Espêice Fia

Hawaii devagar e sempre

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Pinballs, a seção de quando Waimea está pequena, não é para amadores. Foto: Fábio Gouveia.

Fábio Gouveia curte início de temporada em Rocky Point. Foto: Bruno Lemos / Lemosimages.com.

Pelo segundo ano consecutivo, decidi vir ao Hawaii no início do mês de novembro. Porém, diferente do ano passado – no qual as três primeiras semanas foram de mares muito bons, as coisas se inverteram.

 

Mudaram tanto em relação ao ano passado que muitos relataram ter sido o pior início de temporada, ou melhor dizendo, o pior mês de novembro dos últimos invernos.

Geralmente típico do mês, ondulações e ventos do quadrante Nordeste fizeram as direitas prevalecerem na maioria dos dias. Foi assim nos maiores dias da temporada até agora.

 

Com isso, as ondas estiveram pequenas para o Reef Pro em Haleiwa. Já em Sunset, com a entrada do último e até agora maior swell, as ondas foram grandes e os ventos muito fortes.

Já no período das marolas muitos aéreos eram distribuídos. Com menção ao espetacular promovido por Flynn Novak e o recente executado por Gabriel Medina (ambos postados por Bruno Lemos no Waves).

Aliás, minha curiosidade prevaleceu pelo fato de o brazuca voador não participar das duas primeiras etapas da Triple Crown. Acabei não tendo a chance de saber pessoalmente.

 

Se foi para ficar focado em sua participação apenas no Pipe Master, o que deve ter sido, é muito válido, claro. Pena que por lá não tenha dado nenhum mar clássico para seus treinos. Salve claro, para o Backdoor.

Porém, achava muito importante fazer quilometragem tanto em Haleiwa quanto em Sunset, pois são ondas temperamentais e de difícil colocação. Não menos difícil, Pipe é mais previsível, apesar de toda sua monstruosidade em seus dias de pipoco. Haleiwa tem aquela corrente, ondas que hora engordam e hora te sugam e te jogam na bancada, muitas vezes causando estragos na sessão do “tolête”.

Já Sunset é aquela coisa, de Nordeste dominam as paredes no point e em outros momentos aquelas picambeiras no meio, ou seja, os famosos picos de Oeste. Daí, saber o timing e posicionamento, na maioria das vezes, só com quilometragem. Fosse assim, os resultados de Kelly Slater falariam mais alto.

Já vi excelentes performances dele ali, porém, coincidência ou não, não o vejo com frequência no pico como seus adversários. Claro, sei que suas ondas preferidas são Backdoor e Pipe, mas deve ter um entalo no fundo por “coroas” a mais em Sunset.

E por falar em Sunset, neste último swell o bicho pegou. Surfei no final de tarde depois das baterias e vi momentos extraordinários, tal como um tubaço de John John Florence e uma onda muito bem trabalhada por Pancho Sullivan, peso pesado havaiano. Esta vi ainda da beira.

Havia visto aquele cara rabiscando e por um certo momento pensei ser o Sunny Garcia. Mas, chegando ao outside e presenciando um drop atrasado, vi que era o Pancho. Nesta session vi boas rabiscadas do Guigui Dantas, tanto foi que venceu sua bateria no dia seguinte.

Neste mesmo dia aproveitei para surfar em Pinballs pela manhã, seção na Baía de Waimea que é nomeada assim quando está abaixo dos 5 metros. Não constatei se o pico do swell havia sido à noite, porém de fato não haviam muitas ondas nem séries muito grandes.

Por sorte, na hora que entrei com Victor Bernardo, parceiro de equipe de apenas 14 anos, tivemos um momento de certa constância. Tanto foi que ao ver o Victor já indo para debaixo do pico em sua primeira empreitada, dei o toque: “Mano, vá com calma, a gente ainda nem viu o tamanho do mar direito”.

Sempre fui assim, prudente. Depois pensei que poderia ter o deixado mais à vontade. Quem sabe levar uma morra na cabeça e tirar suas próprias conclusões. Mas preferi agir com meu coração, embora, querendo ou não, me sentia responsável pelo moleque de certa forma.

Não sou big rider, talvez esse seja o fato de minha prudência também. Se fosse um “Gordo Cesarano” da vida, com certeza tinha deixado o moleque encarar a situação, pois muitas vezes é assim que se aprende, confrontando o inesperado.

A session foi boa, entre 8 a 10 pés com series esporádicas de 12 e talvez umas um pouco maiores se botarmos a medida não havaiana. Dei sorte e peguei umas três ou quatro destas. Em uma delas, dropei despencando e nas últimas consegui controlar minha 10’6” feita por Jorge Vicente. O barco era enorme! Mas foi a chance que tive de testá-la, já prestes a voltar para casa. Ainda bem que tive a oportunidade.

Em uma das boas do dia veio um brasileiro, com quem sempre surfo no pico e cujo não lembro o nome (sorry brow!). Só vi aquele “barco” amarelo despencando para sair lá no canal. Foi uma cena bonita, porém logo o mar começou a baixar mais e aumentar o crowd.

No Hawaii também tem destas coisas e principalmente quando gera expectativa. Às vezes a turma olha o mar de fora e, em picos como Waimea, onde as séries demoram, pode parecer pior ou melhor do que realmente está. Nesse caso, os que estavam naquele momento deram sorte, pois vieram boas ondas sem muitas cabeças na água.

Temporada curta para mim este ano, hora de partir. Foi bom enquanto durou e os últimos dias valeram a pena. Sempre vale a pena, pois Hawaii é Hawaii. Na session em Rocky Rights da última segunda-feira, boas performances de Marco Giorgi e Raoni Monteiro.

“Véim”, Taylor Knox também estava lá. Não dá aéreo, mas manda-lhe uma rasgada de borda para qualquer grommet se espelhar. O destemido bodyboarder Paulo Barcellos registrava a ação aquática.

 

Correnteza forte, ondas maiores de 2 metros de face nas séries. Em seu novo ramo paralelo, o cara impressiona pelo posicionamento. Muitas vezes em baixo da prancha, raspando nas quilhas. Barcellos já lesionou-se ano passado em Pipe, mas sua resposta quando disse para ele botar um capacete foi simples: “que nada, vai assim mesmo”.

Com certeza ainda vamos ver muitas fotos esplêndidas deste brasileiro nessa temporada, tal como na passada. Em minha última onda, um drop atrasado e fui reto, pois estava atrasado também para partir ao aeroporto.

Muitos podem dizer: “caramba, o cara pega a última onda da trip de ‘retoside’! Que merda!”. Bom, talvez esse não seja o comentário, e até desculpem o termo, mas neste caso posso dizer: “ô merda boa!”.

Aloha e Mahalo.

Fábio Gouveia
Campeão brasileiro e mundial de surfe amador, duas vezes campeão brasileiro de surfe profissional e campeão do WQS em 1998. É reconhecido como um ícone do esporte no Brasil e no Mundo. Também trabalha como shaper.