Espêice Fia

De volta para o Futuro

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Pódio da categoria Grand Master, vencida por Fábio Gouveia. Foto: Arquivo Pessoal.

Galera das antigas reunida na praia do Futuro, Fortaleza (CE). Foto: Fábio Gouveia.

Tentando arrumar uma vaga para o Mundial da ISA, que será realizado em outubro em El Salvador, me piquei rumo à praia do Futuro, Fortaleza (CE), para participar da segunda etapa do Circuito Brasileiro Master da CBS.

 

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De cima de meus 41, acho que já tô ficando ranzinza, pois foi a segunda vez que saí do Sul para o Nordeste em um voo comercial e sem um alimento servido que quebrasse o oco do meu bucho.

 

Só batatinha e rosquinhas de coco, é osso! E o pior é que nego anuncia que tem rango a bordo para vender. Mas eu nunca dou sorte de encontrar.

Na manhã seguinte ao meu desembarque, às 5 horas da matina, já estava de pé. E, segundo o santista Grand Master Anderson Neguinho, que viajou ao lado de Ricardo Toledo até a praia do Futuro, às 4:45 da manhã já estava clareando. Resultado, a turma que voou madruga adentro já descia do “asa dura” direto pra água.

Sei que isso soa engraçado, mas não é que ao chegar ao pico a primeira coisa que escutei de um “boy” local foi: “Fia, hoje o mar baixou, mas no começo da semana tava clássico, ó!”. É novas…  Mas mesmo com as marolas presentes, o visual do pico no terral das manhãs era paradisíaco.

 

O fundo do praia do Futuro estava bom, longas esquerdinhas marchavam de tempos em tempos em cima da bancada rasa na maré seca. Já no momento de transição da mesma, ficava um caos, principalmente no sábado, quando as ondas estavam menores.

Os competidores que caíam naquele momento sofriam, pois não sabiam se ficavam no fundo esperando as demoradas séries ou ficavam no quebra-coco, que fechava ainda mais rápido.

 

O Grand Kahuna cearense, Raimundo Pena, veio em minha direção e falou: “Macho, me filma aí na batéra!”. E eu respondi: “Rapaz, na outra eu até tentei, mas vocês ficaram no meio da ‘bacia’ e eu desisti. Foi assim na final dos Grand Kahunas, alguns mal conseguiam arrastar as “boias”.

Já o potiguar Edu Elias, conseguiu manobrar bem e logo foi o vencedor da categoria, mostrando bastante energia. “Dinossauros”, de 50 pra cima… Nessa, das idades avançadas, era uma comédia escutar o locutor Marcos Bukão dizendo que ali estávamos somando um século se juntássemos as idades de todos os competidores.

Se o mar estava difícil em alguns momentos, nos bons horários, vi muita gente andando bem. O “peso pena” Junior Maciel estava voando e no sábado havia feito a melhor nota de todo o evento. Eu não vi sua onda, mas ao chegar  na praia a galera exaltava seu feito. Também do estado de Santa Catarina, David Husadel manobrava bem, eram várias pontadas e rasgadas. Aliás, pontadas deu Renato Coutinho, do Espírito Santo. O cabra estava voando também nos treinos, mas em sua última participação, as ondas não deram as caras, pois a maré estava em transição.

 

O cearense Sérgio Cavalcante, que retornou a Fortaleza depois de um tempo nos “istêites” e que agora mora atrás do pico, também era um dos que estavam achando boas ondas e fazendo um surf bonito, tal como o local de Baia Formosa (RN), João Maria. Acostumado ao point break de pedras de seu quintal, João estava solto na marola do beach break do “Futuro”, mandando boas rasgadas e passando longas seções com floaters. O tempo passa, mas para alguns parece não passar.

Fiquei incrédulo quando vi o carioca Beto Cavaleiro na categoria Kahuna. Nossa, o cabra já tem 46? Poxa, competia com esse bicho na época de Amador! E o estilinho é o mesmo, aquele “kit” com o bracinho todo certinho e as perninhas e joelhinhos para dentro, tudo nos conformes! (risos).

O Grand Kahuna Odalto Castro também está bem. Mas, algumas semanas antes do evento, teve um infarto. Caramba, nem sabia. Tomei um susto quando me falaram. Mas é a idade da galera chegando, mesmo assim, nego não arreda o pé do surf. É isso na real é o que traz a longevidade.

Tudo bem que com uma dorzinha aqui, uma entorse ali… Mas a galera vai levando e se divertindo.

