Pacto secreto

Litoral paulista em chamas

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Flávio ”Boca” Oliveira curte as pesadas ondas do secret. Foto: Patricia Evelin Kroger / Fusozerofilmes.com.br.

Visual do pico localizado no litoral paulista. Foto: Patricia Evelin Kroger / Fusozerofilmes.com.br.

No último dia 14 de junho, levantei às 2:30 horas da madrugada para ir ao banheiro. Na ocasião já deu para ouvir o barulho vindo do oceano, sinal de que aquele seria o dia que eu tanto esperava.

 

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Localizada no litoral de São Paulo, a onda que iríamos encarar pode ser uma das melhores do Brasil em suas condições perfeitas.

 

Já havia surfado por lá quando o local ainda era uma lenda e muito temido pelos poucos que o conheciam.

 

Tentei dormir novamente, mas àquela altura era impossível, pois fechava os olhos e o filme das situações que já passei por lá voltavam à minha cabeça.

Se a bancada está do jeito, este pico pode te prender com facilidade por duas ondas debaixo da água. Isso quase aconteceu comigo, em um swell anterior, mesmo com o colete salva-vidas.

Vacas horríveis, pranchas quebradas e ficar embaixo de uma série são coisas que você sabe que vão acontecer, mesmo em dias pequenos.

Em 1997, presenciei ondas realmente grandes neste local, facilmente com 7 metros, cuspindo labaredas de água em ambas as direções.

Era um mar enorme, em que eu e o surfista Alex Miranda caímos. Me lembro que surfei uma esquerda muito grande. Desci voando e, quando percebi, estava dentro daquele enorme salão, apavorado.

No caminho de volta pude ouvir o meu amigo, Fábio Alemão, na costa gritando. Nesta hora vi o Alex remando em uma bomba enorme para a direita e o cara sumiu por quase meia hora. Dei a volta no pico e esperei para ver se ele aparecia ou tinha sumido para sempre.

Ele voltou depois de remar muito e, quando nos encontramos, passamos batidos por uma série absurdamente grande. Tenho certeza de que aquele foi o maior mar que eu já entrei em toda a minha vida.

O surf de reboque lá em um dia bom era um sonho que eu planejava transformar em realidade desde que comecei a usar a máquina. Um dos meus objetivos era desfrutar este lugar em um bom estado, e isso aconteceu. Graças a Deus. Fomos abençoados com vento terral, swell de bom tamanho e direção.

Dormir era impossível com o mar rosnando naquela madrugada, então comecei a organizar os equipamentos, coletes, rádios, água, comida e café. Acordei o pessoal às 4:50 horas.

Minha esposa Paty me xingou muito, pois estava passada com o barulho que comecei a fazer no meio da noite. Mas quando o sol surgiu, e ela começou a fotografar, o seu humor mudou na hora.

Este swell foi na faixa de médio porte para o local: 3,2 metros com 12 segundos de período e maré baixa durante a manhã.

Este é aquele surf spot que quanto maior melhor. Dropar no meio do pico é quase impossível, porque a onda fica grande e o pico bem largo. Mesmo sendo rebocado, é melhor decidir logo se você vai para a esquerda ou direita, para não ficar preso no meio do pico.

 

Quando chegamos ao pico o sol ainda não havia nascido, mas as ondas estavam lá, sendo acariciadas por um terral incrível.

Surfamos altas, na maioria para a esquerda, mas algumas direitas ganharam o apelido de Shipstern, pois o degrau aparecia e um ollie air era inevitável. Na minha primeira pulei o bump e saí voando, caí na base, e depois foi só pancadaria até ser liberado pela máquina de lavar.

Em dias de médio porte, cada onda tem uma variação de shape. Na hora que elas secam na bancada, é bom que você esteja bem posicionado, para aproveitar o rush da onda.

Em algumas é melhor você contornar a bola de espuma que caí por causa dos degraus, antes de colocar no tubo.

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Sérgio Pudi passeia dentro do salão. Foto: Patricia Evelin Kroger / Fusozerofilmes.com.br.

Nesta session, tentei fazer algumas manobras nas ondas menores, mas elas eram tão rápidas e cheias de energia que era melhor passar bem longe do lip para não ser arremessado longe.

 

Às 10 horas, muito surfistas caíram na remada e o local estava lotado, por isso adotamos outro procedimento de navegação para uma colocada bem de longe e por trás.

 

Começamos este procedimento quando vimos os primeiros surfistas na remada aparecerem na costa. Nunca atravessamos a bancada com o jet-ski para evitarmos a aproximação com os surfistas que estavam remando.

Fizemos colocadas bem de longe e seguras. Somente em casos especiais, quando fomos solicitados e nos pediram algum auxílio, atendemos os chamados para oferecer alguma ajuda.

Em uma destas situações, resgatei um cara que quebrou a prancha e teve sua bermuda e sunga arrancadas no caldo. Foi muito engraçado olhar para trás e ver o meu parceiro abraçado com o cara pelado no sled.

 

Em um procedimento de resgate, é melhor contornar a bancada ao redor e pegar o seu parceiro no rio de espuma no final da onda.

 

Se você cair, tem que saber que o resgate vai demorar algum tempo, então é melhor relaxar e desfrutar que em um breve momento tudo estará calmo novamente!

Surfamos altas ondas e a Paty fez o registro. Surfar em um outer-reef destes no Brasil é uma benção divina, principalmente depois de pegar altas ondas na ilha dos Lobos (RS) em 2003 e ter que respeitar o triste veto por parte das autoridades.

 

Eles tiveram que ceder às pressões dos ambientalistas, que aproveitaram a mídia para se promoverem e depois sumiram da área. Os ambientalistas nada fizeram pela despoluição do rio Mampituba, a real ameaça a vida dos lobos-marinhos, que nem ficam perto da zona de impacto quando o mar está grande, o que acontece poucas vezes ao ano.

Mas a poluição está lá todos os dias e ninguém fala nada. Bom, viva o big surf no Brasil. Aloha e pratiquem o surf consciente.

Para obter mais informações, acesse o site Fuso Zero Filmes.