Muitas águas

Caldeirão do Nexpa

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A boca do Rio Nexpa produz uma das melhores esquerdas do México central. Foto: Motaury/Alma Surf.

O local é tranqüilo e proporciona uma surf trip de primeira. Foto: Motaury/Alma Surf.

Daniel Miranda e Piu Pereira posam para a posteridade em Pascuales. Foto: Motaury/Alma Surf.

Miranda rasga sem dó as ondas mexicanas. Foto: Motaury/Alma Surf.

Piu cava com pressão em busca do lip. Foto: Motaury/Alma Surf.

O caldeirão do Nexpa pode surpreender os desavisados. Foto: Motaury/Alma Surf.

A galera checa um novo pico: El Paraíso… Foto: Motaury/Alma Surf.

Alguém ainda não entendeu o porquê do nome?. Foto: Motaury/Alma Surf.

Daniel Miranda continua cheio de estilo. Foto: Motaury/Alma Surf.

Piu no salão de visitas mexicano. Foto: Motaury/Alma Surf.

Ano retrasado fiz uma viagem incrível para o México central acompanhado de Amauri “Piu” Pereira e Daniel Miranda, dois competidores da velha geração de Santos (SP). Inicialmente fomos para Pascuales, um pequeno vilarejo colado na borda do Oceano Pacífico, com ondas melhores ainda que Puerto Escondido, também no México.

 

Após alguns dias fotografando e surfando ondas incríveis, fomos para o Rio Nexpa, um dos ícones do surf latino. Depois de horas viajando por uma estrada pra lá de sinuosa – a ponto de um dos integrantes da barca simplesmente colocar toda bílis pra fora – nos defrontamos com uma visão épica: esquerdas de mais de dois metros, simétricas, com terral e… Ninguém na água!

 

O Piu e o Daniel estavam super cansados da viagem, e resolveram dar um tempo até cair. Achei muito esquisito um lugar com vários bangalôs cheio de surfistas de várias partes do mundo e aquelas ondas sem ninguém no mar. Bom, pensei, vou aproveitar para fazer um surf sozinho enquanto não tenho que trabalhar fazendo fotos.

 

O Daniel me emprestou uma 6’4” e fui caminhando pela praia até a boca do rio. Uma galera estava entocada em cada chalé, e notei que era observado por olhos curiosos. Na minha euforia de ver aquelas linhas perfeitas, nem vi a monstruosidade do quebra-côco que se formava ao final de cada onda.

 

Literalmente o oceano se debruçava sobre a praia. Entrei na água e comecei a remar freneticamente. Não demorou muito para que a correnteza ‘à la pororoca’ me cuspisse para o referido shore-break. Nisso, entra uma série


enorme e lá estava eu naquele caldeirão borbulhante. A essa altura, já havia me ligado do porquê de ninguém ter caído: a correnteza era muito, muito forte, e as ondas do quebra-côco não eram nem um pouco convidativas.

 

Olhei para a praia e vi uma galera (aqueles mesmos que estavam dentro de suas confortáveis cabanas), provavelmente tentando adivinhar quem era o cara que caíra naquela armadilha. Todos eles sinalizavam com gestos, me orientando em como sair dali.

 

Olha, na verdade, nem sei como não quebrei a prancha do Daniel e também eu mesmo ao meio, só sei que entre uma onda e outra fui parar na praia, e mesmo assim quase não saio, pois a praia é de tombo e as ondas voltavam com tanta força, e ainda com umas pedras arredondadas fazendo um barulhão, que por pouco não fico naquele liquidificador mexicano!

 

Passado o susto e com a adrenalina circulando em todo meu corpo em taxas altíssimas, fui beber um pouco d’água e relaxar numa sombra. Meus companheiros de viagem me olharam e deram boas gargalhadas. Logo mais eram eles que abririam o mar, pegando altas ondas até escurecer e mostrando que cada um nasceu com um talento. Para minha sorte, o meu é fazer fotos.

 

Ficamos mais alguns dias naquele lugar especial, e depois de muitas horas de trabalho, e com o mar mais “surfável”, ainda peguei uma boa cota de esquerdas de sonho, marcando no meu mapa mundi mais um pontinho, nesta enorme bola de terra, ou melhor, de água: o planeta azul.

 

Na volta para Pascuales, Daniel, agora pilotando a barca, descontou sua “ira” e simplesmente bateu o recorde de tempo entre estas duas distâncias e por pouco quem não passou mal fui eu e o Piu… O caldeirão ficou por lá mesmo e tudo acabou em pizza, digo, cervejas!

 

Hasta luego hermanos…