Espêice Fia

De jatinho ou de carroça

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Indonésia é um dos destinos mais desgastantes na vida de um surfista profissional. Foto: Bruno Lemos / Lemosimages.com.

Outro dia, enquanto escutava o noticiário local, vi a reportagem sobre a viagem de Neymar em um jato fretado para a partida entre Santos e Figueirense pelo campeonato brasileiro em Florianópolis.

Isso aconteceu depois de dias exaustivos do atleta na disputa das Olimpíadas de Londres e na sequência o amistoso contra a Suécia.

Até pensei, caramba, o esforço físico deve ser enorme, será que não correria risco de se machucar? Bom, pouco sei sobre seus treinamentos físicos e de quanto um jogador como esse aguenta o tranco.

Só sei que o pequeno fuso-horário não foi páreo para o Neymar depois de algumas horas de sono no confortável jato. Com sua ajuda, o Santos venceu.

Naquele momento comentava com minha esposa o quanto os surfistas profissionais ralavam mais que os jogadores de futebol em viagens, principalmente quando se tratava de deslocamento para o outro lado do mundo.

Coincidentemente, durante o mundial de clubes no Japão, o próprio Santos em sua viagem, fez a escala de descanso na Europa. Lembro-me que a imprensa não parava de falar em fuso-horário, mas, em contra partida, o time tinha todo o aparato de descanso.

Mas “nêgo” reclamava, falava de cansaço e eu só pensava: estão reclamando de bucho cheio, atleta do surf rala muito mais. Mas Neymar foi apenas uma citação. E que citação, jatinho e tudo mais. Fora dos padrões normais.

De qualquer forma, já vi uauês dentro de times em viagens mais próximas, até mesmo aqui na América do Sul. Cansaço de viagem, isso e aquilo… Mas perto do surf, moleza, pois nem carregar mala, eles carregam. Apenas a mochilinha de mão.

Mas a turma do surf, se estiver indo para o Hawaii ou Indonésia, por exemplo ,apenas uma “capinha” com umas quatro, cinco pranchas de no mínimo uns 30 quilos. Fora a mala abarrotada de roupas, pois muitas vezes fora o aparato de vestimenta, tem toda a parte de acessórios para a prática do esporte.

As viagens mais longas que fiz, com certeza foram para Indonésia, mas uma em particular para as Maldivas, o retorno até João Pessoa foi “loooongo”. No documentário Fabio Fabuloso relato esta empreitada.

Partindo da capital Male, escala em Singapura e nem lembro quantas tantas conexões eu fiz pra chegar em casa. Teco Padaratz em sua primeira ida ao arquipélago, teve uma volta até mais longa que a minha, pois veio até o Brasil e embarcou para Santiago, Chile, e posteriormente Iquique, onde disputaria o WQS da Mormaii por lá.

Lembro que o bicho chegou super-hiper cansado, acho que a galera teve até de acordar ele para disputar sua bateria.

Mas para nós, a Indonésia é mesmo longe, principalmente nas antigas, quando a turma ia pra Grajagan, Nias. Depois de tantas horas de voo, chá de aeroporto e aqueles que queriam ir direto, ainda tinham que enfrentar a parafernalha de ”bimos” ou busões abarrotados de gente,animais, tralhas, etc, nas esburacadas e perigosas estradas. E isso acoplado a ferry-boats, no mesmo esquema de “conforto”.

Mas eu não posso reclamar e nem reclamo, só comento. Em meu primeiro e segundo ano de Tour juntamente com o Teco, nosso patrocinador Hang Loose tinha um acordo com uma agência de viagens que nos dava a cortesia de viajarmos muitas vezes em business e primeira classe. Êita tempo bom! Éramos felizes e não sabíamos. Quer dizer, até sabíamos. E também aproveitávamos. 

Aproveitávamos até na zuera, pois marinheiros de primeiras viagens, era até cômico quando em algumas aeronaves passávamos para a parte da frente e atletas de ponta e campeões mundiais na época como Martin Potter e Tom Carroll, passavam para a classe econômica.

Lembro que agente olhava para trás e estavam lá, os caras esticando os pescoços nos olhando. Mas de certa forma isso era bom pro surf brasileiro, pois acabava impressionando os caras.

Mas isso é “leriádo” para outra história, pois até saí do assunto. Voltando ao Neymar e seu jatinho fretado, cômico foi ver no dia seguinte ao jogo uma alusão que fizeram em um jornal local, ou seja, o atacante de jato e o rival em uma carroça.

Fábio Gouveia
Campeão brasileiro e mundial de surfe amador, duas vezes campeão brasileiro de surfe profissional e campeão do WQS em 1998. É reconhecido como um ícone do esporte no Brasil e no Mundo. Também trabalha como shaper.