Marcos Monteiro

Big rider de nascença

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Marcos Monteiro à vontade em Pipeline, North Shore de Oahu, Hawaii. Foto: Arquivo Pessoal.

As melhores ondas sempre produzem bons filhos. Leo Neves, Raoni Monteiro, Tais de Almeida e Marcos Monteiro hoje são os mais famosos filhos da praia de Saquarema, Rio de Janeiro.

 

Marcos, um amante das boas ondas, salva-vidas local e um dos desbravadores da Laje da Manitiba, acaba de ser o melhor brasileiro no campeonato de ondas grandes na remada realizado em Punta del Lobos, Chile, somente para convidados. Detalhe, foi sua primeira viagem internacional para competir.

 

Hoje ele vive do salário de salva-vidas. ”Posso dizer que em termos de profissao não poderia estar melhor, faço o que gosto, onde mais gosto de estar, mas para alcancar os objetivos de um atleta que necessita viajar e ter equipamentos, é necessario algo mais”, diz o big rider.

 

Marcos Monteiro em Rock Piles, North Shore de Oahu, Hawaii. Foto: Bruno Lemos / Lemosimages.com.

Depois da terceira sessão na Laje da Manitiba, onde Marcos denomina que foi o tesouro achado no quintal de casa, ele concedeu essa entrevista exclusiva para o Waves.


Como está sendo ser visualizado pela mídia, tendo seu talento apreciado pelo público e atletas?
É bem legal ser reconhecido por um trabalho feito com dedicação. Hoje em dia tenho participado de sessões de surf com caras que sempre foram meus ídolos, como o Burle, Eraldo, Mancusi, e ainda vejo meus amigos felizes por minhas conquistas. Fico muito contente e agradeço pelos que torcem por mim.
 
Você visualizava que essa onda (Laje) tinha todo esse potencial ou também ficou surpreso com o sucesso repentino?
Na verdade, quando eu surfei ali na remada, tive uma noção do que a onda poderia render, mas como eu não havia surfado num mar tão

Marcos Monteiro numa belíssima esquerda de Itaúna, Saquarema (RJ). Foto: Claudinho de Itaúna / ASS.

grande, como o da Páscoa, por exemplo, fiquei bem surpreso com o resultado. Acho que ali encontramos condições que poucos imaginavam. Num país que já não tem o surf como um esporte recente, acho que a descoberta do potencial dessa onda foi como encontrar um grande tesouro enterrado no próprio quintal de casa.
 
E o evento do Chile, qual a reação dos gringos com mais um brasileiro nas cabeças? Como ficou sabendo do evento e como está se sentindo por ter sido o melhor brasileiro?
O Brasil sempre representa quando o assunto é ondas grandes, porém eu cheguei lá como um desconhecio pelos gringos, exceto pelos brasileiros e também pelos chilenos, já que vou ao país desde 2003. Acho que por esse motivo foi uma surpresa minha atuação, ainda mais que eu não me encontrava na lista principal de convidados do evento, convite que só consegui no último momento antes do campeonato.

 

 

Marcos Monteiro no Chile. Foto: Alfredo Escobar.

Eu anviei um email ao Ramon Navarro, um grande amigo e um dos organizadores do evento, e ele me conseguiu uma vaga. Acho que o resultado foi consequência de ter chegado relaxado, pensando em surfar a onda de Punta Lobos, a primeira onda que surfei fora do Brasil.
 
O quanto uma escola como Saquarema beneficia na sua performance? Qual os maiores mares e sessões históricas que já teve em Saquá?
Temos exemplos de nordestinos que surfam ondas grandes como poucos, mas sem dúvidas morar em saquarema faz uma grande diferença. Lá posso surfar praticamente o ano todo, mantendo meu preparo físico em dia, sem falar que a costa do Rio recebe as maiores ondulações do Brasil, e o point de Itaúna segura com perfeição grandes ondulações para o padrão brasileiro.

 

Marcos Monteiro, exemplo de big rider e waterman. Foto: Claudinho de Itaúna.

Posso contar como exemplo um swell de 2006 que ondas muito grandes, calculo algo em torno de 5 metros quebravam atrás da laje de Itaúna, eram esquerdas intermináveis, muito perfeitas e que pude surfar por três dias com poucos amigos no pico.
 
Quem foram seus ídolos na adolescência e qual deles chegou a dar uma força na sua carreira?
Meu maior ídolo até hoje é um camarada pouco conhecido na geração atual do surf. Ele se chama Cláudio Rangel, um médico que tem seus 40 e poucos anos, mas que surfa em qualquer condição de ondas como poucos e fora da água tem um carater exemplar, além de ser um ídolo de 10 entre 10 surfistas de Saquarema. E o eterno Urso, que se foi mas continua presente em nossa mentes. Estes foram grandes nomes que sempre me influenciaram.
 
O quanto um bom surfista de remada como você pode se beneficiar no tow-in. Você pretende montar uma dupla de tow-in depois de se engajar à modalidade ?
O surf rebocado tá aí e não se pode negar que barreiras estão sendo quebradas a cada instante quando o assunto é onda grande e bancadas como a laje de jaconé em saquarema, que não permitem aproveitamento total da onda sem o auxílio da máquina. Não pretendo deixar de remar, mas caso haja a oportunidade de ter um jet ski pra treinar e poder competir em eventos de tow-in e ainda explorar ondas que não são surfadas eu com certeza já estou dentro dessa modalidade.
 
A última sessão apareceu na mídia e o foco foi as direitas. Como foi o dia e qual a relação de direção de swell para o ataque as ondas ali?
Alguns detalhes fizeram com que a esquerda da laje não funcionasse tão bem, como o vento e a direção um pouco mais de Sudoeste. Isso fez a direita ser explorada, não acho que nas outras sessões a direita não tava boa, apenas digo que a esquerda tava insubstituível, por isso não a exploramos, mas o mais o importante é que a onda mostrou que tem mais uma possibilidade de surf.
 
Quais seus planos agora? Pretende seguir carreira como surfista de ondas grandes? Tem patrocínios?
Sempre tive o sonho de poder conhecer lugares de ondas de qualidade, e ganhando pra isso. Porém, acho que o surf de ondas grandes no Brasil ainda está engatinhando. Encontrar um patrocínio tem sido uma tarefa muito mais difícil do que parece. Temos muitos talentos que estão ai sem qualquer tipo de apoio e fazem a coisa por puro prazer de descer boas ondas. No momento conto com um apoio da marca 900 graus, uma surf-shop da região dos Lagos, do Rio, e surfo com as pranchas do shaper Leandro Santos, local de Saquarema. É uma parceria que já dura mais de 10 anos.