável, os tubos rodando. Dá pra sentir a energia da galera no pico. 

 

É impossivel ver aquela série perfeita entrando no horizonte e não encher o peito de orgulho da sua onda, da sua praia. De resto, é curtir o dia abençoado, pegar altas ondas, traçar aquela linha que só quem tá sempre ali conhece, e, depois, quando estiver remando de volta para o pico, assistir aos camaradas pegando as outras da série, sem acreditar que toda aquela perfeição éstá bem ali, no fundo do seu quintal.