Baiano cascudo

Couto é bicho solto

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Danilo Cout é o novo reforço da O’Neill. Foto: Fijian Water Shots.

Danilo Couto, baiano radicado no Hawaii, ama a chegada da temporada havaiana. Como dizem que os que fazem com amor, fazem melhor, ele sempre é destaque a cada temporada que passa – seja na remada ou no tow in.


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Ao ser perguntado se essa temporada será boa, ele responde: “Com certeza não será como no ano passado, que bombou onda grande direto, mas uma coisa é certa: em todos estes anos que passei por aqui, nenhuma temporada foi ruim”.

Com 14 temporadas havaianas, Couto já ralou muito nas mais diversas profissões pelo North Shore para se manter surfando Pipeline, Jaws, Mavericks e Waimea.

 

Big rider baiano encara tubo monstruoso em Teahupoo, Tahiti. Foto: Fred Pompermayer.

“Valeu a pena todo o esforço e experiência nos diversos trabalhos, o valor de cada gota de suor, entre contratos de patrocinios de curta duração”.

Finalista do XXL por quatro vezes, hoje ele vive o seu sonho vivendo com sua filha Tiare e esposa Laura no Hawaii, local que escolheu para morar no primeiro mês que pisou em Maui.

Indagado se volta a morar no Brasil, ele responde: “Constituí uma família por aqui, tenho muitos amigos, me dou bem com os locais, me sinto em casa, minha filha nasceu aqui e já cresce fissurada no surf, então deixo a vida me levar, vida leva eu…”.

Confira entrevista com um dos maiores ícones brasileiros do surf de ondas grandes no mundo.

Ficha técnica

Nome Danilo Dorea Couto
Idade 35
Local Salvador, Bahia
Quiver 6´1 a 10´6
Esposa e filha Laura Couto, Tiare Couto (5 anos)
Temporadas havaianas 14 (desde 96 / 97)
Sons Rock´n roll, punk, reggae, forró, música brasileira

 

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Danilo comemora aniversário em big swell em Todos os Santos, México, no último dia 23 de janeiro. Foto: Fred Pompermayer.

Muita gente espera a temporada havaiana. Mas, você foi morar no Hawaii e constituiu família. Quando e como você decidiu morar no Hawaii?
 
Cheguei aqui em dezembro de 96 para passar um mês em Maui. Minha rotina era surf e trabalho, me estabilizei, comprei meu carro e me mudei para Oahu no ano seguinte.

 

Aconteceu naturalmente, o estilo de vida “hawaiian” me agradou, o lugar é maravilhoso e estou por aqui até hoje.

Como é a TPT (Tensão Pré Temporada) para você? Pratica algum treino especifico, fora o surf, para encarar as morras do Pacífico?

 
Rapaz, não tenho isso, não (risos).Gosto de estar aqui concentrado desde os primeiros swells da temporada.

Couto despenca sem medo de ser feliz em reportagem foto publicada pela Surfer. Foto: John Bilderback.

 

Já estou por aqui desde o fim de agosto, fui a Fiji e, desde então, já tem dado ondas, então a transição é natural, isso aqui é uma máquina de onda. Tenho treinado subindo ladeira de bike, natação e yoga para complementar.
 
O Sean Collins – especialista em previsões de ondas do Surfline – disse que este ano teremos uma temporada de El Niña, que a temporada não será de ondas gigantes, mas de ondas médias e perfeitas.


Você, que é um surfista especialista em previsões, concorda? Como você acha que será esta temporada? Vamos ter um Banzai Pipeline como surfamos na temporada passada, com 15 pés sólidos vindos do terceiro reef?
 
Também li isso por ai. Com certeza não será como no ano passado, que bombou onda grande direto, mas uma coisa é certa: em todo estes anos que passei por aqui, nenhuma temporada foi ruim. Por pior que seja, dá altas ondas neste espaço de sete meses. Então, o que a natureza mandar, nós vamos aproveitar. Onda grande com certeza vai ter, e torcer também para um bom ano de Pipeline, pois a emoção ali não tem igual. E um ”swellzão” bomba daqueles…
 
Você já trabalhou duro como marceneiro e ralou forte para permanecer no Hawaii com família e tudo, para manter seu sonho de ficar onde ama. Hoje, você acabou de fechar um patrocinio mais do que merecido. Valeu a pena cada gota de suor? Hoje você está realizado?
 
Com certeza. Foram muitos anos, muita dedicação para me manter no surf de ondas grandes. “Never give up” foi a frase que esteve comigo e continua até hoje. Valeu a pena todo o esforço e experiência nos diversos trabalhos, o valor de cada gota de suor, entre contratos de patrocinios de curta duração. Aos poucos o surf no Brasil está se profissionalizando e as empresas acordando para o valor deste esporte maravilhoso e o papel importante que surfista / atleta representa neste processo. Cada geração faz sua parte e as condições vão melhorando com o passar do tempo. Minha contratação pela O´Neill é a prova disto. A marca entra no Brasil num bom momento, uma empresa forte, com uma história, time e produtos de ponta. Agora é aproveitar o momento e remar forte nesta oportunidade.

 

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Danilo mostra o caminho das à pequena filha Tiare, 5. Foto: Andrea Couto.

