Billabong Pipe Masters

De olho na decisão

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Gabriel Medina busca o seu segundo título mundial. Foto: © WSL / Cestari.

 

Nos últimos meses de 2014, uma combinação de resultados permitia Gabriel Medina tornar-se o primeiro brasileiro a conquistar o título mundial na antepenúltima etapa do circuito, em Peniche, Portugal.

Muita coisa havia acontecido desde o momento em que vi, com os olhos que essa terra há de comer, o menino de Maresias iniciar o novo ciclo de sua carreira naquele mar de meio metro, na praia da Joaquina, durante uma etapa do Rip Curl Grommet Search.

A linha da onda, a força e a determinação com a qual enfrentava os adversários animaram-me a escrever, pela primeira vez, sobre o nosso universo. O texto foi publicado pelo Waves e o contato com os camaradas do fórum, as críticas e os elogios lançaram-me numa irresponsável carreira de escritor bissexto.

Durante anos, assisti a muitos os campeonatos enquanto seguia, ainda que a coluna não permitisse, em busca da onda sonhada. Muitas viagens, algumas incríveis, outras perfazem a minha coleção de roubadas.

Coisas de quem tem a vida pautada pelo ritmo da natureza, pela vontade dos mares, pelo desejo de que tudo se encontre, verdadeiramente, num mínimo intervalo de tempo; isto é, na ondulação certa, no vento terral e numa arrebentação vazia…

Quem é ou foi surfista deve acostumar-se com a arte da espera, com a escuta da própria respiração enquanto imagina a linha perfeita, a linha perfeita…

Nessa toada, e animado por ela, avisei numa tarde quente de outubro à minha mulher que estava de passagem marcada para Portugal. Dez dias, eu permaneci além Tejo; dez dias transcorreram sem nenhuma bateria…

Aproveitei para almoçar diariamente na Tasca do Joaquim, conversar com Charles, pegar algumas ondas em Baleal e Pico da Motta. A felicidade pela longas linhas das praias portuguesas contrastaram com a melancolia de assistir na sala de embarque do aeroporto de Lisboa a derrota precoce de Gabriel.

O titulo, então, seria decidido em Pipeline e, constrangido pela família e pelas obrigações do trabalho, assisti ao primeiro título com lágrimas nos olhos e a certeza de que, um dia, eu estaria no Havaí para testemunhar uma decisão pelo caneco. À medida que o tempo corria, inaugurei um blog de surf, quase me tornei colunista da Fluir e, sem razão ou motivo, abandonei tudo para  dedicar-me, com afinco, ao trabalho.

Quando tudo parecia longínquo, Gabriel arrancou duas vitórias seguidas na Europa. O campeonato estava aberto e o feito do menino comoveu-me. Pipeline, a rainha máxima, transformou-se ,mais uma vez, no palco em que se decidirá quem é o maior surfista do ano. No páreo, quatro camaradas com estilos diferentes e com chances reais… Para mim, importa apenas o duelo entre João João e Gabriel…

Decidi, mais uma vez num rompante, ir para o arquipélago. Comprei passagem, reservei hotel e tentei, com todas as forças, conciliar a minha agenda com a janela do campeonato. Consegui cobrir um grande intervalo de tempo, cerca de dez dias. Espero não cometer o erro de Peniche…

Eu quero muito assistir à última etapa de 2017 com 12 pés limpos. Dispus-me a escrever um texto por dia sobre os acontecimentos no Litoral Norte. Publicaremos, aqui, no Waves, entre 9 e 18 de dezembro, seja sobre o campeonato, seja sobre o que ocorrer ao seu redor. Estou animado, com duas pranchas debaixo do braço e com um largo sorriso no rosto.

É isso… Até lá, meus amigos! Para todos, boas ondas e um bom fim de ano.