Torcedor Fanático

Super Jadson

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Gabriel Medina foi surpreendido por Josh Kerr nas quartas do Quiksilver Pro France 2014. Foto: © ASP / Kirstin
 

Vamos começar pela polêmica? Não, a ASP não “sacaneou” Gabriel Medina quando o fez ir pra água contra Josh Kerr na quartas-de-final. Choveram posts e comentários nas matérias dizendo que a entidade pisou na bola em jogar Medina na loteria de um mar que piorava a cada minuto.

Os dois atletas não se opuseram a surfar, e Medina sabia que poderia, sim, derrotar o australiano, fosse naquelas condições ou no dia seguinte pela manhã, onde provavelmente as ondas estariam melhores.

O fato é que quando a bateria caiu na água, o mar ainda estava “mais ou menos”, piorou muito ao longo dela e, ao final, já estava mesmo com pouquíssimas condições de surf.

A bateria seguinte seria a da Slater. Aí, sim, juntou tudo para mais um capítulo de “conspiração”. Foi o acaso perfeito que a ASP queria, mas foi também um prato cheio para muitos dizerem que o adiamento facilitaria muito a vida de Slater, que surfaria no dia seguinte num mar liso e tubular, contra Jordy Smith, que quebra tudo, mas não é um top tube rider.

Provavelmente, se eu não tivesse algumas informações de bastidores do Tour, eu viria escrever aqui que foi, sim, uma baita malvadeza com Medina, mas não foi. Foi uma péssima perfeita coincidência para muitos insatisfeitos com as mãozinhas amigas que muitas vezes aparecem sem querer querendo.

Agora, um ponto bem complicado é a falta de democracia, aí o bicho pega. Uma meia-dúzia de atletas com outra meia-dúzia de cartolas decidem se vai ter ou não campeonato. Não existe uma votação. O ideal seria juntar todos os atletas, olhar o mar e votar se vai rolar ou não evento, certo? Seria tão óbvio acharmos que isso rola, não é? Mas não rola. Simples e não rola.

Quem decide é Kierren Perrow e mais meia-dúzia de influentes. Especificamente na França, onde durante a semana rolaram altas ondas – tudo bem que não tão grandes como dos dois dias finais, mas muito mais clean e perfeitas do que as condições do fim de semana. Só que a direção de prova optou por aguardar o swell (que veio com vento) e colocar mais gente na praia, mais internautas no webcast, etc.

Só que, pelos atletas, o evento teria rolado durante a semana. Quem faz o show são eles, então nada mais justo do que eles decidirem o palco que querem atuar.

Enfim, talvez a imensa maioria do grande público não tenha acesso a esse tipo de detalhe e muitas vezes acabamos julgando sem ter algumas cartas na mesa.

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Jadson André recebeu bons elogios depois do segundo lugar em Hossegor. Foto: © ASP / Kirstin
 

Jadson, que beleza esse rapaz! Louvado e crucificado desde 2010, teve o marco positivo por ganhar de Slater na Vila e ao mesmo tempo que foi o divisor de águas entre o aéreo funcional e o radical (o que foi ridículo), entrou em parafuso surfístico performático, já que seus dois aéreos por onda passaram a valer menos do que duas rasgadas estilosas. O problema passou a ser a quicada da prancha entre um aéreo e outro e, isso, o arruinou nas papeletas (notas digitadas) dos juízes.

Nitidamente, quando ele começa a quicar a prancha lembra-se “não posso fazer isso, não posso fazer isso”. E até que consegue em muitas ondas fazer uma linha menos, digamos, “suja”. Um aprendizado, uma mudança no DNA de seu surf tem sido muito sentida e bem-vinda.

A falta de high performance em onda grande e cavada também era outro calcanhar de Aquiles do potiguar. Gradativamente ele foi superando isso, mas como? Simples: treinando e encarando condições cascudas. Fez isso em Teahupoo, chegando antes e marcando presença no line up lado a lado com os locais mais cascudos. Prova disso foi o surf em ondas tenebrosas com sorriso no rosto.

Porém, contudo, todos sabem que ainda falta, ele sabe que falta e não é pelo vice-campeonato que podemos esperar performances avassaladoras com tanta constância como gostaríamos. Espero errar, mas Jadson ainda é um surfista com potencial a ser aprimorado se quiser encabeçar ranking. Parabéns, foi fantástico e merecedor.

Medina na ponta faltando duas etapas, os matemáticos já entraram forte nas mil e uma possibilidades de título em Portugal ou Hawaii, e também já temos as previsões desastrosas de que se os concorrentes diretos forem bem ou razoavelmente bem, como Medina, ele perde o título.

Na opinião do óbvio ele só perde para ele mesmo, afinal o ranking, restando duas etapas e com uma vantagem que permite ainda um semi tropeço, não está tão difícil assim. Difícil mesmo está para os outros.

Gabriel foi consistente até agora, derrubou os tabus ao destruir de backside em Snapper, desbancando Mick e Parko no quintal dos caras, vindo de contusão, logo na primeira etapa do Tour, esculhambou Fiji como se fosse uma pista de skate e botou pra dentro de Teahupoo como se estivesse em Paúba.

Só que a reflexão é a seguinte: se foi surpresa ganhar, seria agora surpresa perder?

Miguelito representou, mostrou mais uma vez que pode fazer frente aos melhores, basta foco.

Filipinho vinha muito bem, respirou no ranking, mas deu branco em sua bateria contra Jadson.

Mineiro caminha a passos largos para ser novamente Top 10, ainda dá para buscar Top 5.

Raoni e Alejo, infelizmente, chegaram às duas etapas finais já pensando em milagre e nos Primes subsequentes.

A torcida é para todos, que Medina erga a taça e traga junto o resto da raça.

Brazilian Storm conquering the world.