André Carvalho

Espaço na agenda

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Fui mão de obra barata pra muita gente no Havaí entre 2001 e 2004, mas dois chefes que tive por lá influenciaram bastante minha vida profissional. Com eles, nossas jornadas de trabalho eram definidas de acordo com as condições do mar. Pegávamos pesado enquanto as ondas não estavam boas, porém, se as previsões apontassem uma ondulação, tínhamos dias de folga ou meio período pra aproveitarmos as bancadas que estivessem funcionando ao redor da ilha de Kauai. A cultura local e a realidade econômica do país permitiam este tipo de prática naquelas empresas.

 

Esses chefes se tornaram amigos e também meus ídolos. Lembro que observava o jeito deles de viver e imaginava construir uma realidade parecida pra mim. Um deles tinha seus 55 anos e outro beirava os 40, mas ambos tinham uma história de vida dedicada ao mar e me mostraram que era algo natural pegar onda em horário comercial. Parar no meio da semana para surfar fazia parte do cotidiano, afinal não se sabia quando as condições estariam boas.

 

Quando retornei ao sul do Brasil, tive problemas na readaptação. A realidade que encontrei era muito diferente. Os anos passaram, e como um burro atrás de uma cenoura presa em uma vara em frente ao rosto, persigo aquele ideal de poder aproveitar bem as ondulações quando elas acontecem.

 

Às vezes rola, muitas vezes não, entretanto, em outubro alinhei a agenda e rolou. Na ocasião, pude aproveitar a ondulação que varreu o Atlântico Sul naquele mês.