Sebastian Imizcoz

Escritório em Mentawaii

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Macaronis, Mentawaii 2007, Indonésia. Foto: Sebastian Imizcoz.

O fotógrafo argentino Sebastian Imizcoz é um privilegiado. Conhece a Indonésia como poucos e há quatro anos o seu trabalho é fotografar surfistas que visitam as ilhas Mentawaii.

 

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Nascido em Buenos Aires há 37 anos, o fotógrafo corintiano está no momento em São Sebastião, mas gosta mesmo de ser encontrado em algum de seus picos preferidos: Maccaronis, Hideways, Telescopes.

Nesta entrevista exclusiva ao Waves, ele conta um pouco de suas viagens e da boa vida que leva atrás das boas imagens.

 

Como surgiu a oportunidade de trabalhar num barco nas Mentawaii?

Em 2002 eu estava fotografando em Nias, quando fotografei o dono de um barco que operava nas Mentawaii. Entreguei as fotos junto com meu cartão e depois de dois anos recebi o convite para trabalhar como

Playgrounds, Mentawaii 2006, Indonésia. Foto: Sebastian Imizcoz.

fotógrafo na empresa SKM. Este ano estou indo para a minha quinta temporada nas Mentawaii e a décima na Indonésia.

 

Qual sua função exatamente?

No começo, eu só fotografava. E viajei muito com Jordan Heuer, um dos melhores guias daquela região, que me ensinou muito sobre os picos, ventos e direções de swell. Agora, além de fotografar tudo (imagina que cada passageiro leva de três a cinco mil fotos de cada trip), também sou o guia do barco. Basicamente tenho que acordar às 4:30, ver o que o vento e as ondas estão fazendo, escolher em que pico surfar, e tentar chegar nele antes do amanhecer. Tenho que ficar esperto para qualquer mudança nas condições, para ir para outro pico. O importante é não perder tempo de surf, e tentar pegar a maior quantidade de sessions sem ninguém.

 

Qual foi a melhor temporada até agora?

Acho que a mais constante foi em 2005, mas todas elas tiveram seus momentos especiais. Cada ano que passa não paro de me surpreender com a quantidade de novos picos descobertos. Tem dois picos que foram descobertos no final da ultima temporada e não vejo a hora de chegar e vê-los ao vivo.

 

De todos os picos visitados qual o que mais te impressionou?

Escolher um só pico nas Mentawaii é muito difícil, são muitos fatores, frequência, tamanho, perfeição, nível de dificuldade… Kandui é uma onda que pode te dar um tubo de 18 segundos, como fez Ozzie Wright em 2007, mas é menos constante que Green Bush, ou Maccaronis, uma verdadeira pista para qualquer um brincar até com maral. Eu fico feliz em qualquer um dos picos das Mentawaii.

 

Você leva uma vida de sonho, viajando, fotografando e surfando. Alguma roubada de vez em quando?

Minha maior roubada aconteceu em setembro de 2007, quando eu estava no porto em Padang, Sumatra, e rolou um terremoto de 8,2! Eu já tinha passado por muitos terremotos, mas nenhum tão forte. Você se sente pequeno, como se fosse uma formiga, tudo se mexe, a terra toda treme e não tem nada a fazer a não ser subir o primeiro morro e torcer para não vir um tsunami. Por sorte, não foi daquela vez, mas bateu na trave, já que em 2005 foi um terremoto de 8,4 que originou um tsunami em Nias. Mas, roubadas têm todo ano e sem isso não tem viagem, faz parte. Na hora é chato, mas quando passa, você sempre lembra com uma risada e fica alguma história boa para contar.

 

Vale a pena financeiramente ou o surf em ondas perfeitas compensa?

É mais pelo prazer de viajar, visitar os amigos na Indonésia, surfar sempre que der… Dinheiro? Olha, tendo para meu bilhete, alguma câmera ou lente nova cada tanto, acho que não preciso de mais nada…

Meu único apoio é a agencia STC. Eles sempre me descolam o preço mais baixo para Indonésia.

 

E a família, o que pensa deste seu trabalho em ilhas no outro lado do mundo?

A minha mulher já me conheceu viajando. Três dias depois de conhecê-la tive que viajar… Mas sempre que pode ela vai junto!!! Ela é pilhada em viagens, então me entende e apóia!