 

Odalto assistiu a final da Grand Kahuna, pois pegou a camiseta de competição e somou apenas os pontos na semifinal. Não recomendado por seu médico, o perigo era justo esse: ver os seus adversários somando pontos e ele ali, na beira, só assistindo e caindo do ranking. Segura o coração, macho véi! (risos).

Nesta etapa revi muitos amigos, tal como meus conterrâneos, ferrenhos competidores da época de Amador, Brainer “Mocó” Brito e Junior “Coquinho”. Estava na torcida pra surfarmos uma bateria juntos e relembrar os velhos tempos, mas a turma não passou na primeira fase e ficará pra uma próxima vez.

 

Mesmo com a distância do eixo do surf, uma galera boa compareceu. Ricardo Tatuí, Sérgio Noronha, Fabio Quencas, Carlos Santos e muitos outros. Porém, sentimos falta de caras como Cezar Picuréia e outros tantos bons surfistas cearenses que fizeram história.

A cidade de Natal é próxima e, mesmo assim, pouca gente veio. Cadê o Testinha, Hertz Medeiros, Felipe Dantas? O voador Joca Junior? Diz a lenda que o circuito irá acontecer com quatro etapas, as duas próximas serão no Sudeste. Se realmente rolar, vai ser legal, pois teremos uma oportunidade de um descarte, coisa justa para muita gente que, de uma forma ou de outra, não pôde ou não poderá participar de todas as etapas. Mas eventos Masters são assim, muita gente tá na ativa, mas outros vão por puro prazer e, para outros, trabalhos e obrigações falam mais alto.

Desde que inventei esse negócio de comprar filmadora, gravo muita coisa. E nesta etapa não foi diferente. Me dividia em surfar minhas baterias e filmar a galera, bater fotos, prestar atenção na turma. O programa que tenho lá no canal do Ricardo Bocão, o Woohoo, já tá sendo cobrado: “Macho véi, vai passar essa etapa lá no ‘Rái Êite’ sem tripé?”.

 

O ombro pesou e saí de fininho dizendo que o ‘Rái Êite’ não tem compromisso com cobertura digna de um campeonato de surf. Tudo ali é na base do improviso, da zueira, da diversão. Logo filmo umas ondas aqui, outras ali e no final saí um “baião de dois”. Às vezes o “cabra” pegou um onda “duca”, e eu não filmei. Depois neguinho chega e diz: “Meu irmão, como tu não filmou aquela onda? (risos)”.
Portanto aqui vou saindo mais uma vez de fininho, até porque tinha um voo marcado para as 4:30 da tarde e fui correndo pro hotel pra arrumar minhas tralhas antes da premiação.

Não tive como acompanhar as vitórias das categorias Kahuna e Master. Retornei à praia apenas no finalzinho desta última quando Teco Padaratz levantava os braços após soar a buzina. Campeão!

 

Logo valeu todo o conteúdo dos dois dias de prova. Deixo aqui um grande abraço pra todos os participantes e envolvidos de uma forma geral em mais uma etapa de muito surf competitivo, confraternização e diversão. A foto histórica que todos fizeram a frente do palanque foi de arrepiar. Era uma gritaria só.

 

E é claro, não poderia esquecer de mencionar a sensação de receber meu troféu das mãos da legend Tita Tavares, que está em plena forma, mas infelizmente sem patrocínio. Ela estava lá acompanhando as disputas amarradona e doida pra estar dentro d’água fazendo o que mais gosta, competir.

Valeu galera, até a próxima!

 

Resultados do Smolder Surf Masters 2011

 

Master

 

1 Teco Padaratz (SC)
2 Júnior Maciel (SC)
3 Flávio Sukita (CE)
4 Sérgio Ricardo (CE)


Kahuna

 

1 Sérgio Penna (RJ)
2 David Husadel (SC)
3 Cardoso Júnior (CE)
4 Beto Cavallero (RJ)
 
Grand Master

 

1 Fábio Gouveia (PB)
2 Jojó de Olivença (BA)
3 Ricardo Toledo (SP)
4 Júnior Maciel (SC)
 
Grand Kahuna

 

1 Edu Elias (RN)
2 Jorge Bitencourt (BA)
3 Saturnino Borges (RN)
4 Raimundo Pena (CE)

Fábio Gouveia
Campeão brasileiro e mundial de surfe amador, duas vezes campeão brasileiro de surfe profissional e campeão do WQS em 1998. É reconhecido como um ícone do esporte no Brasil e no Mundo. Também trabalha como shaper.