Almir Salazar dá um shape em sua carreira

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Shaper desde 73, o santista Almir Salazar é uma das lendas vivas do surf brasileiro. Irmão do campeoníssimo Picuruta Salazar e do falecido Lequinho Salalzar, nessa entrevista concedida aos do site Uhul – www.uhul.com.br – Almir fala de seu trabalho e do prazer em construir pranchas.

#Quando você começou a fabricar pranchas em série?
No começo dos anos 80 o surf começou a explodir. Foi quando comecei a shapear mais pranchas em série, mais precisamente de 85 em diante. E em 87, quando a gente lançou a New Advance. Daí em diante não parei mais, já estamos em 2001 e eu devo ter feito por aí uns 15 mil shapes ou um pouco mais.

Com quem você começou a shapear?
Em meados de 74 e 75 conheci os irmãos Twin, que deram a maior força pra gente. Eles queriam patrocinar a família Salazar, e como eles fabricavam pranchas, comecei a entrar na fábrica da Twin para fazer consertos. E assim comecei a observar Dudu shapear, e vi como funcionava o esquema de fabricação de pranchas. Assim, por esforço próprio, observando e descascando pranchas, comecei a fazer pranchas.

Fale sobre a sua experiência internacional.
Em 90 recebi um convite para trabalhar em Portugal. Fui convidado pela fábrica da Pólen para trabalhar e, pela equipe Lightning Bolt do Brasil, para competir na Europa. Fiz uma média de três mil shapes em cinco anos, aproximadamente quatro pranchas por dia. Por fazer apenas quatro pranchas diárias, bem mais devagar, com mais calma e trabalhar com equipe, meu trabalho rendeu mais em qualidade, não em produtividade. Fazer muita prancha todo mundo faz, mas, fazer poucas pranchas boas, são poucos que fazem.

Durante essa época você competia na Europa?
Competia. Eu tinha patrocínio da Lightning Bolt e treinava nos finais de tarde para as competições, que rolavam nos finais de semana. Competi no circuito português e no circuito europeu. Fui por três vezes campeão em Portugal, campeão profissional, vice-campeão europeu e bi-campeão de longboard, isso em 92, 93, 94 e 95.

Quando você começou a shapear?
Em 73. Por incrível que pareça foi com uma prancha de isopor, pois naquela época tínhamos dificuldade com a expansão do poliuretano.

Como você fazia as pranchas naquela época?
Eu fazia as pranchas no fundo da minha casa, onde ficava minha oficina. O cliente chegava com uma prancha velha, eu a descascava próximo da linha do trem, pré-shapeava a prancha, laminava, pintava com essas tintas automotivas. Foi assim que comecei as fazer as minhas primeiras pranchas na minha própria oficina.

O que você acha da qualidade do trabalho dos shapers no Brasil?
O brasileiro é capaz de fazer uma prancha de qualidade, prova disso são os surfistas brasileiros que arrebentam. Só não temos uma qualidade de matéria-prima como deveria ter, pois a indústria brasileira ainda não direcionou esse lado do material para o do profissionalismo.

Qual a maior evolução atualmente em termos de prancha de surf?
Tenho acompanhado há um ano e meio o Kit Carrana, polímero e resina Epoxy. A primeira prancha de Epoxy que eu peguei me impressionou. Em peso, facilidade de manobrar, velocidade na remada, entrada na onda, projeção das manobras e no número de manobras que se pode fazer. Porque a onda no Brasil é pequena, apenas 20% das ondas que quebram são ondas grandes. Então, a prancha de Epoxy para competição está chegando e pegando. Você coloca um deck, cordinha e neoprene em cima e terá uma prancha que é um “papel” dentro d’água, faz coisas que não se faz com a de poliuretano. No princípio apareceram alguns problemas que acabaram criando um fantasma, mas estes problemas foram superados, pois agora é dado um banho final no produto, com filtro solar UV, que faz com que a prancha agüente de 60 a 80 graus centígrados. O Epoxy é uma resina nobre.

O que é o surf e o shape pra você?
Eles se unem, pois eu venho fazendo isso há muitos anos. Continuo na praia, competindo no master, no longboard, ao mesmo tempo inventando aqui na fábrica e pegando um moleque novo ali, que pode fazer com a minha prancha o que eu não faço mais, então eu junto as minhas idéias com a energia dele e coloco dentro d’água, e procuro passar o meu psicológico pra ele, para que possa melhorar mais ainda, então ele vai para o pódium e eu ganho meus clientes, trato todo mundo bem e quero que todos saiam contentes. Isso pra mim é um grande sonho que nunca vai parar.