Gabriel Pastori

Festa no salão

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Há alguns dias, escrevi sobre os sentimentos de amor e ódio que vão e voltam em questão de segundos aqui no Hawaii, e já nos primeiros dias desta temporada já pude viver na prática essa teoria.

 

Estava aqui havia dois dias e as coisas não vinham dando muito certo. Cheguei fazendo duas sessões fracas em Rocky Point e, em uma delas, destruí uma prancha que parecia ser mágica tomando ondas na cabeça.

 

No dia seguinte, surfei Pipe no fim de tarde, depois do primeiro dia do Pipe Masters, e só consegui pegar uma onda quando já não conseguia enxergar mais nada, pois já era quase noite.

 

Além disso, estava com uma prancha nova que eu e meu shaper Joca Secco desenvolvemos com características tão diferentes que estavam me deixando meio inseguro.

 

Resumindo, eu não estava pegando nada, o swell já bombava e ainda estava com medo de a prancha nova não funcionar, ou seja, tudo estava dando errado. Eis que no segundo dia do Pipe Masters eu entro já meio cabisbaixo para um surf um Off-The-Wall de 2 a 2,5 metros, com poucas ondas abrindo.

 

Estava na água havia quase duas horas e nada. Na minha cabeça, eu já pensava “Caraca, esse começo de temporada tá f…”. Virei para meu amigo Diego Silva e disse “Vou pegar uma para sair cara, tá mal isso aqui..”, e quando eu menos esperava, lá veio ela! Na minha direção, uma esquerdona apontou e todo o crowd da direta gritou para eu ir.

 

A partir daí foi só alegria. Dropei meio atrasado jogando para dentro, prancha funcionando muito bem no trilho e saída do tubo com o público do Pipe Masters aplaudindo.

 

Todo aquele ódio foi embora em alguns segundos e se transformou numa das maiores felicidades que uma temporada pode proporcionar. Dei sorte, pois o campeonato estava em um momento de calmaria e o público começou a olhar para Off-The-Wall.

 

Em êxtase, acabei não ouvindo o público aplaudindo e assoviando depois da onda, como meus amigos me contaram depois. Mas, quando cheguei à areia, pude ver de perto todo mundo fazendo isso. Dificilmente eu vou participar de algum Pipe Masters na minha vida, mas a sensação que tive naquele momento foi, sem dúvida, inesquecível.

 

O tubo de fato foi bom, como muitos tubos surfados por aqui, mas naquela hora as coisas acabaram se encaixando e tudo aconteceu da melhor maneira possível. Muito bom começar a temporada desse jeito! ?Aloha!

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Amor e ódio no Hawaii

 

Foto de capa Arquivo André Portugal