 

Com quais nomes do surf internacional você já viajou?

Já viajei com alguns moleques da Califórnia que participam do WQS, às vezes você os vê fazendo o tubo da vida deles e nem um sorriso… Realmente o melhor é quando você vai com atletas que estão de férias, e não tem a obrigação de nada. Já fiz trips com Brad Gerlach, muito gente fina, superrelaxado, sempre de bom humor. E também fiz algumas trips engraçadas como uma com um ator que foi um dos “ex-presidentes” do filme Caçadores de Emoções (Point Break) e com o time campeão de futebol australiano de 2008. Fotografar pessoas de férias é muito mais fácil e divertido… São eles que comemoram quando completam um tubo, eles têm a alegria de surfar!

 

Onde tem publicado seus trabalhos?

Tenho publicado em revistas de surf no Brasil, Argentina, Uruguai, Chile, Estados Unidos e Europa, além da Austrália e Indonésia logicamente.

 

Quando não está nas Mentawai você fica em São Sebastião. Você não pensa em voltar a viver em Buenos Aires?

Na minha vida não tem nada planejado, nada me impede de acabar de velhinho morando no meio de uma montanha cheia de neve, ou em alguma ilha perdida, na realidade acho difícil eu parar em algum lugar, eu preciso viajar…

 

Qual seu equipamento?

Eu sempre gostei de Canon, agora estou trabalhando com a 40 D, só que eles não me dão tempo de curtir a câmera que já lançam outras. Então, logo mais vou ter que pegar a 50 D, para ficar sempre atualizado.

 

E qual seu quiver para surfar na Indonésia?

Eu deixo minhas pranchas por lá mesmo, pois já carrego muito equipamento fotográfico. Eu tenho uma 6´8? em Bali, e nas Mentawai uma 6´4? e uma 7´0?. Nas boat trips sempre aparecem alguns malucos com uns modelos novos de prancha, e às vezes dá para testá-las!

 

Você colabora com o Waves desde o começo do site em 1998. Em que você acha que mais evoluiu como

fotógrafo nos últimos anos?

Em 2004 fiz um curso de fotografia na Suíça que me ajudou muito. Acho muito importante estudar e ficar sempre informado das coisas novas. Eu lembro da minha primeira matéria, eu levei as fotos na redação em papel, tivemos que escanear, todo um trabalho. Depois daquela temporada, comecei a fotografar digital, com uma Sony 2 mega pixels que tem uma resolução menor que vários telefones na atualidade. Depois vieram a Canon 300 D, 350 D, 30 D, 40 D… Sei lá quando vai acabar…

 

A fotografia digital tornou possível o surgimento de vários nomes. Ao mesmo tempo, fotógrafos tradicionais e mais conservadores perderam espaço na mídia. Como você analisa essa questão?

A fotografia digital reduziu muito os custos e deu uma margem maior para consertar erros. Então, antes um grande fotógrafo era aquele que batia uma foto e ficava perfeita. Agora, qualquer fotógrafo pode bater mil fotos se quiser até ter uma perfeita. Não vejo nada de errado nisso, sempre que o resultado seja uma foto perfeita!

 

O que diria aos profissionais da nova geração que pretendem viver da fotografia?

Estudar, não se focar só num tipo de fotografia, saber fotografar de tudo e gostar do que faz. Este é o verdadeiro pagamento!

 

Fazendo um retrospecto de sua carreira, quais seus acertos e erros na profissão?

Acertos: ter começado a fotografar. Erros: eu não me arrependo de nada do que eu fiz, faria tudo de novo igual!

 

Qual fotógrafo mais influencia o seu trabalho?

Na realidade não tem um em especial. Gosto muito de ver o trabalho de outros fotógrafos, analisar e tirar as melhores coisas de cada um. Mas invejo muito o JR Duran!

 

Como define o seu tipo de foto?

Amplo. Eu gosto de fotografar tanto surf como as pessoas num mercado local, como um vulcão. No meu blog vocês podem ter uma idéia do geral do meu trabalho.

 

Um toque para a galera que aprecia o seu trabalho.

Abraços e tomara que cruze com vários de vocês nas Ilhas. Para qualquer informação, estou disponível no endereço [email protected] .