Existem os surfistas especializados em Pipeline, os do tow-in, os da big waves na remada e os completos como você. Como você vê isso? Se o mundo fosse acabar amanhã e tivesse que surfar somente uma onda, ela seria em Pipeline, Teahupoo, Mavericks, Waimea ou Jaws? E como vê os surfistas que só fazem tow in em ondas grandes e nunca surfaram big waves na remada?
 
Acho que cada um procura o que gosta mais. Eu gosto de maneira igual de todas as ondas citadas acima. São as melhores, maiores, mais pesadas, tubulares e perfeitas ondas do mundo. A possibilidade de em uma semana ou até três dias seguidos, conseguir surfar Pipe, Jaws e Mavericks ou Waimea, Mavericks e Todos os Santos, como fiz algumas vezes, é o mais prazeroso de tudo.

Big rider passa por dentro de tubo inesquecível em Banzai Pipeline. Foto: Pipeline Power Shots.

 

Em relação ao surfista que somente pratica o tow in e não rema quando está grande, opção de cada um. Sinto muito mais adrenalina remar numa morra. Só não vale fazer tow in onde tem gente remando…

Pretende algum dia voltar a morar no Brasil ou vai ficar velhinho surfando Sunset de gunzeira?
 
Essa é boa (risos). Amo o Brasil, meu povo. Todo ano vou ao Brasil, mas amo o Hawaii também. Constituí uma família por aqui, tenho muitos amigos, me dou bem com os locais, me sinto em casa, minha filha nasceu aqui e já cresce fissurada no surf, então deixo a vida me levar, vida leva eu…”.

E a política no mundo das big waves? Quando o circuito mundial de remada vai te colocar na lista principal dos eventos de vez?
 
Política? Da lista de convidados? Ondas grandes é algo tão especial e sagrado, um momento de sintonia com a natureza em fúria, então se sou ou não convidado para os eventos, isto é só um pequeno detalhe no universo das big waves. Tento ficar de fora da politicagem e, se for para usá-la, que seja para o bem coletivo. Apesar de não ser muito competidor, quando me convidam, vou amarradão, pois sempre o mar estará grande e a vibe entre os competidores é tão irada, apenas com amigos surfando no pico fechado. É sempre demais, sempre uma celebração. Fui convidado e estarei competindo na próxima etapa, no Oregon. Estou treinando bastante e batalharei por um bom resultado para continuar representando o Brasil neste circuito.

 

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Danilo em sua primeira sessão de tow in em Mavericks, Califórnia (EUA). Foto: Mike Kitahara.

Foi finalista do XXL quatro vezes. Achou que deveria ter levado algum desses troféus?
 
Sinceramente, acho que poderia ter levado em qualquer das ocasiões. Mas, só em ser finalista tantas vezes (2004, 2005, 2007 e 2010) já é um grande feito para mim, é uma grande satisfação pessoal, pois mostra reconhecimento mundial pelo seu trabalho e que você não está ali apenas de codjuvante no cenário das ondas grandes. Para levar o título neste evento, aí existem outros quesitos que eles levam em consideração…

Quais foram as três sessões de surf inesquecíveis na sua vida?
 
Jaws, 10 de janeiro de 2004. Foi o maior Jaws que já vi. Séries de 30 a 40 pés e surfei aquela direita gigante, finalista do XXL. A segunda foi em Pipeline, 2 de janeiro de 2007.

Baiano esbanja disposição em Mavs. Foto: Fred Pompermayer.

 

Surfei o tubo da temporada, vindo terceiro reef em um swell de 15 pés. Sem dúvida a onda da minha vida. E a terceira, em Teahupoo, Tahiti, no dia 17 de março de 2010. Ondas de 15 pés, muitos tubos profundos, baforadas, muita adrenalina, difícil de pegar no sono à noite.

Pranchas mágicas. Fale de três inesquecíveis…
 
Hotstick 8´2, shapeada por Victor Vasconcellos; Jorge Vicente 10´3, cor laranja-salmão, e uma Ricardo Martins 6´3.
 
Se um filho seu quisesse seguir os passos do pai, você apoiaria?
 
Total. Minha filha é fissurada no surf, Haleiwa girl, e estamos sempre visualizando as ondas da série. Ela é goofy footer; surfa com o pé direito na frente, e não tem muito medo de onda, não (risos)!

O que você acha do mercado do surf e da mídia do nosso mercado?
 
Aos poucos o mercado do surf no Brasil vai evoluindo, tem muita grana movimentando no surf, precisando ser mais bem dividida, atletas de alto nivel ainda sem patrocínio ou ganhando pouco. Acredito também em surfistas experientes com bagagem, trazendo detalhes da realidade do esporte para dentro das empresas, interagindo com a marca, e os atletas mais novos, como vemos muito aqui, fora. Aos poucos o empresariado vem se conscientizando e investindo no esporte em geral e também que a galera consuma estas marcas que investem no esporte no nosso país, para que tenhamos sempre uma nova geração vindo forte, com estrutura, e o surf brasileiro seja cada vez mais reconhecido, pois é um esporte muito especial.
 
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Que todos continuem surfando, levando a energia positiva para a água, harmonia e respeito no outside. Um abraço a todos que acompanham a galera que representa o Brasil pelo mundo afora. É sempre gratificante ler os comentários positivos dos internautas do Waves,o site mais surf.